A Conferência das Nações Unidas sobre Biodiversidade (COP16) aprovou hoje de madrugada, por consenso, o reconhecimento da contribuição dos povos indígenas e das comunidades locais para o cuidado e a preservação da biodiversidade.
A aprovação ocorreu no último minuto da COP16, em Cali, e implica "a criação de um novo órgão subsidiário para o Artigo 8J" do Quadro Global de Biodiversidade de Kunming-Montreal, de acordo com o Ministério dos Negócios Estrangeiros da Colômbia.
"Histórico! Chegámos por consenso a um grande acordo em torno do Artigo 8J com três grandes conquistas na COP16 Colômbia", escreveu a ministra do Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Colômbia, Susana Muhamad, presidente da reunião, na sua conta na rede social X.
Na conferência sobre biodiversidade COP16, realizada na Colômbia, o plenário adotou a criação de um grupo permanente destinado a assegurar a representação dos povos indígenas e das comunidades locais na Convenção das Nações Unidas sobre a Diversidade Biológica (CDB).
Os representantes destes povos, vestidos com trajes e toucados tradicionais, começaram a aplaudir e a cantar de alegria à medida que vários textos sobre o assunto eram adotados.
Este foi o primeiro grande avanço da COP16, que teve início em Cali em 21 de outubro e se prolongou pela noite de sexta-feira para sábado, devido a um braço de ferro sobre o financiamento dos esforços da humanidade para deixar de destruir a natureza.
"Este é um momento sem precedentes na história dos acordos multilaterais sobre o ambiente", afirmou Camila Romero, representante do povo quechua do Chile, que se regozijava com o facto de o acordo ter sido assinado em Cali.
Os 196 países-membros da CDB "reconheceram a necessidade constante da nossa participação plena e efetiva, dos nossos conhecimentos e inovações, da nossa tecnologia e das nossas práticas tradicionais", acrescentou.
Na quinta-feira, a Rússia e a Indonésia bloquearam a adoção deste texto há muito aguardado no final da cimeira, que se realiza num dos nove países que cobrem a Amazónia.
Para o representante da República Centro-Africana, "os povos indígenas serão os primeiros a fazer as pazes com a natureza", o objetivo do acordo de Kunming-Montreal adotado na COP15 em 2022.
No dia 26 de outubro, povos do Brasil, Colômbia, Peru, Bolívia, Equador, Venezuela, Guiana, Guiana Francesa e Suriname lançaram em Cali o "G9 da Amazónia Indígena", com o objetivo de ter "uma voz unificada para influenciar as decisões globais".
Os povos indígenas são "os guardiões da natureza", "na linha da frente da crise da biodiversidade", e a sua inclusão pode "gerar um diálogo mais equitativo" sobre o assunto, disse à AFP a presidente da COP16, Susana Muhamad, ministra do Ambiente da Colômbia.