Da "lagrimazinha" de Rui Costa aos rumores de saída forçada: João Neves fala sobre saída do Benfica

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No adeus ao Benfica, João Neves, oficializado esta segunda-feira no PSG, não segurou as lágrimas e garantiu que a decisão de deixar as águias foi "muito difícil" de tomar.

"Se eu quisesse mesmo ir embora, e se o Benfica quisesse mesmo que eu fosse embora, já tínhamos resolvido isto há muito tempo. Tentámos até ao máximo e chegámos a um consenso. Achámos o melhor para as duas partes, em termos financeiros é bom para o clube e é bom para mim", explicou o jovem, de 19 anos, numa longa entrevista aos meios do clube.

Desafio no PSG: "Claro que assusta, saio da minha zona de conforto. Tenho presente na minha cabeça que sou muito acarinhado aqui, desde o primeiro dia, em que me estreei na equipa A, e mesmo no primeiro treino, pelos meus colegas e pelo staff, por toda a gente. Vou sair para um país diferente, para uma realidade diferente, língua diferente, ainda não estou muito seguro do que é que eu posso fazer lá, mas vou dar o meu máximo. Essa é a minha natureza, dar o meu máximo onde quer que eu esteja, porque sei que, se der o meu máximo, estarei sempre mais próximo de alcançar os meus objetivos. Tal como fiz aqui desde o início, lá vou fazer também desde o começo."

Como decorreu o processo: "Nunca, nem eu, nem a minha família ligou a quem quer que seja para forçar a minha saída, ou qualquer outro tipo de assunto relacionado com o João Neves querer sair. Nem o Benfica quis que eu saísse. Está muito bem vincado e muito bem presente na minha cabeça. Falei algumas vezes com o Presidente, tínhamos sempre a mesma opinião. Não foi fácil para o Presidente. Nas reuniões que eu tive com ele, o Presidente estava muito emotivo, porque se tratava de mim. Quando acordámos o momento para eu sair, o Presidente meio que mostrou uma lagrimazinha, e eu também, chorámos um bocado os dois. Mas é como já disse, foi bom para o Clube. Não há nada acima do Clube, nem eu estou acima do Clube."

Do que vai ter mais saudades? "Dos meus amigos de infância, sem dúvida. Para mim, a amizade é uma coisa muito forte que eu levo para a vida. Foram amigos que o Benfica me deu, como, por exemplo, o António, que, é do conhecimento público, é um dos meus melhores amigos. O próprio André, o Gouveia, a malta da Formação, o Araújo, o Samuel, e mesmo aqueles que não são da Formação. Eu tive uma empatia muito grande, disso eu sei que vou ter mesmo saudade. E a outra, não menos importante por eu dizer em segundo, é vestir a camisola do Benfica, entrar no Estádio da Luz, festejar um golo do Benfica. Vou continuar a festejá-los, não da mesma maneira, mas vou continuar a festejá-los. Agora fora de campo, mas disso eu vou ter muitas saudades."

O dia em que soube que ia treinar à equipa principal: "Nunca tinha ido quando era mais jovem mesmo se faltavam jogadores. Esse foi o meu primeiro. Senti um bocado de ansiedade pelo que estava à minha espera lá, no campo. Olhava já para os jogadores da Equipa A com olhos diferentes. Jogadores que tinham estatuto no Clube, tal como o André Almeida. Sentia-me ansioso. Não que duvidasse das minhas capacidades, mas porque era com esse tipo de jogadores que eu treinava. É o não ficar mal, é o tentar manter o nível do treino, e isso tudo faz com que fique ansioso... e que não fique tranquilo com o jogo. Mas, no fundo, o André, em específico, acalmou-me. Lembro-me, disse-me para eu só jogar, fazer o meu jogo, e que ele também tinha acompanhado a Formação, e que sabia o jogador que eu sou. Tentou-me tranquilizar para ficar mais calmo e fazer o treino como deve ser."

As emoções da subida ao plantel principal: "Ainda levou um bocado até me equipar no balneário da Equipa A, mas todos os dias... não era uma aflição, mas era aqui um nervosismo interior. Mesmo ainda no final, em todos os jogos do Benfica, eu ainda sinto um bocado de nervosismo. Não é pelo jogo em si. Com todo o respeito, não é por ser contra o Arouca, ou contra o FC Porto, ou contra o Sporting, seja com quem for. É aquele nervosismo por estar a jogar pelo Benfica e não querer que corra mal, porque eu realmente preocupo-me. E acho que todos os jogadores de futebol sabem qual é esse nervosismo de que eu estou a falar, e mesmo agora eu tenho esse nervosismo. Depois, passados uns meses, lembro-me que – acho que foi o Javi [García] – me chamaram ao gabinete. Eu estava um bocado assustado, porque não gosto muito de falar com os treinadores e tudo mais, porque penso sempre que é algo mau, mas, quando entrei no gabinete, ele olhou para mim, sorriu e disse-me que a partir daquele dia fazia parte do plantel, integrava o plantel da Equipa A. Lembro-me de me levantar, abraçá-lo, cumprimentá-lo e ir todo contente ao balneário dizer ao António que eu ia ficar no plantel."

Golos nos dérbis em 2022/23: "Primeiro eu chutei e caí, depois comecei a festejar, e só depois é que me apercebi que os adeptos do Benfica estavam do outro lado, então fui a correr para lá, mas o António tratou disso, festejou por mim, por isso está tudo tranquilo. Mas é algo que eu posso tentar explicar, mas nunca vai sair da forma como eu sinto na realidade. Ainda hoje, posso ver o golo mais de 10 vezes e arrepio-me da mesma maneira."

Golos nos dérbis em 2023/24: "Esse foi mais emocionante. Continua a ser um golo de empate, mas foi mais emocionante também porque foi o meu primeiro golo na Luz. E foi novamente aos 90 mais uns minutinhos. Esse golo foi... é o mais especial da minha precoce carreira, porque foi o primeiro golo que eu fiz na Luz. Foi o golo do empate, e a cereja no topo do bolo foi o golo do Casper aos 90'+7'."

Camisola dentro dos calções: "A camisola para dentro dos calções foi uma regra imposta na Formação, quando eu jogava no CFT do Algarve. Havia sempre duas regras para jogar, que eram a camisola para dentro dos calções e a meia abaixo do joelho. Desde aí que eu cumpro a regra, rigorosamente, e foi uma coisa a que me fui habituando. Já não sei se a blusa para fora é mais confortável, ou não, neste momento jogo sempre de blusa para dentro. Então, fico confortável, e ficou uma imagem de marca."

Melhor momento no Benfica: "[Dérbi em casa, na época 2023/24] Em termos emocionais e dentro de campo, jogo jogado, sim... mas levantar o troféu do 38 deu-me muito mais prazer."

A pessoa mais importante no trajeto: "O meu pai. Foi sempre o pilar principal da minha parte profissional. Se bem que a minha mãe tratava de outro tipo de coisas, da parte da escola, e esse tipo de coisas, mas da parte profissional, futebolística, foi o meu pai."

Maturidade: "Perdi a minha mãe, como é óbvio foi o momento mais triste da minha vida, sem dúvida que vai ser. O futebol foi sempre aquilo que me libertou dos problemas e dos pensamentos mais pesados que tive. Ir treinar e estar com os meus amigos, sentir a relva, a bola, não apaga os problemas que estava a ter, longe disso, mas resolve outros, e tenta que eu me alegre. Ficar em casa, pensativo, ia ser muito pior. Como eu gosto mesmo de futebol e de jogar à bola, e de ajudar o Benfica, decidi ir para o treino e jogar o jogo a seguir."

O que representa o Benfica: "Eu acho que já disse algumas vezes em entrevistas: o Benfica, para mim, é um modo de vida. É sentir o Benfica, é viver o Benfica, é... Jogo desde os três anos, e antes de estar no Benfica jogava na Casa do Benfica em Tavira. Por isso, é um modo de vida, já não dá para fugir ao Benfica."

Os adeptos e a saída: "Não sei se vão perceber, ou não, mas espero que eles continuem a apoiar-me como têm vindo a fazer, porque, não estando no campo, agora sou eu que estou com eles, estou no mesmo lado da moeda, estou a ver o Benfica de fora e a festejar os golos com o mesmo entusiasmo."

Mensagem para os benfiquistas: "Queria enviar uma mensagem de agradecimento pela maneira como vocês me trataram desde o primeiro dia. Sou Benfica e serei sempre Benfica! Neste momento o principal é apoiarmos o Benfica ao máximo, todos os jogos, jogo após jogo, derrota, vitória, empate, seja o que for, e vamos lutar até ao fim para sermos campeões!"

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