CRÓNICA | Pela porta grande

2 meses atrás 57

Da obrigatória festa do título às inadiáveis lágrimas do adeus. Da emoção à confusão, bem ao jeito sul-americano. Esta final teve de tudo, bem mais que o futebol exige. No fim, após muito equilíbrio e sofrimento, a Argentina venceu no prolongamento. Di María, na derradeiro despedida da seleção, foi capitão após a lesão de Messi e saiu, em lágrimas, pela porta grande - com a conquista da Copa América 2024.

Pequim 2008, Copa América 2021, Finalíssima 2022 e Mundial 2022 - golos e troféus. Impressionante como os dois bens mais valiosos do futebol parecem curtos para descrever a carreira de Di Ángel Di María albiceleste. Uma carreira que terminou esta madrugada. As duas filhas levaram a bola do jogo para as quatro linhas e arrancaram um sorriso sincero ao pai - daqueles que, ao mesmo tempo, transmitem genuína felicidade, mas plena noção que o fim, cruel e fatal, está perto.

Antes do espetáculo, houve espaço para a evitável tragédia. Centenas de adeptos tentaram entrar no estádio sem bilhete. Originaram desacatos com as autoridades, causaram o pânico, amedrontaram famílias e obrigaram o jogo a ser adiado. As portas do estádio ficaram por abrir e à frente delas nasceram multidões, enlatadas pela ânsia de entrar e pelo receio de perder um jogo histórico.

O Hard Rock Stadium compôs-se, se calhar, mais que o que devia. Pelas redes sociais surgiram vários vídeos de adeptos que cumpriram com sucesso a ilegal e vergonhosa missão de entrar sem bilhete. Tanto a aprender e a melhorar por parte do país que vai organizar o Mundial 2026, daqui a dois singelos anos.

Uma hora e 20 minutos do suposto, o pontapé de saída. A Argentina dispôs da primeira ocasião, mas foi a Colômbia que entrou melhor. Sem medo de ter bola e com vontade de dar seguimento à boa campanha realizada até então, os colombianos olharam o condecorado adversário nos olhos e estiveram perto do golo. Santiago Arias - ex-Sporting - explorou bem o corredor direito e, além do par de remates de Luis Díaz, Jhon Córdoba também ameaçou, com um remate ao poste.

Com o passar do tempo, a Argentina atenuou as intenções colombianas e teve, nos pés de Messi - que sofreu um choque aos 37', fatal para mais tarde, a melhor ocasião do primeiro tempo - Álvarez apareceu onde não devia, entre a bola e a baliza, e impediu o golo. Contudo, não houve como esconder: a Colômbia surpreendeu e, apesar de perder algum fôlego perto do intervalo - mérito para a Argentina -, deixou uma melhor imagem no primeiro tempo.

Por norma, as crónicas pouco se referem ao intervalo, mas este foi diferente. Durou quase meia hora e contou com a atuação de Shakira, artista colombiana que animou o half time show, realizado pela primeira vez numa Copa América. Uma americanização do futebol com potencial - pelo menos no papel -, mas com uma execução que deixou a desejar e não beneficiou nenhum dos artistas com a bola nos pés.

Bastante tempo depois, recomeçou o encontro. Equilibrado, imprevisível, mas com uma Argentina melhor, mais inteligente e consciente do jogo, a saber criar vantagem em várias zonas do terreno. No momento de maior fulgor, os argentinos perderam o fiel companheiro de Di María. Messi ressentiu-se do toque sentido no primeiro tempo e foi obrigado a sair. A bancada cantou pelo jogador e o astro chorou no banco de suplentes. Para Messi, este não foi o adeus à seleção - em princípio; o argentino tem sido discreto em relação ao futuro -, mas foi, certamente, a última aparição numa Copa América.

Se Messi se ressentiu do toque, a Argentina ressentiu-se da sua saída. A Colômbia voltou a ter bola e confortou-se no encontro. Apesar da Argentina ter marcado - anulado por fora de jogo -, os colombianos também criaram perigo e, inclusive, obrigaram o VAR a intervir - eventual grande penalidade para os cafeteros.

Olhando para o que foi feito nos 90 minutos, as duas equipas seguiram com naturalidade para o prolongamento. James entrou e, nesse momento, o duelo perdeu os camisolas 10 - Messi e James. Contudo, ganhou alguma «rua». Quintero entrou muito bem e colecionou lances individuais de alto nível: contribuiu para 30 minutos partidos, duros e interessantes.

No segundo tempo, com a Colômbia por cima e já com as grandes penalidades na mira, surgiu o erro, causado pelo cansaço físico e, sobretudo, mental. Um lance confuso originou uma perda de bola desnecessária. Paredes recuperou, Lo Celso isolou e Lautaro finalizou: os três recém-entrados da Argentina, frescos, resolveram o jogo.

A Colômbia só se pode orgulhar de si; cai de pé e merece toda a admiração. Contudo, é a Argentina que festeja. 2021, 2022 e, agora, 2024. Uma geração que já estava na história e aproveitou para escrever mais uma página dourada. Uma geração que não se cansa de se imortalizar.

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