CRÓNICA | Engana-me que eu gosto

6 meses atrás 48

Caro leitor, fomos enganados! Que bom é ser enganado desta forma! Desde erros superiores à vontade humana, passando pelas mudanças repentinas e inesperadas do marcador, até às ilusões apenas ao alcance dos melhores fantasistas, a primeira mão do Real Madrid-Manchester City (3-3) esteve cheia de equívocos, fingimentos e embustes. E que boa foi!

François Letexier, qual maestro, apitou para dar início a 15 minutos eletrizantes, de puro rock&roll, dos mais frenéticos desta edição da Liga dos Campeões.

Melódicas trapaceirices

Se o primeiro quarto de hora foi sinfónico, os primeiros acordes nasceram de uma guitarra portuguesa. Matreiro, despercebido e inteligente, Bernardo Silva só não enganou os da sua equipa. Aproveitou a alvorada para, num livre lateral, colocar Madrid em sentido. Olhos postos no expectável cruzamento e bola endereçada para a baliza de Lunin. Marcador inaugurado em bom português.

Depois de inaugurado, o marcador em português continuou. A guitarra portuguesa deu lugar ao samba, bem mais animador para os adeptos madrilenos. Vinícius Júnior e Rodrygo foram essenciais: trouxeram o futebol de rua para as quatro linhas e desafinaram a estratégia cityzen. Na grande jogada do primeiro tempo, Vini lançou Rodrygo, que, rápido, fugiu à defesa inglesa e enganou Ortega, que já havia caído em erro quando um desvio colocou a bola de Camavinga no fundo das redes. Dois golos para os da casa e o marcador cheio de vida.

Até ao descanso, a primeira parte escreveu-se de forma bastante simples: impotente, o Manchester City não conseguiu criar grande perigo; atrevido e pragmático, o Real sambou e não andou longe do terceiro.

Não valem golos feios

Energias repostas e estratégias redefinidas. O Manchester City até entrou pior, mas não demorou muito a recuperar a batuta. Bernardo, Kovacic e Grealish foram dos melhores, face ao surpreendente desaparecimento de Haaland e Foden. Foden? Sim, até ao minuto 66. Aí, o fantasista inglês deixou cair o pano da invisibilidade e, com a canhota mágica, chutou ao ângulo, sem qualquer hipótese de defesa.

O placar, pobre coitado, não teve descanso e prever o seu desfecho tornou-se impossível. Minutos mais tarde, o primeiro toque trapalhão mascarou bem o segundo: Gvardiol encheu o pé e obrigou o marcador a nova cambalhota.

Sem descanso, o rodízio de golaços não acalmou e Valverde, esperto, também se serviu. Vini cruzou pela esquerda e, de primeira, sem deixar cair, o uruguaio apareceu no lado oposto a encher o pé e a fuzilar para novo empate.

O ritmo baixou ligeiramente após o sexto (!) golo, mas não tornou o jogo menos fantástico. Foi um daqueles que ninguém deseja o apito final, mas, inevitavelmente, surgiu. Nem o recurso aos bancos desequilibrou a balança e, por isso, seguiu tudo em aberto para a segunda mão, em Inglaterra.

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