Comissões, falta de assinaturas, paraísos fiscais e mais comissões: a Auditoria Forense ao Benfica

3 meses atrás 85

O Benfica divulgou, esta sexta-feira, os resultados da Auditoria Forense, que, segundo Relatório e Contas de setembro de 2023, já estava concluída naquela altura. Ora, segundo o extenso documento, elaborado pela empresa Ernst & Young, a SAD encarnada não foi «diretamente lesada por qualquer um dos seus representantes», porém, as mesmas conclusões, encontraram cerca de duas centenas de «irregularidades e/ou particularidades» só em 51 transferências, realizadas entre 07/08 e 22/23, com Luís Filipe Vieira como presidente. 

Antes de se olhar para as tais irregularidades e para as 51 transferências analisadas, é importante fazer um ponto prévio. Logo no arranque da auditoria, a empresa responsável escreve que todas as análises foram feitas com base apenas em documentos disponibilizados pelo próprio Benfica e que, muitas vezes, esses documentos nem eram originais, mas sim cópias. Além disso, é ainda dito que, no que diz respeito a desempenhos e avaliações dos mesmos jogadores, o auditor utilizou dados de sites externos como transfermarket ou o zerozero.

Olhando então para as conclusões. O documento analisa 51 transferências, explicando que, o ponto de partida era de apenas três: César Martins, Claudio Correa e Derlís González. Posteriormente, com o evoluir das suspeitas e da operação «Cartão Vermelho», chegou-se ao número 51.

Comissões marcam relatório

@SL Benfica

Nas cerca de duzentas de irregularidades, a auditoria dá ênfase às estranhas comissões. Por exemplo, a auditoria aponta o caso de Pêpê Rodrigues como um dos mais «gritantes». O médio renovou em fevereiro de 2017 e essas negociações tiveram a intermediação do agente Ulisses Santos. Só que o Benfica não pagou a comissões ao empresário, mas sim à empresa US11 Lda, detida por outra entidade, uma Offshore, no Panamá. Essa comissão fixou-se nos 500 mil euros, um valor que representa 278 por cento do valor total dos ordenados do jogador iria receber. De referir que Pêpê nunca jogou pela equipa principal. Estes cenários de comissões absurdas relativamente aos vencimentos verificaram-se também com Ronaldo Camará  (980 por cento), Jonathan Ongenda (114), Dálcio Gomes (111), Pelé (50).

Em cima foi ainda falada da questão de uma offshore. Pois bem, segundo a auditoria, dez das empresas que se envolveram em algumas das transferências investigadas tinham sede em paraísos ficais: no Dubai, Malta, Chipre e Panamá. Isto, não sendo ilegal, impossibilita a confirmação de valores, intermediários e destino de verbas.

Depois, a questão da «falta de assinaturas«. Aqui, o auditor estranha que, apesar dos contratos investigados estarem registados normalmente na SAD, a maioria deles não está assinado por dois administradores, conforme exigido nos estatutos. Alguns têm apenas uma assinatura e, num caso, o contrato não tem qualquer assinatura. Nota ainda para a ligação entre os administradores da SAD que, segundo o documento, era estreita. Nenhuma das transferências e dos pagamentos era fechada sem a palavra final de Luís Filipe Vieira.

Depois, há vários casos «estranhos» e de «conflito de interesses»:

Derlis González assinou três contratos com o Benfica antes de ser contratado (auditor assume que não encontrou justificação para tal) e o empresário uma comissão fixada nos 34 por cento de comissão do valor total, quando a FIFA recomenda apenas 10%.  Cláudio Correa, já retirado com 31 anos, foi comprado em 2012 por 600 mil euros e vendido, poucos meses depois, por 520 mil euros a uma offshore, da qual não são conhecidos acionistas.  O negócio de Anderson Talisca foi intermediado por Bruno Macedo (arguido no processo Cartão Vermelho) que era, à altura, gerente da promotora imobiliária Promotav. Esta imobiliária era detida em 50% por Luís Filipe Vieira, através de outras empresas, a Inland e Votion. O negócio de Nuno Santos Santos, contratado a custo zero em 2013, também teve a Bruno Macedo envolvido. A contratação de Yoni González, livre em 2019, teve a ação de dois empresários, «Bruno André Carvalho, em representação da Team of Future Lda e da Benfica SAD e o agente João Pedro Carvalho dos Santos, em representação da Prime Sports Rights Limited e do jogador Yony Copete [González]». Ora, este dois empresários eram sócios nesta segunda empresa. Jonas chegou ao Benfica a custo zero, mas a sua contratação e renovações renderam seis milhões em comissões às empresas  Empreseprev e Golfamily. Estas entidades são geridas por um irmão, pela mão e pelo pai do antigo avançado, algo que não é permitido pelos regulamentos da FPF. Andrija Zivkovic também  chegou a custo, mas o pai do jogador recebeu cinco milhões de euros, à imagem do que aconteceu com Jonas. Aqui, para além da comissão a um familiar, é referido o facto de o pai do jogador, Jovica Zivkovic ter recebido o dinheiro através da empresa Zile Football Management, criada oito dias antes da operação.

Haveriam muitas outras situações passíveis de serem referidas, mas regem-se todas por este tipo de moldes. Para finalizar, convém dizer que a Ernst & Young garante que, no meio disto tudo, entre compras e vendas, o Benfica não só «não foi lesado», com ainda fez um lucro de 97 milhões. Veremos o que diz o Ministério Público. Nota ainda para o facto de Rui Costa só ter sido referido uma vez, quando o auditor escreve que «partilhou o relatório» com o dirigente.

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