Cinco anos depois ainda se espera por um simples telhado na Beira

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É o caso de Alima Pedro, residente da cidade da Beira, 42 anos, que recorda a noite de 13 para 14 de março de 2019, quando o ciclone Idai espalhou destruição em terra, incluindo a sua casa, e as promessas de apoio feitas nos dias seguintes pelas autoridades nacionais e parceiros internacionais.

"Não vejo mudanças. Não vejo nenhuma diferença até hoje, casas foram destruídas, a minha também, mas não recebemos nada de apoio", desabafou Alima, que vive em condições precárias desde então.

"Continuamos a viver assim mesmo. Não mudou nada, principalmente para mim não mudou nada", lamentou.

Alima Pedro recorda que em 2019 passaram também pela sua casa, como por tantas outras, brigadas a fazer o levantamento das maiores dificuldades no terreno, o que afirma não ter passado disso mesmo.

"Andaram a registar famílias que careciam de apoio, mas, até hoje, nada. Não recebemos nada. Hoje só tenho metade da casa, porque não tem cobertura, e continuamos assim", desabafou.

O período chuvoso de 2018/2019 foi dos mais severos de que há memória em Moçambique: 714 pessoas morreram, incluindo 648 vítimas de dois ciclones (Idai e Kenneth) que se abateram sobre Moçambique.

O ciclone Idai atingiu o centro de Moçambique em março, provocou 603 mortos. A cidade da Beira, uma das principais do país, foi severamente afetada. O mesmo aconteceu com a vida de Tanica de Sousa, 41 anos, desempregada desde então.

Vive hoje de pequenos negócios de rua e também continua a aguardar pelo apoio prometido, desde logo as reclamadas chapas para voltar colocar a cobertura na casa da família, na cidade da Beira.

"Perguntaram o que era preciso, quantas chapas, mas até agora ainda não trouxeram nada, em cinco anos", afirmou. A solução tem sido algum apoio de outras pessoas para tentar juntar o suficiente para a compra, aos poucos, de cada chapa.

"Estamos com medo, quando ouvimos que a ventania está para vir novamente ficamos preocupados, porque as casas estão cansadas e não temos apoio", aponta.

Já Cartiz Canivete, de 64 anos, vive há cinco anos numa casa com teto improvisado com blocos de cimentos, depois de o ciclone ter levado o telhado, e receia que o mesmo cenário se repita.

"Não mudou nada para mim. Até agora, na minha casa, não estão pregadas as chapas porque tinham voado, então encostei com blocos para não voar, porque sempre há `zunzum` que estão para vir outros ciclones", desabafa, apreensivo.

Um cenário de atraso, nomeadamente na construção de casas, que é reconhecido pelo Gabinete de Reconstrução pós-Idai na província de Sofala. O objetivo traçado era a entrega, até setembro, de 15 mil casas a famílias vulneráveis, vítimas do ciclone, em quatro distritos da província, mas até agora só 300 foram concluídas.

"Tivemos um processo de inquérito para selecionar os 15 mil agregados. Tivemos, também, um processo longo para esclarecer as reclamações que são legítimas, porque a demanda que nós temos é superior à capacidade disponível em termos de recursos", disse à Lusa Luís Mandlate, diretor executivo do Gabinete de Reconstrução Pós-Idai.

Organizações Não-Governamentais (ONG) e agências das Nações Unidas estão a trabalhar com aquele gabinete na reconstrução das casas, mas Mandlate reconhece que é um processo que "leva o seu tempo".

"Foi um processo também logo, desde a preparação, contratação de artesãos, até podermos iniciar a primeira casa. Foi um desafio bastante grande", explicou Luís Mandlate.

Este programa de reconstrução e construção de 15 mil casas tem um financiamento do Banco Mundial de 42 milhões de dólares e está a ser concretizado nos distritos do Dondo, Búzi e Nhamatanda e Beira.

Apensar dos atrasos, Mandlate realça os esforços do Governo e parceiros internacionais na melhoria das condições de habitabilidade de milhares de famílias afetadas pelo Idai: "Para o volume de trabalho que temos de realizar, e olhando para onde estamos, é um desafio para o qual temos de encontrar respostas e estruturar, no sentido de trabalharmos até lá. Entretanto, estamos a trabalhar no sentido de maximizar a nossa produção".

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