“Crescer, simplificar e transformar”: Como Lisboa impulsiona o negócio global da WTW

2 meses atrás 77

“Estamos numa viagem de três anos de transformação”, conta Joana Araújo Pereira, diretora do centro de excelência português da WTW, numa entrevista ao JE sobre o hub regional da WTW em Lisboa, na qual participou, também, Nuno Arruda, ‘head’ of Portugal da multinacional.

Foi em 2022 que o escritório da Willis Towers Watson (WTW) em Portugal foi “promovido” a hub regional da consultora de risco e corretora de seguros. Começou com duas linhas de negócio, hoje soma nove, e caminha para os 390 trabalhadores até ao final do ano. 

Há 21 anos na corretora, Nuno Arruda, head of Portugal da WTW, e Joana Araújo Pereira, diretora do centro de excelência português da WTW, conversaram com o Jornal Económico sobre o funcionamento do hub, expectativas, tendências laborais, talento, ambiente de trabalho e sobre o próprio dia-a-dia dos trabalhadores.

Na estratégia de simplificar e transformar da WTW, dois dos eixos que orientam o negócio da WTW, “Lisboa tem sido instrumental em aplicar aquela que é a estratégia global, que tem permitido assumir e trazer para o centro da competência funções e trabalhos de várias áreas da Europa, tornando-os mais eficientes e, nesse sentido, ajudando a alcançar os objetivos de cada país”, explicou Nuno Arruda, que passou pela vice-presidência da corretora, numa entrevista que decorreu no Monsanto Open Air, com um dos vários eventos internos da WTW Portugal como pano de fundo.  

“Estamos numa viagem de três anos de transformação, que acaba este ano”, diz, por sua vez, Joana Araújo Pereira, acrescentando que o momento já é de discussão sobre o que se segue. “Estamos a discutir como é que transitamos para 2025 e nos próximos anos para manter a transformação que foi feita e continuar – não queremos parar”, continuou. 

No eixo da transformação, Joana fala-nos do incontornável tema da Inteligência Artificial (IA): “a IA vai ser um tema claro para a WTW”. 

E como é que o hub suporta o negócio da WTW para que ele possa crescer?

A diretora do centro de excelência português da WTW explica que o hub da corretora em Lisboa “liberta o negócio” de várias atividades “para que se possa focar em crescer”. 

“Nós absorvemos as funções mais operacionais, em primeiro lugar, e tentamos tornar esses processos mais eficientes olhando para o processo, simplificando-o processo e, depois, introduzindo a automação ou não, se for ou não viável”, detalha.

Mas porquê Lisboa?

Segundo Joana Araújo Pereira, a capital portuguesa  “saiu muito bem na fotografia” – não por tudo aquilo por que é habitualmente reconhecida – mas pela “questão da pool de talento, das infraestruturas e qualidade de vida”. “Isso, aliado a este acordo que já existia, colocou Lisboa na primeira opção”, explicou.  

Lisboa foi, assim, escolhida como sede regional entre 140 destinos possíveis para centralizar o trabalho interno da WTW. A Cidade do México completa o par de regional delivery hubs, que auxiliam os global delivery centres localizados na Índia e em Manila, Filipinas.

“Lisboa já tinha um hub na área das pensões, portanto, uma linha de negócio já desde 2009. Já tinha um track record muito bom, com um bom feedback que tinha crescido imenso. Já na altura tinha cerca de 160 pessoas. Depois foi feito um estudo independente para estudar exatamente quais as melhores localizações, nomeadamente para dar apoio à Europa”, revelou a mesma responsável. 

“Eu sempre acreditei que Portugal era o sítio certo para apostar”, afirmou, comentando a propósito da escolha de Lisboa. “Foi a prova, não só, de que o trabalho que tinha sido feito até aquela data era de qualidade, mas que os relatórios que foram feitos das pesquisas entre vários países também mostraram isso”. 

Nuno Arruda destaca o trabalho feito nos largos anos que antecederam a escolha de Lisboa como hub pela equipa liderada por Joana Araújo Pereira”. “Só podia chegar a isto. É preciso ter uma extrema capacidade de resiliência para desafiar um bocado o status quo. E aquilo que os hubs e a nossa nova estratégia global fazem acaba por desafiar o status quo“, defendeu. 

Trabalho remoto: take it or leave it

A primeira pergunta que nos fazem é se é permitido o trabalho remoto, por exemplo”, explica a diretora do centro, deixando claro que este regime de trabalho veio para ficar na WTW, não só porque a pandemia a ele nos habituou, mas por ser uma das condições negociadas pelas nova gerações de trabalhadores. 

“A pandemia forçounos [trabalho remoto] e mostrounos que estávamos preparados”, continuou, classificando como “flexível” a empresa neste campo. A “nossa política é dar flexibilidade e as pessoas podem escolher como é que querem trabalhar”, revelou.

Cultura empresarial e a “criação de um sentimento de pertença”

“Todos os meses temos o que nós chamamos a nossa balcony party. Temos no oitavo piso uma varanda, um espaço grande comum. E todos os meses fazemos uma festa temática. A última foi LGBT, no mês do pride [orgulho]. Às vezes é sobre multiculturalidade, por exemplo. Os temas vão variando, mas acontece todos os meses às quintas ou às sextas-feiras”, adiantou Joana. 

Sobre a cultura de inclusão da WTW, importa trazer dados recolhidos num inquérito interno. “No nosso recente inquérito a todos os colegas, 92% afirmaram que os seus gestores criam um ambiente de trabalho inclusivo e 91% afirmaram que sentem que podem ser eles próprios na WTW sem se preocuparem com a forma como serão aceites”, diz a corretora no seu “Relatório sobre a inclusão e a diversidade 2022”.

De acordo com Nuno Arruda, com esta abertura e incentivo, o objetivo da WTW é “criar um sentimento de pertença”. “É um bom testamento da nossa cultura, porque são os nossos colegas que a organizam. Não é uma coisa corporativa. São vários núcleos. Temos uma comissão de festas que vai organizando por mote-próprio. Nós só damos o budget e incentivamos. E temos muito gosto nisso”, acrescentou. 

Sobre a atividade gerada no hub de Lisboa, a WTW Portugal tem em curso um “projeto-piloto com uma equipa de consultoria em Portugal, que está a trabalhar como extensão de uma outra equipa na Europa”, para o qual já estão a ser recrutadas mais pessoas.

“O que é que isto tem de significativo? São outros perfis completamente diferentes. Já não estamos a falar só de perfis operacionais. São outras oportunidades de carreira que estamos a criar para as pessoas dentro do hub, mas também para qualquer outra pessoa que entre na WTW Portugal”, revelou. Quanto à automação – robótica começou como um piloto para uma linha de negócio, que era transversal a todas as geografias, mas hoje já abrange três linhas de negócio diferentes”, continuou.

Pool de talento em 37 bandeiras 

A empresa prevê contar com entre 300 e 500 pessoas nos próximos três anos, chegando aos 390 no final de 2024.  

“Não recrutamos só portugueses, mas acho que temos uma pool de talento incrível. A nossa força de trabalho e resiliência distingue-se. Esta equipa distingue-se muito por desafiar; não aceitamos, desafiamos, propomos soluções. É uma característica que eu acho que é dos portugueses”, continuou, revelando que, nesta altura, são já 37 as nacionalidades que percorrem os corredores daquele escritório situado no número 33 da Rua Barata Salgueiro, em Lisboa.   

Se a área de IT ainda é predominantemente “na parte de operações de corretagem há mais mulheres, com 51% de mulheres e 49% de homens”, revelou a mesma responsável. 

Sobre as equipas da WTW Portugal, os dois responsáveis revelam que o trabalhador mais novo tem 21, enquanto o mais velho tem 66 anos e é a pessoa mais velha. 

Voltando a falar do idadismo, mas, desta vez, numa perspetiva de recursos humanos, Nuno Arruda revela que a empresa recrutou recentemente “duas pessoas com quase 60 anos”.

“Acreditamos que as pessoas trazem o melhor de si e é esse o ambiente que queremos criar: de liberdade e de segurança”, continuou, acompanhado por Joana Araújo Pereira nessa visão, segundo a qual a WTW dá primazia “ao talento e potencial” das pessoas.

Por fim, questionados sobre as expectativas criadas pelos escritórios centrais da WTW sobre o hub de Lisboa, Joana mostra-se otimista com as vozes que ecoam de fora.

“Temos ido além das expectativas. Houve ideias que estavam no plano e que não se concretizaram, mas foram substituídas por outras iguais”, explica.

Nuno Arruda, por sua vez, recorda “algum ceticismo e resistência” iniciais, que rapidamente se dissiparam.

“Há uma coisa que podemos dizer com segurança. O feedback que temos sempre que vamos lá fora e, se ao início, havia ceticismo dos próprios países porque sentiam que podiam perder algum controlo sobre o que faziam – que é normal -, hoje não recordo ninguém que não esteja rendido à qualidade que está aqui”, afirmou o head of Portugal da WTW. 

“O budget do próximo ano está perto, já estão a ser preparados novos planos estratégicos que incluem Lisboa para os próximos três a cinco anos. Passados dois anos desde que passámos a ser um hub regional e o que fizemos durante esses dois anos foi mostrar que a tal pool existia, que tínhamos as línguas e qualidade”, defendeu Joana Araújo Pereira.   

Faturação da WTW Portugal

A faturação da WTW em Portugal cresceu cerca de 15% no ano passado, no conjunto das três empresas que integram o grupo, com a indústria a representar cerca de 23% das receitas.

“Os sectores mais representativos da nossa carteira de clientes são a indústria que representa cerca de 23% das nossas receitas, serviços e energia que representam cerca de 14% cada”, salientou.

Em Portugal, a WTW trabalha apenas “com empresas do segmento corporate, com uma representação de 60% do PSI”, destacou Nuno Arruda. Além da gestão de risco, a área de pensões tem um peso importante para o grupo em Portugal.

A retenção de clientes é uma das prioridades do grupo, com uma taxa “acima dos 96%”. “Somos uma empresa que investe muito na retenção dos clientes. O custo de aquisição de um cliente na nossa área é alto”.

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