Paulo Rangel, vice-presidente do PSD, pronunciou-se relativamente à decisão do juiz de instrução no sentido de libertar os três arguidos investigados por suspeitas de corrupção na Madeira. Procuradoria-Geral da República “tem de dar uma explicação”, exigiu.
O PSD, através de Paulo Rangel, vice-presidente do partido, fez fortes críticas à Procuradoria-Geral da República (PGR) e à Polícia Judiciária (PJ) após a decisão de libertar, com termo de identidade e residência, os três detidos na sequência da investigação por suspeitas de corrupção na Madeira.
Em declarações à “CNN Portugal”, citadas esta quinta-feira pelo “Diário de Notícias”, o antigo candidato à liderança do PSD, realçou que “é inaceitável uma detenção de cidadãos, fora de flagrante delito, por 21 dias”. Considerado que essa situação “é totalmente inconstitucional e “desumana”, Paulo Rangel realçou que não se vê “qualquer indício” e “totalmente inaceitável”.
Paulo Rangel criticou ainda que “é preciso olhar para a desproporção de meios que foi posta nesta investigação” mencionando os “aviões da Força Aérea, centenas de agentes, jornalistas que chegaram antes do tempo, a questão do diamante que não era diamante”.
Os social-democratas consideram ainda que o diretor da Polícia Judiciária terá que explicar a mobilização de meios e que a Procuradoria-Geral da República “tem de dar uma explicação” porque deve ser transmitida uma “certa pacificação do alarme social”.
MP vai recorrer
O Ministério Público vai recorrer da aplicação da medida cautelar menos gravosa ao ex-presidente da Câmara do Funchal Pedro Calado e aos empresários Avelino Farinha e Custódio Correia, investigados por suspeitas de corrupção na Madeira.
“O Ministério Público vai interpor recurso”, disse à Lusa fonte oficial da PGR, em relação à decisão do juiz Jorge Bernardes de Melo, do Tribunal Central de Instrução Criminal (TCIC) de Lisboa, que determinou hoje à tarde a libertação “de imediato” dos arguidos.
O magistrado do TCIC decidiu ainda aplicar termo de identidade e residência ao ex-presidente do município do Funchal Pedro Calado (PSD), bem como aos empresários Avelino Farinha, líder do grupo de construção AFA, e Custódio Correia, principal acionista do grupo ligado à construção civil Socicorreia.
“Não se encontrando indiciada a prática, pelo arguido Custódio Ferreira Correia, pelo arguido José Avelino Aguiar Farinha e/ou pelo arguido Pedro Miguel Amaro de Bettencourt Calado de um qualquer crime, deverão os mesmos aguardar os ulteriores termos do processo sujeitos à medida de coação de termo de identidade e residência”, refere o despacho do juiz.
Na sexta-feira, o Ministério Público tinha pedido prisão preventiva, a medida mais gravosa, para os três arguidos.
Buscas na Madeira
A PJ realizou, em 24 de janeiro, cerca de 130 buscas domiciliárias e não domiciliárias sobretudo na Madeira, mas também nos Açores e em várias zonas do continente, no âmbito de um processo que investiga suspeitas de corrupção ativa e passiva, participação económica em negócio, prevaricação, recebimento ou oferta indevidos de vantagem, abuso de poderes e tráfico de influência.
A PJ deteve nesse dia o então presidente da Câmara do Funchal, que entretanto renunciou ao cargo, e os dois empresários.
O presidente do Governo Regional da Madeira (PSD/CDS-PP), Miguel Albuquerque, foi constituído arguido e acabou por renunciar ao cargo, o que implicou a demissão do executivo.
Em causa no processo estão suspeitas de corrupção ativa e passiva, participação económica em negócio, prevaricação, recebimento ou oferta indevidos de vantagem, abuso de poderes e tráfico de influência, segundo a PJ.
De acordo com documentos judiciais a que a Lusa teve acesso, o Ministério Público refere que o social-democrata Miguel Albuquerque, Pedro Calado e Avelino Farinha estabeleceram, “ao longo do tempo, uma relação de particular proximidade e confiança” que terá beneficiado aquele grupo empresarial “ao arrepio das regras da livre concorrência e da contratação pública”.
Entre os contratos alvo de investigação criminal, indicam os documentos judiciais, estão a concessão de serviço público de transporte rodoviário de passageiros na ilha da Madeira, a concessão do Teleférico do Curral das Freiras, o projeto da requalificação da Praia Formosa e o Funchal Jazz 2022-2023.