“Ficámos surpreendidos ao saber que Waters vinha atuar no nosso país e ainda mais surpreendidos quando descobrimos que iria atuar num pavilhão que é patrocinado por um judeu israelita”, disse um membro da comunidade judaica em Portugal ao Jerusalem Post.O Altice Arena é um dos maiores pavilhões de espetáculos europeus e o maior de Portugal, com capacidade para receber 20 mil pessoas.
Um porta-voz do empresário Patrick Drahi, fundador e presidente do grupo Altice, declarou entretanto ao mesmo jornal que a empresa é efetivamente a patrocinadora do pavilhão, mas “não tem controlo sobre a programação nem os artistas que lá atuam”.
“Assim que a Altice teve conhecimento da programação, entrou em contacto com os donos da sala de concertos para saber se era possível cancelá-los, mas disseram que era demasiado tarde, já que os bilhetes tinham esgotado”.
Segundo o porta-voz, os contratos em vigor entre as duas partes “não permitem que a Altice intervenha”. “Obviamente, o fundador [Patrick Drahi] não se revê neste evento e lamenta profundamente a sua realização”.
Comunidade judaica convida Waters a visitar Museu do Holocausto
Num comunicado divulgado terça-feira, a Comunidade Judaica do Porto (CJP) disse “lamentar a presença de Roger Waters em Portugal”, convidando o artista a visitar o Museu do Holocausto do Porto.
“A perseguição aos judeus ao longo de milénios, baseada em ideais religiosos, culturais, raciais e monetários, é representada no período moderno pelo desdenhável ódio do Estado de Israel. E continua a atrair apoiantes de todos os segmentos da sociedade”, lamenta a CJP.
Para os representantes da comunidade judaica, “Roger Waters sabe que possui uma grande influência sobre os seus fãs e que as suas ideias em relação a Israel podem dar munições a multidões que não hesitarão em usá-las”.
“O silêncio do Ocidente em relação ao movimento BDS, que defende o isolamento económico, político, académico e cultural do Estado de Israel, anda de mãos dadas com o antissemitismo soviético dedicado a destruir todas as realidades judaicas verdadeiramente relevantes na diáspora”, acrescenta o comunicado.Patrick Drahi é um dos mais ricos cidadãos israelitas, segundo o Jerusalem Post, detendo o canal i24NEWS e outras empresas da área da comunicação. Em 2017 foi-lhe atribuída cidadania portuguesa, depois de ter provado ser descendente de judeus sefarditas.
Em 2013, foi lançado num concerto de Roger Waters na Bélgica um balão gigante em forma de porco com uma estrela de David e símbolos de regimes ditatoriais estampados. O ex-baixista dos Pink Floyd chegou também a comparar o tratamento da Palestina por Israel à Alemanha nazi.
O artista considerou recentemente que Israel está a provocar deliberadamente os palestinianos para fabricar uma desculpa para os destruir.
“Os israelitas estão a levar a cabo uma política de assassinar tantos palestinianos que parecem estar a tentar criar outra intifada [insurreição de palestinianos contra israelitas], para que possam transformá-la em um conflito armado e matar todos eles” disse em outubro passado.
Em 2019, o músico escreveu ao cantor português Conan Osíris, pedindo-lhe que não participasse no festival da Eurovisão em Israel e sublinhando a oportunidade para mostrar solidariedade para com os “palestinianos oprimidos”.