Há quatro meses longe da ribalta, António Oliveira aproveitou o momento para analisar a passagem pelo Corinthians e espreitar o futuro. Aos 42 anos, o treinador português – filho de Toni – guarda planos para continuar pelo Brasil, onde já orientou Athletico Paranaense, Cuiabá e Corinthians.
Em conversa na «Zona Mista» da UOL, António Oliveira começou por recordar os dois anos vividos no Cuiabá.
«Manter o Cuiabá no Brasileirão em 2022, com 52 pontos, e chegar à Sul-Americana é equivalente à conquista da Libertadores ou do campeonato. Temos de perceber a dimensão dos clubes onde estamos e perceber que estes objetivos são títulos para nós.»
«Esses dois anos foram muito felizes, ver crescer um clube muito pequeno, é um legado. É fundamental deixar um legado», começou por analisar.
Em 2024, o treinador português assumiu as rédeas do Corinthians, conseguindo 12 vitórias em 29 partidas.
«A Liga brasileira é das mais difíceis do mundo, talvez o sexto ou sétimo melhor campeonato. As equipas contam com maiores investimentos, para além da pressão externa.»
«O Corinthians é outra dimensão, respeitando todos os clubes onde estive percebemos a dimensão do Corinthians, a par de outros como o Flamengo, o São Paulo, o Palmeiras, por exemplo.»
«Foi o realizar de um sonho projetado, mas os sonhos vão-se criando. Dei tudo de mim, sei o que eu fiz e como fiz alicerçado em valores e regras. E sabia aquilo que estava a desenvolver», narrou.
Questionado sobre o percurso pelo «Timão», António Oliveira recordou a exigência da primeira metade da época.
«Sempre falei de um período de sobrevivência, do caminho das pedras, mesmo quando ganhámos. Fizemos a segunda melhor campanha na Sul-Americana, com apenas dois golos sofridos, e continuámos na Taça do Brasil.»
«Pedi a contratação do Dyverson [então no Cuiabá] e ele queria ir para o Corinthians. Tinha a promessa de reforços. Mas, estou extremamente grato aos jogadores pelo que fizeram, em condições difíceis, não é fácil viver num clube com instabilidade e uma gestão nova. O próprio presidente teve de conhecer a casa», relatou.
Por isso, António Oliveira garante que não guarda ressentimentos pelo fim de ciclo no Corinthians.
«Não saí magoado com o presidente Augusto Melo. Ele fez o seu trabalho. E quem é que paga? O treinador. Mas não aponto o dedo. O que ele fez foi para salvar a pele dele e é nessas alturas que temos de ser mais firmes.»
«Hoje o Corinthians tem uma equipa nova, não vale a pena dizer que faria melhor ou pior. O Corinthians é uma página bonita da minha vida que já é passado.
«O Corinthians não vai descer [para a série B], é demasiado grande para cair», reiterou.
Questionado sobre o interesse do Atlético Mineiro em contratar o treinador português, ao fim de um mês no Corinthians, António Oliveira não confirmou o interesse do «Galo».
«Uma proposta tentadora de um clube muito mais estável, com um plantel mais consistente. Mas, tenho valores e não vale tudo. A melhor decisão foi ter ficado e não me arrependo. As oportunidades vão, com certeza, surgir», comentou.
Quanto ao próximo passo, António Oliveira mostrou apreço pelo Cuiabá, mas não adiantou interesse em voltar. Sobre o Santos – próximo de regressar ao Brasileirão – a resposta foi ambígua.
«Estou no Brasil por iniciativa própria, não estou a trabalhar porque não quero. Já tive propostas no Brasil e de equipas que estão a disputar a Liga dos Campeões do Médio Oriente.»
«Quero começar um projeto do zero, porque o sucesso de uma época depende muito da escolha dos jogadores. Quero estabelecer-me numa equipa com uma identidade muito própria, que goste de ter a bola e que seja ofensiva. E isso, muitas vezes, não se consegue fazer com o comboio em andamento. Vamos aguardar», terminou.