China tenta reorientar economia de crescimento "fictício" para "genuíno" em reunião chave - analistas

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O rápido crescimento económico da China terminou e Pequim tenta agora desalavancar a economia e reorientar o investimento para setores estratégicos, apontaram analistas à Lusa nas vésperas de um encontro político que pode ditar reformas significativas.

O terceiro plenário reúne em Pequim, entre os dias 15 e 18 de julho, os 376 membros permanentes e rotativos do Comité Central do Partido Comunista, órgão dirigente composto por líderes do governo, exército e de nível provincial.

Desde 1978, este encontro ditou reformas significativas no país. O terceiro plenário do 20º Congresso ocorre num período de dados económicos negativos - deflação, crise imobiliária, níveis elevados de endividamento dos governos locais ou altas taxas de desemprego jovem -- e após uma campanha regulatória que abalou a confiança do setor privado.

A primeira vítima foi o imobiliário: em 2021, os reguladores chineses restringiram o acesso do setor ao crédito bancário, suscitando uma crise de liquidez. Uma das maiores construtoras do país, o Grupo Evergrande, colapsou. Dezenas de outros grupos estão a negociar a restruturação das suas dívidas.

Isto acarreta "grandes riscos" para a economia do país, já que o imobiliário concentra 70% da riqueza das famílias chinesas e 40% das garantias detidas pelos bancos, segundo estimativas do Citigroup Inc. O impacto sobre a riqueza das famílias reduziu também o apetite pelo consumo, num segundo golpe para o crescimento.

Alguns observadores argumentam que isto é o efeito secundário necessário na transição do país para um novo modelo de desenvolvimento, que visa impulsionar o crescimento através da inovação e da produção em setores emergentes, como as energias renováveis ou os veículos elétricos.

Michael Pettis, professor de teoria financeira na Faculdade de Gestão Guanghua, da Universidade de Pequim, defendeu que o modelo de crescimento assente no endividamento, que resultou numa profunda transformação da China, gerou também muito "crescimento fictício" e "insustentável".

"O excesso de investimento em todo o tipo de projetos de construção inflaciona o crescimento na China há vários anos", descreveu à agência Lusa.

Na visão de Xi Jinping, o líder chinês mais forte das últimas décadas, a China deve agora alcançar um crescimento "genuíno" e converter-se numa potência industrial e tecnológica de nível mundial, com uma economia assente na produção de bens com valor acrescentado e alocação eficiente de recursos. Xi pediu que o país se concentre em objetivos de longo prazo, "em vez de visar apenas riqueza material a curto prazo".

Liu Ying, investigador do Instituto Chongyang de Estudos Financeiros da Universidade Renmin da China, frisou que as reformas económicas "vão cultivar as novas forças produtivas de qualidade, que se tornaram também uma das prioridades da política económica da China, e promover um desenvolvimento de elevada qualidade".

"O roteiro de reforma da China também oferecerá ao mundo, especialmente aos países em desenvolvimento, um modelo para alcançar a sua própria modernização", defendeu o investigador.

Alguns dos planos de Pequim estão a correr de feição: a China ultrapassou, em 2023, o Japão como o maior exportador de automóveis do mundo e a transição energética a nível global depende dos painéis solares, turbinas eólicas e baterias produzidas no país.

Um estudo divulgado pelo grupo de reflexão alemão (`think tank`) Instituto Económico (IW, na sigla em alemão) indicou que os fabricantes chineses ocupam agora uma quota cada vez maior nas importações europeias de produtos industriais avançados, uma área na qual a Alemanha é tradicionalmente líder.

"Durante décadas, os produtos alemães dominaram o mercado europeu, mas os concorrentes chineses estão rapidamente a ganhar terreno", advertiu.

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