Cidade fronteiriça de Yuma dividida pela imigração, preços e cartazes vandalizados

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Cartazes que dizem "Trump Segurança, Kamala Crime" ou "Trump Preços Baixos, Kamala Preços Altos" podem ser vistos por todo o lado, numa cidade onde o muro com arame farpado que divide os países serve de moldura a campos vastos onde se cultivam alfaces. 

"Penso que é um reflexo do tom recente da política americana, dos últimos quatro ou cinco anos, que tem sido muito negativa e agressiva em todas as frentes", disse à Lusa o `mayor` da cidade, Douglas Nichols. "É definitivamente uma animosidade endurecida com a qual não estava familiarizado no passado".

`Mayor` desde 2014, o republicano citou como temas mais importantes para os eleitores do condado a inflação e a fronteira, que considerou ter sido "praticamente ignorada" pela administração de Joe Biden, da qual a candidata Kamala Harris faz parte. 

"Nunca tivemos uma reunião com o Presidente ou com a Vice-presidente. Nunca vi um deles aqui em Yuma", apontou, referindo que só tem conseguido falar com funcionários da administração. "E quando peço políticas, culpam o Congresso". 

No final do mandato de Donald Trump, disse Douglas Nichols, o setor fronteiriço de Yuma registava entre 8.000 a 9.000 imigrantes por ano. O número começou a aumentar antes mesmo da tomada de posse de Joe Biden e em pouco tempo explodiu. "Passámos de 9.000 pessoas para mais de 300 mil em dois anos", afirmou o mayor. 

A situação estabilizou a partir de junho, quando Joe Biden assinou uma ordem executiva limitando o número de pedidos de asilo por dia e colocando regras que se não forem seguidas resultam numa rejeição automática do pedido. 

"A ordem está a ser muito eficaz e é boa, mas tem de ser seguida pelo processo legal para que seja possível repatriar imediatamente as pessoas que não têm uma necessidade clara de asilo", considerou o governante da cidade. 

Numa loja onde se vendem bebidas alcoólicas e cigarros, a empregada Tina aponta para a imigração como um dos problemas que divide a cidade, mas queixa-se sobretudo da inflação. 

"A minha renda subiu muito", disse à Lusa, referindo que a situação económica é uma das principais queixas dos habitantes de Yuma. 

Apoiante de Donald Trump, Tina ressalvou que gosta dos imigrantes sazonais que passam temporadas a trabalhar no cultivo do algodão e alface, "porque é bom para o negócio". Do que não gosta é de quem atravessa ilegalmente e os recursos públicos necessários para gerir a situação. 

Sheila, reformada, tem uma visão diferente. A eleitora depositou o seu boletim de voto numa das caixas autorizadas e partilhou a forma como entende a questão da fronteira. 

"Não penso que seja um problema", afirmou. "Não penso que haja criminosos a entrar aos milhões, acho que está tudo bem", continuou. A eleitora reconheceu que a patrulha de fronteira precisa de mais ajuda e concorda com um reforço. "Precisamos de muros? Não. É o que acho".

Sem dizer o nome da pessoa que escolheu para presidente, Sheila deu indícios da sua opção: "Uma pessoa sã, alguém que é razoável, alguém que olha para todos os problemas, que os aborda com uma atitude adulta", descreveu. "Procurei alguém que apoia as ideias com que concordo". 

Não está otimista, mas sim esperançosa. E disse que esta campanha tem sido realmente contenciosa na cidade, para onde se mudou da Florida há três anos com o marido Bob para desfrutar da reforma. "A última vez que a eleição pareceu normal foi a eleição de Obama". 

No noticiário dessa noite, a estação televisiva local reportou que a polícia estava a investigar o roubo e vandalização de cartazes de apoio à campanha de Donald Trump, o que é punido por lei. O receio de retaliação ligado a cartazes explica, disse à Lusa o voluntário do partido republicano Bill Regenhardt, porque é que poucas casas têm mensagens políticas explícitas à porta. 

À entrada da Vertical Church, uma igreja com vários edifícios na parte nova de Yuma, Melissa mostrou-se pouco positiva. "Não estou otimista com o cenário", admitiu, mostrando algum receio com o que vai acontecer no rescaldo das eleições. 

Fiel da igreja, disse já ter votado por correspondência e estar pouco certa do resultado, visto que as sondagens dão empate entre os candidatos. 

Para Rick, que trabalha como segurança na Vertical Church, a escolha foi feita há muito por um motivo algo diferente. "Sou ex-militar, servi duas vezes no Afeganistão e voto em oposição à retirada que aconteceu sob o comando deste Presidente", partilhou, referindo-se à debandada de Cabul em agosto de 2021. 

"Sou muito conservador e vou votar pessoalmente", acrescentou, mostrando ceticismo quanto ao voto por correspondência. 

O `mayor` Douglas Nichols, que frisou ter confiança total nos responsáveis pelo processo eleitoral no condado, tem notado maior intensidade e interesse na campanha, mas também ele não faz previsões. "Vai ser de roer as unhas", declarou. "Acho que não vamos saber quem ganha na noite das eleições. Teremos de esperar para contar todos os votos, porque vai ser muito renhido". 

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