Cuidados para as pessoas com demência custam cerca de 1.500 euros por mês

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25 set, 2024 - 00:01 • Anabela Góis

Mais de 80% das famílias relatam um forte impacto financeiro por causa dos cuidados prestados ao familiar com demência, sejam pais ou conjugês.

Estima-se que 200 mil pessoas sofram de demência em Portugal, e os cuidados custam às famílias cerca de 1.500 euros por mês. Os lares especializados são poucos e caros, os cuidadores não têm apoio domiciliário e estão em risco por exaustão. A larga maioria desconhece as ajudas a que tem direito e muitos não acedem por causa da burocracia. É o retrato do país, feito pela NOVA Information Management School, com base numa amostra de 305 cuidadores informais.

Coordenado por Henrique Lopes, diretor do NOVA Center for Global Health, este estudo revela que 7 em cada 10 cuidadores informais enfrentam cansaço emocional extremo. Apenas 4% receberam apoio para descanso e dos 78% que pediram apoio domiciliário só 20% tiveram acesso.

Henrique Lopes diz que “se tem a demência à dimensão da bolsa de cada um, porque os recursos que podem ser utilizados vão desde simples toma da medicação, que é gratuita, até cuidados altamente diferenciados a que só algumas pessoas acedem”.

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De forma geral, o grupo participante neste estudo é muito mais diferenciado do que a média dos portugueses. Ainda assim, mais de 80% das famílias relatam um forte impacto financeiro por causa dos cuidados prestados ao familiar com demência (pais ou cônjuges). Henrique Lopes diz que “os tipos de suportes necessários são caros e, portanto, uma família média terá encargos à volta dos 1.500 euros por mês, sendo que muita gente nem sequer dispõe deste valor”.

E quando já não é possível manter a pessoa em casa e é necessário encontrar uma estrutura residencial especializadas, faltam respostas. “As casas especializadas em demência em Portugal contam-se pelos dedos das mãos e ainda sobram dedos”, diz o diretor do NOVA Center for Global Health.

“Claro que há soluções especializadas – a própria Alzheimer Portugal tem a Casa do Alecrim - mas em muitos casos o que temos são lares onde alguns funcionários têm alguma formação e depois, na larga maioria temos apenas capacitação informal, resultado de muitos anos de experiência a tratar deste tipo de doentes”, conclui.

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Outro problema identificado por este estudo prende-se com o desconhecimento e a dificuldade em aceder aos apoios. As famílias apontam questões concretas: “desde o conhecimento que esses apoios existem até à burocracia que é necessário enfrentar”, somado ao “tempo de espera pela junta médica, pelas visitas da Segurança Social, pelas consultas de especialista. A documentação, os passos que é necessário dar, enfim, é todo um conjunto de situações que se acumulam e para as quais muita gente não está preparada para lidar, até porque muitos problemas resolvem-se online e nem toda a gente consegue”, aponta o responsável.

Um segundo estudo da NOVA Information Management School - Consenso Estratégico para a Gestão Integrada das Demências em Portugal - apresenta uma reflexão sobre os principais problemas no sistema assistencial e possíveis caminhos de futuro, tais como o acesso a cuidados especializados, propostas para cuidados integrados, cuidados pós-diagnóstico e capacitação de profissionais de saúde.

Segundo Henrique Lopes, "identificou-se que muita coisa está mal para os cuidadores das pessoas com demência e é possível fazer diferente e melhor, sem significativo esforço financeiro para o país”.

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