Crescentes desigualdades sociais marcam campanha eleitoral em Taiwan

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A economia da ilha cresceu 2,3% no terceiro trimestre, enquanto a bolsa de valores atingiu em dezembro o nível mais elevado em quase dois anos.

A taxa de desemprego caiu em novembro para 3,3%, o valor mais baixo desde 2000, e a inflação de 2,9% em termos anuais é "muito baixa comparada com o resto do mundo", disse Chen Fang-Yu, professor de ciências políticas na Universidade de Soochow, em Taiwan.

Nos últimos oito anos, o executivo da Presidente Tsai Ing-wen, constitucionalmente impedida de concorrer a um terceiro mandato, "tentou diversificar o investimento" para reduzir a dependência da China, recordou Yen Wei-Ting.

A professora de ciências políticas na universidade Franklin and Marshall College, nos Estados Unidos, disse que tanto o investimento estrangeiro na ilha como o investimento taiwanês no exterior "tiveram um desempenho relativamente bom comparado com outros países".

Yen defendeu que o impacto da pandemia em Taiwan foi "bastante leve", algo que permitiu à ilha reforçar o seu domínio na produção de semicondutores, componentes essenciais para a economia global.

"Se olharmos para o tamanho da economia, está a crescer. Mas o principal problema é quem está a beneficiar de que fatia?" explicou a investigadora natural de Taiwan, que regressou à ilha para acompanhar a campanha eleitoral.

"Há uma crescente desigualdade", confirmou Chen Fang-Yu. "Nos últimos anos a tecnologia de ponta tem sido o motor do crescimento, mas os salários estagnaram no setor dos serviços", que absorve a maioria da mão-de-obra em Taiwan, acrescentou.

"Embora os salários tenham subido de forma sucessiva nos últimos anos, não tem sido suficiente, especialmente se compararmos com o problema da habitação", lamentou Yen Wei-Ting.

"Os preços da habitação estão completamente fora de controlo", disse Chen Fang-Yu.

No principal centro de tecnologia da ilha, Hsinchu (norte), o preço de um apartamento quase duplicou em cinco anos, segundo dados da imobiliária taiwanesa Sinyi Realty Inc.

A habitação "é sem dúvida um enorme problema social", disse Yen Wei-Ting, que o Governo tem tentado mitigar com "mais benefícios sociais".

Em julho, as autoridades implementaram também medidas para promover o arrendamento e reduzir a especulação imobiliária.

Mas Chen Fang-Yu disse que "não foi ainda suficiente para convencer as gerações mais jovens de que o país está na direção certa".

O coeditor do portal de análise "Quem Governa Taiwan" defendeu mesmo que existe "um sentimento de depressão". "`Se toda a gente diz que a economia está a crescer, porque é que ainda sou tão pobre?`", exemplificou Chen.

Este sentimento cria um terreno fértil para a desinformação "coordenada pela China", que na atual campanha tem atuado "de uma forma mais oculta", defendeu o editor-chefe do `think-tank` US Taiwan Watch (`Observatório EUA Taiwan`).

Na semana passada, a justiça da ilha acusou um homem de interferência eleitoral ao organizar viagens de grupo à China, parcialmente financiadas pelos governos locais chineses, durante as quais os participantes foram convidados a votar em candidatos pró-Pequim.

No TikTok, detido pela empresa de tecnologia chinesa ByteDance Ltd, e em outras redes sociais, os taiwaneses veem "muitos números falsos e desinformação sobre quão má está a economia", disse Chen Fang-Yu.

"O Governo tem tentado responder, mas muitas vezes a desinformação espalha-se rápido demais", lamentou o académico, dando como exemplo "programas televisivos sobre políticos que citam dados sem qualquer verificação".

Em 22 de dezembro, um jornalista de um meio de comunicação online foi detido em Taiwan por alegadamente ter falsificado, sob instruções da China continental, sondagens de opinião sobre as presidenciais.

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