Convenção republicana revela um Donald Trump (quase) estadista

2 meses atrás 63

Para surpresa geral, o discurso em que Trump aceitou ser candidato às presidenciais foi desta vez sussurrado em vez de gritado. E o republicano diz querer ser o presidente de toda a América e não apenas de metade dela.

Former U.S. President Donald Trump gestures during an event following his arraignment on classified document charges, at Trump National Golf Club, in Bedminster, New Jersey, U.S., June 13, 2023. REUTERS/Amr Alfiky

Surpreendentemente sereno – como que quisesse passar a mensagem de que o caminho até à Casa Branca já não tem de ser desbravado pela força dos arietes – Donald Trump aceitou a nomeação para ser candidato republicano à presidência dos Estados Unidos, concentrando-se na ideia de que vai ser “o presidente de todos os americanos e não apenas de metade”.

Tendo por trás de si painéis imensos que iam passando as imagens da sua ‘via sacra’ – o atentado de há uma semana – Trump desviou-se dos discursos combativos que se tornaram uma imagem de marca e optou por um tom quase conciliador para prometer mais quatro anos de “uma América grande” e ao leme dos destinos globais – de onde foi retirada, disse, pela falta de eficácia da administração democrata. Não se esqueceu de referir aquilo que é impossível de comprovar – “comigo, a guerra na Ucrânia nunca teria existido” – e voltou a prometer brevidade na resolução desse conflito, do conflito na Palestina ou qualquer outro, dado que Trump vai assumir, disse, o controlo desse leme.

Explorou, mas não até à exaustão, o atentado: “não devia estar aqui esta noite”, disse à multidão a seus pés prostrada no Fiserv Forum, mas sempre num tom moderado, quase de sussurro cúmplice. Ensaiou assim, pareceu, uma postura de estadista que não costuma ser a sua caraterística mais evidente e que misturou com a sorte dos ungidos: “estou diante de vocês nesta arena apenas pela graça de Deus todo-poderoso”.

Numa intervenção que durou cerca de 90 minutos – constantemente interrompida pelo grito “fight, fight, fight” – que entrou no léxico político norte-americano cinco segundos depois de ter escapado ao atentado – Donald Trump ainda tratou de encenar uma espécie de homenagem ao uniforme de Corey Comperatore, o bombeiro que foi morto enquanto protegia a sua família durante o tiroteio.

De regresso ao real, Trump atacou os democratas pelos inúmeros casos criminais que enfrenta: “o Partido Democrata deveria parar imediatamente de armar o sistema de justiça e rotular os seus adversários políticos como inimigos da democracia, especialmente porque isso não é verdade”, disse. “Se os democratas querem unificar o nosso país, devem abandonar essa caça às bruxas partidária.” Até porque, não se esqueceu de dizer, se há na federação alguém que possa assumir a garantia da perpetuação da democracia, é ele. Ele que sabe que os resultados das eleições de 2020 foram uma falácia: “nunca mais vamos deixar isso acontecer. Usaram a Covid para enganar.”

Em termos concretos, Trump prometeu reduzir a inflação, “acabar com todas as crises internacionais”, devolver os postos de trabalho norte-americanos aos norte-americanos – retirando-os das mãos de uma imigração (uma falsidade estatística) que, disse, é um dos maiores males do país – e lançar a América num caminho de prosperidade económica nunca antes vista sob o controlo dos democratas.

Ler artigo completo