Clube de Leitores da RTP3. Iniciativa assinala um ano com três sessões em outubro

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O Clube de Leitores da RTP3 começou em 2023 com o objetivo de levar a discussão com os autores e os seus livros aos próprios leitores. Com várias conversas ao vivo em diferentes cidades, o projeto assinala o primeiro ano de vida com três sessões especiais durante o mês de outubro.

A primeira destas sessões acontece já no próximo sábado, dia 19 de outubro, na Casa do Arco, em Óbidos, a partir das 15h00, com o colombiano Juan Gabriel Vásquez, um dos mais destacados escritores latino-americanos da atualidade, autor de livros como “Olhar para Trás”, “O Barulho das Coisas ao Cair” ou "Os Informadores".

Segue-se uma sessão a 24 de outubro, na Livraria da Travessa, em Lisboa, a partir das 18h30, com a escritora e jornalista brasileira Eliane Brum, que se mudou para Altamira, na Amazónia, uma das cidades mais violentas do Brasil.

“É lá que ela tem desenvolvido a sua carreira. Foi lá que ela fundou um órgão digital de jornalismo, o SUMAÚMA, sobre o que está a acontecer à floresta, como reina a ilegalidade na floresta amazónica, como se processa esta destruição”, resume Ana Daniela Soares, jornalista da RTP que tem dinamizado as conversas com os vários autores.

“Ela já recebeu algumas ameaças mas insiste em ficar. Vê isto como uma espécie de missão. Vai ser uma sessão certamente muito forte”, antevê.

Finalmente, a 26 de outubro, será a vez de José Eduardo Agualusa e Mia Couto. Os dois nomes grandes da literatura lusófona vão estar em Cabrela, Évora, a partir das 16h00, numa sessão que esgotou as inscrições logo depois de ter sido anunciada e que acabou por ter de se deslocar para poder receber mais público interessado.

“O espaço em que tínhamos pensado inicialmente não dava, as inscrições esgotaram na primeira meia hora. Precisávamos de um espaço maior e o patriarcado acedeu a que utilizássemos a igreja”, conta Ana Daniela Soares.
De Héctor Abad a Olga Yokarczuk
Um ano depois do lançamento desta iniciativa, a jornalista Ana Daniela Soares faz um balanço muito positivo. Considera mesmo “surpreendente” a receção que a iniciativa tem tido. “Temos conseguido ir a diferentes cidades, que era também um dos nossos objetivos: Não nos centrarmos em Lisboa, não nos centrarmos nos grandes centros. Temos conseguido”, adianta.

Em vez de um clube de leitura, este é um “clube de leitores”, reforça a jornalista.

“Conversamos com autores, escritores, personalidades que têm uma ligação forte ao mundo dos livros. São conversas com o público, onde o público também pode colocar as suas questões”
, refere Ana Daniela Dias.

As sessões têm decorrido em diversos pontos do país: em bibliotecas, livrarias, salas com fins diversos que são transformadas para acolher estes eventos ou mesmo em festivais literários.

No ano passado, a primeira sessão decorreu durante o Festival Folio, em Óbidos, “rodeados de vegetais e legumes, a conversar com Héctor Abad Faciolince”, autor do livro “Somos o Esquecimento que Seremos” e "Salvo o meu coração, Está Tudo Bem".

“Foi uma sessão muito emotiva. O Héctor Abad está a preparar um livro sobre um acontecimento trágico que viveu na Ucrânia. Ele estava com uma escritora ucraniana [Victoria Amelina] numa pizzaria que foi destruída por um míssil russo. Só não morreu porque é surdo de um ouvido e tinha pedido para trocar de lugar com ela. Se não tivesse trocado de lugar, estaria morto”, conta Ana Daniela Dias.

Mesmo antes deste ataque, em junho de 2023, Héctor Abad já tinha visto a sua vida em risco no país de origem, a Colômbia. “Teve de fugir porque começou a receber ameaças de morte. Na Ucrânia ele foi lá a convite desta escritora e dá-se esta coincidência terrível”.

Para além dessa sessão, a jornalista recorda também o Clube de Leitores em Braga, durante o festival Utopia, numa conversa com Lélia Salgado. Vencedora do prémio Gulbenkian para a Humanidade, a ambientalista tem estado comprometida com a recuperação de ecossistemas através do Instituto Terra em conjunto com o marido, o fotógrafo Sebastião Salgado.

“Foi muito emotivo ouvi-la falar deste projeto que tem tido resultados fabulosos. A água está mais limpa, já há mais plantas, mais árvores, mais animais que nem sabe de onde vieram”, relata.

E recorda também a conversa com o “grande dissecador da mente humana”, o psiquiatra português Daniel Sampaio, autor de vários livros, ou “a sessão com a Patrícia Reis sobre essa grande figura da literatura portuguesa, a Maria Teresa Horta”.

“Foi uma sessão quase dupla, falar com uma escritora sobre a vida de outra escritora”, relata. Patrícia Reis é autora da biografia de Maria Teresa Horta, “A Desobediente”, lançada em março de 2024.

Destaca, por fim, a derradeira conversa da primeira temporada, com Olga Tokarczuk, escritora polaca laureada com o prémio Nobel da Literatura em 2018.

Dessa vez, a conversa decorreu nos Açores. “Foi uma sessão muito afetiva porque, para além de termos a sessão cheia, a própria Olga se apaixonou pela Ilha Terceira. E ela fez a promessa: a ilha Terceira vai aparecer algures num livro dela, portanto temos de estar atentos”.

Ao fim de um ano, o principal objetivo da iniciativa continua a ser incentivar à discussão tendo como pretexto a literatura e também aproximar os leitores aos autores e às suas obras.

“Muitos estudantes já não chegam à faculdade – mesmo em faculdades de elite altamente seletivas – preparados para ler livros”, observava um artigo da revista norte-americana The Atlantic, publicado no início de outubro.

Em referência a este artigo, Ana Daniela Soares resume: “A nossa missão enquanto RTP é exatamente combater esta tendência e o contágio desta eventual tendência no nosso país”.

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