Como era diferente o mercado automóvel em Portugal em 1974

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Viajamos no tempo para redescobrir como era o mercado e o automóvel em Portugal em 1974, o ano da Revolução dos Cravos. Viaje connosco.

Já passaram 50 anos sobre o 25 de Abril. É um momento de celebração, mas também de reflexão, que nos motiva a viajar no tempo para descobrir um Portugal que era muito diferente daquele que temos hoje.

E diferente a vários níveis, fosse como sociedade, fosse como economia e, claro, estando a ler a Razão Automóvel, Portugal era nos anos 70 um país também muito diferente em termos automobilísticos.

Não se falava de eletrificação e Diesel era, sobretudo, para carros de trabalho. SUV era um conceito ainda por inventar. E em relação à segurança? Bem, os cintos de segurança dianteiros já eram comuns, mas não de uso obrigatório… e pouco ou nada havia mais que isso.

1974 não foi apenas o ano da Revolução dos Cravos. Foi também o ano que viu nascer o Volkswagen Golf, que também iria revolucionar o segmento dos pequenos familiares.

A indústria automóvel mundial passava por um momento difícil, ainda a lidar com as consequências da crise petrolífera de 1973. Imaginava-se um futuro com carros mais compactos e de apetite não tão voraz pelo ouro negro. Um futuro que acabaria por chegar em força nos anos seguintes.

O mercado automóvel nacional em 1974

Apesar da crise petrolífera, que provocaria uma recessão económica, o mercado automóvel em Portugal estava mais pujante que nunca. Nos anos 70 continuaria a crescer até 1974. Só nos anos seguintes passaria por um período mais conturbado.

Em 1974, foram matriculados mais de 105 mil automóveis ligeiros (Fonte: Pordata), dos quais 88 mil eram novos. Compare-se com o ano passado (2023) em que foram vendidos praticamente 200 mil ligeiros novos.

Os protagonistas eram muito diferentes. Se hoje são os franceses da Peugeot e Renault que dominam os lugares cimeiros das vendas nacionais, em 1974 era a italiana Fiat que detinha uma liderança confortável graças ao enorme sucesso que foi o 127, lançado em 1971.

Talvez mais surpreendente fossem os restantes ocupantes no pódio, os japoneses da Toyota e Datsun (a Nissan que conhecemos hoje), graças ao elevado sucesso dos Corolla e 1200, respetivamente. Recorde que a Toyota, por exemplo, só tinha chegado a Portugal, pela Salvador Caetano, nem sequer 10 anos antes, em 1968.

No entanto, os modelos franceses, alemães e britânicos eram igualmente muito populares em Portugal. A Citroën tinha o 2CV — que foi produzido em Mangualde —, e o Dyane; a Peugeot o 204 e o 504 — este último conhecido pela sua robustez e das principais escolhas para carro de família ou táxi —; e a Renault tinha a incontornável 4L e o 5, que estão a ser recuperados como pontas de lança da marca para a mobilidade elétrica do séc. XXI. Quem diria?

A Ford foi, em 1974, a quarta marca mais vendida, graças ao sucesso de modelos como o Escort e o Cortina — o popular Fiesta só seria lançado em 1976. A Volkswagen, nestes anos, era sinónimo de Carocha e “Pão de Forma”, sendo das visões mais populares nas estradas portuguesas. O Golf só foi conhecido, precisamente, em 1974… e nada seria como antes entre os familiares compactos. Os Opel Kadett e Rekord também estavam entre os mais bem sucedidos neste período.

MINI MK3 e MINI ClubmanAs diferentes caras do Mini original nos anos 70.

Do lado dos britânicos, o pequeno e icónico Mini concentrava todas as atenções. Na altura era vendido em Portugal como Morris e como Austin. Houve mais marcas a vendê-lo (noutros mercados) e conheceu ainda mais designações. Caso juntássemos as vendas das duas marcas, percebia-se rapidamente que era um dos modelos mais vendidos em Portugal e a razão pela qual se via tantos.

Já se produziam muitos automóveis em Portugal

Em 1974 também já se produziam e montavam automóveis em Portugal, fosse em Mangualde, Ovar ou Azambuja (entre outros), para construtores tão diversos como a Citroën, Renault, Fiat, Toyota ou Ford. No total, sairam das fábricas portuguesas 100 mil unidades em 1974. Após a Revolução dos Cravos esse volume continuaria a subir até ao final da década, chegando às 140 mil unidades.

inauguração fábrica do Tramagal 1964© Mitsubishi Fábrica do Tramagal durante a sua inauguração em 1964.

Hoje produzimos mais automóveis que nunca: em 2023 foram produzidos mais de 318 mil unidades, muito por «culpa» do colosso que é a Autoeuropa, a fábrica da Volkswagen em Palmela, que produz o T-Roc. Mangualde produz hoje veículos comerciais para várias marcas da Stellantis, a fábrica do Tramagal continua a produzir veículos pesados para a FUSO e Ovar dedica-se à produção do eterno Land Cruiser 70 com destino exclusivo à exportação.

Não podíamos terminar sem fazer uma menção à competição automóvel que se vivia nestes anos em Portugal. O Autódromo do Estoril ainda cheirava a novo — foi inaugurado em 1972 —, e acolhia o troféu Datsun 1200 (o primeiro troféu monomarca no país). O evento automobilístico do ano, no entanto, era o Rally de Portugal, algo que continua ser verdade hoje, em 2024:

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