Cimeira dos BRICS. Putin quer mostrar que a Rússia não está isolada

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A 16.ª cimeira dos BRICS, que decorre até quinta-feira em Kazan, acontece numa altura em que Moscovo está a ganhar terreno militarmente na Ucrânia e forjou alianças estreitas com os maiores adversários dos Estados Unidos: China, Irão e Coreia do Norte.

O Kremlin vangloria-se de estar a organizar “o evento diplomático mais importante alguma vez realizado na Rússia”, um gesto de reprovação ao Ocidente destinado a demonstrar o fracasso da sua política de isolamento contra Vladimir Putin desde a ofensiva contra a Ucrânia, em fevereiro de 2022.
Kazan, a mil quilómetros da fronteira ucraniana, foi várias vezes alvo de ataques de drones ucranianos contra instalações industriais ligadas ao exército.
No centro da cidade de Kazan, nas margens do Volga, as medidas de segurança foram fortemente reforçadas, revelaram jornalistas da AFP. Os residentes estão a ser convidados a permanecer nas suas casas, noticiaram os meios de comunicação locais.

Em cima da mesa, além do conflito na Ucrânia, a escalada de tensões no Médio Oriente também deverá ser discutida, assim como o futuro desenvolvimento de um sistema de pagamento internacional para competir com o Swift, do qual a maioria dos bancos russos foi excluída após a invasão da Ucrânia.

Vladimir Putin também falará numa conferência de imprensa no final da cimeira, na quinta-feira.
"Rússia tem parceiros e aliados"Esta cimeira dos BRICS “visa mostrar que a Rússia não só está longe de estar isolada, como tem parceiros e aliados”, afirmou o analista político russo Konstantin Kalachev, à agência AFP.

Para esta reunião interna, o Kremlin considera “crucial” demonstrar que “existe uma alternativa à pressão ocidental (...) e que o mundo multipolar é uma realidade”, segundo Kalachev.


Moscovo apresenta o seu ataque à Ucrânia não como uma guerra de conquista, apesar das suas alegadas novas anexações de regiões ucranianas após a anexação da Crimeia em 2014, mas como um conflito provocado pela hegemonia americana.

Para o Ocidente e o Presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, pelo contrário, a Rússia está a tentar dominar os seus vizinhos e impor a lei do mais forte à escala internacionalO que é o BRICS?
Brasil, Rússia, Índia e China criaram o grupo BRIC em 2006, para defender uma maior representação dos países emergentes e em desenvolvimento
nas organizações internacionais. A adesão da África do Sul em 2010 acrescentou a letra S à sigla.

Até ao ano passado, o bloco era constituído pelo Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, que acolheu a 15.ª cimeira de líderes do grupo em Joanesburgo, em agosto de 2023, onde aprovou a sua expansão para seis novos países: Egito, Irão, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Argentina e Arábia Saudita.Na última cimeira, realizada no ano passado na África do Sul, o Presidente russo participou por videoconferência, no seguimento da emissão de um mandado de captura do Tribunal Penal Internacional pela deportação de crianças ucranianas, e as suas viagens ao estrangeiro estão restringidas.

Tendo em conta o grande interesse pelos BRICS, o Kremlin explicou que, para já, o grupo não aceitará mais países membros, mas apenas Estados associados.

Durante o encontro em Kazan, os líderes dos países membros deverão definir quais serão os critérios para que outras Nações façam parte do bloco como associadas.

Os membros do grupo BRICS, liderado por Rússia e China, estão a estudar a adesão de 15 países como parceiros, revelou o conselheiro do Kremlin para os assuntos internacionais, Yuri Ushakov.

"Os líderes [do BRICS] decidirão que grupo de países poderia incluir-se na categoria de Estados parceiros. Atualmente estão a considerar 15", afirmou Ushakov à agência TASS, ao comentar a agenda dos dirigentes do BRICS durante a cimeira a realizar na próxima semana, na cidade russa de Kazan.Países como a Turquia, o Azerbaijão e Cuba demonstraram oficialmente interesse em aderir ao bloco, embora outros como a Venezuela e a Nicarágua também tenham manifestado o desejo.

Vladimir Putin já tinha afirmado que cerca de 30 países tinham demonstrado interesse em aderir de uma forma ou outra aos BRICS.

No entanto, o Presidente argentino, Javier Milei, informou formalmente os líderes dos países BRICS, em dezembro passado, depois de se ter tornado chefe de Estado, que não iria aderir ao bloco.

Embora a Arábia Saudita, que estará representada na próxima cimeira, também tenha sido convidada a juntar-se ao bloco em Joanesburgo, as suas autoridades afirmam que ainda estão a ponderar a sua adesão.

Durante a reunião, o Brasil assumirá a liderança dos BRICS durante um ano, a partir de 1 de janeiro de 2025, mas o líder brasileiro vai faltar ao encontro na Rússia por impedimento de saúde. Lula da Silva participará por videoconferência, segundo a Presidência da República. A delegação brasileira será chefiada pelo chefe da diplomacia, Mauro Vieira, escreveu o seu Ministério no X.

Segundo Moscovo, mais de 20 dirigentes internacionais são esperados em Kazan.
Reuniões bilaterais A Rússia anunciou na segunda-feira um encontro na quinta-feira entre o Presidente russo, Vladimir Putin, e o secretário-geral da ONU, António Guterres, à margem da cimeira dos BRICS, a primeira dos dois dirigentes desde a invasão da Ucrânia.

No final da cimeira dos BRICS em Kazan, “haverá sete reuniões bilaterais”, incluindo “com o secretário-geral da ONU, António Guterres”, revelou Yuri Ushakov, conselheiro diplomático do Kremlin, durante uma conferência de imprensa em Moscovo.

Além de Guterres, Vladimir Putin vai manter reuniões bilaterais com vários líderes do grupo BRICS, como o Presidente chinês, Xi Jinping, e o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, bem como com outros líderes convidados para a cimeira em Kazan.

Esta terça-feira, o Presidente brasileiro, Lula da Silva, e o seu homólogo russo, Vladimir Putin, deverão manter conversações por telefone, segundo a presidência brasileira, depois de já terem falado em setembro sobre uma proposta de resolução do conflito na Ucrânia apresentada por Brasília e Pequim.

“Naturalmente, uma atividade internacional de tal magnitude não acontecerá sem reuniões bilaterais. Temos muitas planeadas, penso que não será fácil para o nosso Presidente, no entanto, ele próprio manifestou o desejo de conhecer literalmente todos os chefes de estado que se deslocam a Kazan", acrescentou Ushakov.

Segundo o Kremlin, está previsto um jantar esta terça-feira na Câmara Municipal de Kazan.

Na quarta-feira, o chefe de Estado russo encontrar-se-á com Recep Tayyip Erdogan, da Turquia - cujo país, membro da NATO, pediu para se juntar aos BRICS - e com o Presidente iraniano Massoud Pezeshkian.

c/agências

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