Cuidados com táxis, carros de aplicativos e transportes em geral: “Será que são legais?”

2 horas atrás 24

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O que há de comum entre o músico Fernando Baggio, 46 anos e a jornalista Isabela Rangel, 36, e uma terceira pessoa, uma senhora cujo nome não foi revelado pela polícia? Os três foram enganados pelos respectivos motoristas que os transportavam e lhes causaram prejuízos materiais e psicológicos. A Polícia de Segurança Pública recebeu as denúncias e, em pelo menos uma delas, o taxista foi detido e denunciado pelo crime.

O músico brasileiro Fernando Baggio, 46, teve seus equipamentos não devolvidos pelo motorista de aplicativo, do veículo Renault Scenic, em julho passado, depois de deixá-los no carro após um show em que participou em Lisboa. Até hoje não conseguiu reaver os instrumentos e a única informação que obteve foi de que o motorista não era registrado na plataforma Bolt, que utilizou para a corrida.

Ele começou uma campanha de arrecadação de fundos numa vaquinha virtual, em que pede ajuda para comprar “pelo menos parte dos equipamentos” que perdeu, esclarece. A mobilização em curso será reforçada com a realização de um show beneficente, a ser marcado em breve, e que divulgará nas redes sociais. Fernando disse que vai recorrer à justiça para reparação dos danos.

De acordo com o músico, os instrumentos, no valor de três mil euros, pesam seis quilos e possuem 60 centímetros de diâmetro. Foram deixados no carro e, assim que sentiu a falta deles, tentou entrar em contato com o motorista, mas não obteve resposta. Depois de muita insistência, conseguiu contatar a plataforma e soube que o registro do motorista era falso.

Quando Fernando registrou a ocorrência na delegacia da Polícia de Segurança Pública de Penha de França, que não havia entendido imediatamente que seria um caso policial, somente resolvido depois que o músico demonstrou que o registro do condutor na plataforma Bolt era falso.

Depois de pressionar a empresa, esta confirmou que o condutor não estaria registrado no aplicativo e as tentativas do músico de ligar para o número acabavam em uma localidade em outro país.

Baggio conseguiu identificar a empresa proprietária do carro, que disse desconhecer o motorista. A Bolt, por sua vez, respondeu protocolarmente que no carro não foram encontrados os objetos do músico, admitindo que o carro é usado na plataforma.

Fernando continuou a solicitar uma posição da plataforma para comprovação junto às autoridades policiais de que teria sofrido um roubo. Diante da omissão da empresa, ele adiantou que irá recorrer à justiça para tentar reaver o prejuízo.

Extorsão de jornalista

A jornalista Isabela Rangel, de São Paulo, após desembarcar de uma cansativa viagem internacional no aeroporto de Lisboa, tentou inicialmente um transporte público, mas o peso e a quantidade de malas fez com que ela aceitasse a abordagem de um condutor, que se apresentou como Roberto, e teria um transporte de turismo.

A jornalista solicitou a corrida até Campo de Ourique e, quando chegou no destino, um trajeto de menos de 20 minutos (10 quilômetros), cobrou 84 euros. Segundo ela, o veículo não tinha taxímetro e não demonstrava ser legal, o que Isabela retrucou dizendo que não pagaria o valor sugerido.

“A reação do motorista foi agressiva, ficou nervoso e me obrigou a sacar dinheiro de um caixa multibanco”, no qual conseguiu retirar 60 euros para pagar o homem. Isabela Rangel submeteu a questão ao Canal de Denúncia do Instituto do Turismo de Portugal, mas este não aceitou a denúncia como algo relacionado ao turismo: "não encontramos enquadramento no conceito de denúncia”, diz a nota da instituição.

Estrangeira roubada

No caso da cidadã estrangeira, o taxista, de 25 anos, cobrou o valor de 70 euros para a mulher, que não aceitou “o valor por considerar substancialmente superior ao estabelecido para o trajeto”. A PSP revelou que a cliente de idade avançada não pagou ao motorista e ele a abandonou, de noite, em um local ermo.

O Comando Metropolitano de Lisboa informou que a mulher desembarcou no aeroporto Humberto Delgado, solicitou o táxi e quando chegou no destino o condutor cobrou-lhe 70 euros. Como senhora só tinha 40 euros para pagar, foi abandonada em seguida sem as malas e sem os documentos pessoais.

“Além da experiência traumática, ela receou por sua vida e integridade física, em virtude de ser noite, desconhecer o local onde estava e não dominar a língua portuguesa”, assinala a nota da PSP. De acordo com a autoridade policial, o homem foi denunciado, ficando com a obrigatoriedade de informar onde vive e comparecer periodicamente a uma delegacia de polícia. O processo continua em investigação.


Falha no curso TVDE

Conforme declaração de participante de plataforma de transporte, depois de investigar casos envolvendo o aplicativo, chegou à conclusão que nem a cidadã estrangeira e nem sua família irão, a partir de agora, utilizar o serviço, preferindo outras opções. Ele, inclusive, aconselha que os usuários verifiquem com exatidão se os veículos solicitados são mesmo pertencentes às plataformas e se são motoristas reconhecidos pela empresa.

Para alertar às pessoas sobre os riscos dos falsos motoristas de aplicativos, divulgou uma postagem do músico Peter De Cuyper, um belga, que mora no Porto, que relata sua experiência ao realizar um curso de condutor TVDE (Transporte em Veículo Descaracterizado a partir de Plataforma Eletrônica), necessário para dirigir para a Bolt e o Uber.

Sob o título Vergonha de ter Vergonha, o músico explica que, em fevereiro de 2023, realizou o curso para fazer um dinheiro extra, cuja formação, segundo ele, em tese tem a duração total de 50 horas: 25 horas online, 19 horas teóricas presenciais e 6 horas de condução individual.

Peter denuncia que tudo não passa de uma inverdade, pois as cargas horárias não são respeitadas: “No meu caso, éramos quatro 'alunos' no carro, mais o instrutor, e cada um conduziu talvez 5 minutos. Um até menos, o que foi melhor para a nossa segurança! Acabei a formação, fiz o exame e passei. Aliás, todos passaram!”

O músico detalha que, pouco antes do exame, o professor havia garantido que nunca ninguém tinha sido reprovado em nenhuma das turmas. E acrescenta: “Toda gente já sabia que ia receber o certificado”.

Peter informa no texto que, além de todos os custos ficarem com o motorista, “o trabalho é muito estressante, não só pelo trânsito, mas, especialmente, porque é completamente dependente dos algoritmos".

A tecnologia, conforme o texto, é que define “quais viagens realiza, quanto ganha e quantos quilômetros efetivamente realiza”.

Além disso, diz que há queixas de que os condutores fazem 12, 15 ou mais horas seguidas, sem descanso ou alimentação. Mas, ressalva, "há bons e maus prestadores de serviço”.

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