Comissões, falta de assinaturas, paraísos fiscais e mais comissões: a Auditoria Forense

3 meses atrás 54

O Benfica divulgou, esta sexta-feira, os resultados da Auditoria Forense, que, segundo o Relatório e Contas de setembro de 2023, já estava concluído naquela altura. Ora, segundo o extenso documento, elaborado pela empresa Ernst & Young, a SAD encarnada não foi «diretamente lesada por qualquer um dos seus representantes», porém, as mesmas conclusões, encontraram cerca de duas centenas de «irregularidades e/ou particularidades» só em 51 transferências, realizadas entre 07/08 e 22/23, com Luís Filipe Vieira como presidente. 

Antes de se olhar para as tais irregularidades e para as 51 transferências analisadas, é importante fazer um ponto prévio. Logo no arranque da auditoria, a empresa responsável escreve que todas as análises foram feitas com base apenas em documentos disponibilizados pelo próprio Benfica e que, muitas vezes, esses documentos nem eram originais, mas sim cópias. Além disso, é ainda dito que, no que diz respeito a desempenhos e avaliações dos mesmos jogadores, o auditor utilizou dados de sites externos como o transfermarket ou o zerozero.

Olhemos então para as conclusões. O documento analisa 51 transferências, explicando que, o ponto de partida era de apenas três: César Martins, Claudio Correa e Derlís González. Posteriormente, com o evoluir das suspeitas e da operação «Cartão Vermelho», chegou-se ao número 51.

Comissões marcam relatório

@SL Benfica

Nas cerca de duzentas irregularidades, a auditoria dá ênfase às estranhas comissões. Por exemplo, a auditoria aponta o caso de Pêpê Rodrigues como um dos mais «gritantes». O médio renovou em fevereiro de 2017 e essas negociações tiveram a intermediação do agente Ulisses Santos. Só que o Benfica não pagou as comissões ao empresário, mas sim à empresa US11 Lda, detida por outra entidade, uma Offshore, no Panamá. Essa comissão fixou-se nos 500 mil euros, um valor que representa 278 por cento do valor total dos ordenados que o jogador iria receber. De referir que Pêpê nunca jogou pela equipa principal. Estes cenários de comissões absurdas relativamente aos vencimentos verificaram-se também com Ronaldo Camará  (980 por cento), Jonathan Ongenda (114), Dálcio Gomes (111) e Pelé (50).

Em cima foi ainda falada a questão de uma offshore. Pois bem, segundo a auditoria, dez das empresas que se envolveram em algumas das transferências investigadas tinham sede em paraísos ficais: Dubai, Malta, Chipre e Panamá. Isto, não sendo ilegal, impossibilita a confirmação de valores, intermediários e destino de verbas.

Depois, a questão da «falta de assinaturas». Aqui, o auditor estranha que, apesar dos contratos investigados estarem registados normalmente na SAD, a maioria deles não está assinado por dois administradores, conforme exigido nos estatutos. Alguns têm apenas uma assinatura e, num caso, o contrato não tem qualquer assinatura. Nota ainda para a ligação entre os administradores da SAD que, segundo o documento, era estreita. Nenhuma das transferências e dos pagamentos era fechada sem a palavra final de Luís Filipe Vieira.

Depois, há vários casos «estranhos» e de «conflito de interesses»:

Derlis González assinou três contratos com o Benfica antes de ser contratado (auditor assume que não encontrou justificação para tal) e o empresário uma comissão fixada nos 34 por cento de comissão do valor total, quando a FIFA recomenda apenas 10 por cento.  Cláudio Correa, já retirado com 31 anos, foi comprado em 2012 por 600 mil euros e vendido, poucos meses depois, por 520 mil euros a uma offshore, da qual não são conhecidos acionistas.  O negócio de Anderson Talisca foi intermediado por Bruno Macedo (arguido no processo Cartão Vermelho) que era, à altura, gerente da promotora imobiliária Promotav. Esta imobiliária era detida em 50 por cento por Luís Filipe Vieira, através de outras empresas, a Inland e Votion. O negócio de Nuno Santos, contratado a custo zero em 2013, também teve a Bruno Macedo envolvido. A contratação de Yoni González, livre em 2019, teve a ação de dois empresários, «Bruno André Carvalho, em representação da Team of Future Lda e da Benfica SAD e o agente João Pedro Carvalho dos Santos, em representação da Prime Sports Rights Limited e do jogador Yony Copete [González]». Ora, este dois empresários eram sócios nesta segunda empresa.

Há muitas outras situações passíveis de serem referidas, mas regem-se todas por este tipo de moldes. Para finalizar, convém dizer que a Ernst & Young garante que, no meio disto tudo, entre compras e vendas, o Benfica não só «não foi lesado», como ainda fez um lucro de 97 milhões. Veremos o que diz o Ministério Público.

Nota ainda para o facto de Rui Costa só ter sido referido uma vez, quando o auditor escreve que «partilhou o relatório» com o dirigente.

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