Convenção democrata. Kamala Harris recebida com protestos em Chicago

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Uma coligação abrangente, denominado Marcha sobre a DNC, que junta mais de 200 organizações e que organizou o protesto, espera a participação de pelo menos 20 mil pessoas quando soarem as 18h00 GMT.

A manifestação principal, que irá dar palco a oradores de grupos de ativistas por diversas causas, incluindo pró-aborto e por justiça racial, deverá ter lugar num parque, junto à arena onde decorrerá a DNC. Segunda-feira decorriam ainda negociações entre os organizadores da Marcha e as autoridades, quanto à expansão do percurso do protesto e outras questões logísticas.

Em toda a cidade, lojistas e empresas encerraram as portas e barricaram as montras, com receio de descatos e da possibilidade de violência. A comparação com a convenção de 1968, onde a polícia e os manifestantes anti-guerra do Vietname entraram em confronto violento em direto na televisão, tem sido recorrente, com os tribunais distritais a prometer abrir mais espaços em caso de detenções em massa.

Foram erguidas várias barreiras em torno do local da convenção e encerradas à circulação há vários dias múltiplas avenidas e ruas em torno do United Center, onde vai decorrer a DNC, e do icónico centro de convenções, McCormick Place, assim como múltiplas áreas da baixa da cidade, que está praticamente deserta.

Sábado, as autoridades de Chicago anunciaram abruptamente o encerramento de outras ruas, em torno da Michigan Avenue, citando "atividade DNC". Alguns protestos decorreram já no domingo, tendo sido detidas duas pessoas.

Hatem Abudayyeh, o porta voz da Marcha, afirmou à Agência Reuters que o grupo tem a sua própria segurança, a reforçar a forte presença da políca de Chicago e dos serviços secretos norte-americanos, frisando que não antecipa atos de violência.

A polícia deverá contudo deixar falar os intervenientes, alertou. "Essa é a sua única tarefa. Não precisamos que nos mantenham em segurança. Não precisamos deles para nos protegerem, apenas que não violem os nossos direitos", afirmou Abudayyeh, já esta segunda-feira.
"Não contem com o nosso voto"
Apesar da coligação Marcha sobre a DNC incluir diversos grupos com uma série de causas, o protesto mais significativo deverá ser o dos manifestantes própalestinanos, que denunciam a política da Administração Biden-Harris quanto à guerra de Gaza.

A área urbana de Chicago tem uma das maiores comunidades palestinianas do país, conhecida como Pequena Palestina. Autocarros têm também transportado ativistas de todo o país para a cidade. Na semana passada, os organizadores da Marcha referiam que muitos manifestantes viriam das comunidades árabes e palestinianas do Illinois e de Estados vizinhos.

São esperados ainda estudantes que durante meses lançaram o caos em váriso campus universitários de todo o país em apoio à causa palestiniana.

Na Pequena Palestina, os habitantes garantem que Kamala Harris não terá o seu voto.

Bridgeview, a vinte quilómetros de Chicago, está abundantemente decorada com bandeiras palestinianas e cartazes, escritos nas línguas árabe e inglesa, contra a guerra em Gaza, que conta já 10 meses depois do ataque mortífero do Hamas a Israel a 7 de outubro de 2023.

Nestas ruas, o presidente e a vice-presidente e candidata democrata às próximas eleições de novembro, são personas non gratas pelo seu apoio, incluindo militar, a Israel.

"O que vos posso garantir é que as pessoas estão furiosas com o Joe Biden e a Kamala Harris. Eles não são bem-vindos aqui", afirma Ali Ibrahim, de cerca de 20 anos, ouvido pela France Press. "Este ano não contam com o nosso voto e não queremos que sejam eleitos, porque o que se passa está errados e nós não iremos tolerar isso", acrescenta.

Ibrahim acredita que os norte-americanos poderiam ter imposto um cessar-fogo em Gaza "há muito tempo".

Nestas casas quase todos os habitantes sentem de perto a tragédia que se desenrola no enclave administrado pelo grupo islamita palestiniano Hamas, considerado terrorista pelos Estados Unidos. Souzan Naser, professora e membro da association propalestiniana USPCN, diz ter uma aluna que, só ela, perdeu 35 membros da família.

Sentem-se traídos pela atual Administração, que ajudaram a eleger há quatro anos. E a retirada de Biden da corrida presidencial e a sua substituição por Kamala Harris, que prometeu "não ficar em silêncio" perante o sofrimento palestiniano, não muda nada.

"Ela fez o suficente? Não. Fa-lo-á? É o que esperamos", reage um proprietário de um restaurante palestinano, exigindo ações mais do que promessas, incluindo um cessar-fogo permanente, o fim da ajuda norte-americana a Israel e um embargo de armas. Um cenário pouco provável.
O busílis da DNC

A resposta de Kamala Harris aos ativistas é alertar para os riscos da abstenção, que pode favorecer o seu rival republicano, Donald Trump.

Numa ação de campanha, incomodada por ativistas propalestinanos com gritos "não votaremos a favor do genocídio!", a vice-presidente foi seca. "Se querem que Donald Trump ganhe, continuem a dizer isso", respondeu. "Senão, sou eu que falo".


Mas os eleitores da Pequena Palestina já avisaram que, se o Partido Democrata não mudar radicalmente a sua política no Médio Oriente, em novembro não poderá contar com eles.

"Não podem esperar que votemos em vocês quando os vossos valores, as vossas políticas e os vossos princ~ipios não corrrespodem aos nosso", assevera Naser.

Uma nova presidência Trump seria um "desastre", reconhece. "Mas recusamos assumir a responsabilidade", acresecenta, devolvendo-a aos democratas. "Demos-vos o tempo suficiente para alterar a estratégia e vocês continuam a insistir".


Domingo à noite, um grupo de cerca de mil propalestinianos marchou pelas ruas da baixa de Chicago, entoando "encerrem a DNC".

"Os democratas estão no poder", reagiu Abudayyeh. "É a guerra deles. São responsáveis por ela, são cúmplices e podem pará-la".

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