Cotrim de Figueiredo é vencedor e culpado

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As eleições europeias enterraram a possibilidade de eleições antecipadas no princípio do próximo ano – o PS não tem condições para derrubar o Governo, mas a importante vitória de Pedro Nuno Santos certamente que o terá encorajado a prosseguir a travessia no deserto. Sabe que pelo menos durante um ano não lhe faltará água, condição fundamental para a secura que representa estar na oposição.

Não quero repetir o que tem sido escrito e dito. Ainda assim, curioso o fortalecimento tanto do Luís como do Pedro. Um e o outro saíram da noite eleitoral mais fortes. O primeiro-ministro por saber que a batalha inicial está ganha (continuidade do Governo) e também por ter jogado a carta de António Costa. O líder da oposição por ter ganho as eleições contra a corrente mediática e com candidatos escolhidos por si.

Depois, não daria grande crédito à queda do Chega. Soube bem, mas não me iludo. Conseguiram, aliás, ficar em terceiro com 386 mil almas a colocarem a cruz em Tânger Corrêa para deputado europeu. Quase 400 mil pessoas votaram numa anedota por Ventura lhes ter dito para o fazerem, não é uma boa notícia.

O facto mais relevante da noite eleitoral é o peso de João Cotrim de Figueiredo. Dobrou a votação da Iniciativa Liberal nas Legislativas e tornou inquietante e urgente a pergunta: qual a razão que o levou a sair da liderança da IL?

Uma dúvida que leva necessariamente a uma segunda, terceira e quarta perguntas: o que teria acontecido se não tivesse optado por sair? Sendo expectável que a IL tivesse tido mais votos não seria a governabilidade mais sustentável com os liberais no governo? E se Cotrim fosse parceiro de Luís Montenegro no executivo não contribuiria para que o Chega tivesse uma expressão e influência menores?

É um exercício difícil e subjetivo, mas ainda assim necessário. É óbvio que uma pessoa é livre de optar pelo que deseja para a sua vida. Não sabemos o que esteve em jogo e quais as motivações, certamente que fortes e ponderadas, para Cotrim ter preferido a sombra do parlamento português e agora um “exílio” europeu. Porém, a sua decisão ofereceu a possibilidade a André Ventura de ocupar o lugar à direita do PSD e de pressionar os democratas a venderem convicções em nome do poder – felizmente não aconteceu, mas poderia ter acontecido e um dia acontecerá.

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