Comuns digitais

3 meses atrás 99

O aparecimento da Internet, em 1969, revolucionou e prometeu uma construção social tecnológica e interativa baseada em princípios de colaboração, comunicação plural, diversa e democrática. No entanto, com a chegada das tecnologias móveis e o armazenamento em nuvem, que disponibilizam um grande conjunto de dados, apenas um grupo limitado de beneficiários pode apropriar-se de recursos comuns para ganhos próprios.

Estas novas dinâmicas de poder e controlo sobre a informação são agravadas, agora, com o aparecimento da inteligência artificial (IA). Uma situação que tem exigido uma reflexão sobre a integração tecnológica guiada por princípios éticos e de justiça social, para evitar a ampliação das desigualdades e a concentração de poder, sendo possível através da administração democrática de recursos públicos em setores sociais essenciais.

Para a economista Elinor Ostrom, Prémio Nobel da Economia em 2009, o caminho é a governação de recursos comuns digitais, pois abrem novas possibilidades para a gestão coletiva e colaborativa no contexto urbano, garantindo que as comunidades possam gerir os recursos de forma equitativa e sustentável.

Os denominados comuns digitais incluem recursos como dados abertos, plataformas de software de código aberto e redes de comunicação comunitária, para que os cidadãos possam envolver-se em projetos alternativos que incentivam o crescimento de inovações digitais sociais, através de uma aposta em ecossistemas de inovação.

O projeto Sharing City, Seul, é um exemplo de como os serviços públicos partilhados, como parte de um programa de inovação social, podem criar oportunidades económicas, envolver os cidadãos na redução da produção de resíduos e enfrentar problemas sociais e ambientais.

Neste contexto, a IA tem um potencial transformador para a governança coletiva das cidades. Com um ambiente urbano cada vez mais complexo, a IA pode facilitar a coordenação e a administração dos comuns digitais, através de processos colaborativos transparentes e assegurar um governança urbana que beneficia todos.

A interseção entre comuns digitais, governança coletiva e inteligência artificial oferece uma oportunidade única para a Intelligens, do arquiteto Carlo Ratti, que evoca o futuro da inteligência inclusiva, múltipla e imaginativa.

Inspirados em Elinor Ostrom e Carlo Ratti, podemos construir um compromisso de futuro onde a tecnologia e a colaboração comunitária se unem para criar espaços urbanos mais criativos e justos para todos.

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