Danças com treinadores

4 meses atrás 112

A Tasca do Silva é o espaço de opinião sobre e à volta do FCP, dinamizado por Paulo Silva, um dos podcasters responsáveis por A Culpa é do Cavani, o podcast de referência do universo portista.

1. Conceição

Quando apontei a questão da gestão do tema "Conceição" como o grande erro da candidatura de André Villas-Boas, tinha claros dois aspetos: Sérgio Conceição não encontraria na nova estrutura o seu lugar, nem por ela seria querido. O segundo ponto é mais relevante do que o primeiro. É que SC precisaria de ser bajulado, adulado, incensado - como foi durante todo o seu "reinado" no FCP - e, ainda assim, decidiria que não ficaria. Nesse caso, consideraria encerrado o seu ciclo, passear-se-ia em ombros e consolaria a nova direção que, em lágrimas, se mostraria perdida sem o seu caudilho.

Mesmo assim, seria um momento. Mais tarde ou mais cedo, SC teria necessidade de reavivar a sua própria memória e desforrar-se daqueles que, mesmo chorando, não o tivessem conseguido segurar. Não era mesmo preciso ter dons de vidente para se perceber isto.

AVB teve medo - sim, medo - de afrontar Conceição. Aliás, receou bastante mais essa eventual onda de choque do que o próprio embate com 42 anos de história e títulos que forjaram o FCP de hoje. E as suas dívidas e problemas, está claro.

Portanto, nada do que se passa, nem sequer o ruído que 20% conseguem fazer - é bom lembrar que os comentadores que Pinto da Costa "nunca indicou" para qualquer programa, estão lá por indicação, direta ou indireta, da anterior direção e não da nova - é propriamente uma surpresa. Que o assunto se arraste, à boleia de um qualquer pretexto - algum se haveria de arranjar - é mera consequência de nenhuma porta de verdadeira relevância (um tubarão, portanto) se ter aberto para SC, o que torna o seu lugar no FCP, ainda assim, a melhor opção que teria para prosseguir a sua carreira. E, na verdade, também isto era bastante previsível.

Erro de avaliação de AVB e apenas SC vintage, nada mais. O que diz muito da inexperiência - impreparação? - do primeiro e ainda mais do ego do segundo.

Curiosamente, da mesma forma que AVB se colocou nas mãos de SC, o treinador como que, inadvertidamente, lhe devolveu o miminho. O facto é que SC está preso à sua declaração de integridade, à promessa de receber do FCP apenas até ao último dia de trabalho no clube. Não há dívidas antigas - de Pinto da Costa, portanto - que possam mudar isso; não há promoções de adjuntos - que deveriam ser motivo de orgulho, já agora - que tapem esse imenso Sol; e já vimos que não há sequer uma ponta de azedume que possa apontar a AVB ao longo de todo este tempo. Demasiado tempo!

Ou seja, Conceição devolveu a assistência, AVB só tem de empurrar: meu caro, chegou o momento de nos despedirmos, obrigado por tudo, é parte da história do FCP, esta é a sua casa, rebéubéu pardais ao ninho e adeus. A sua sucessão a mim diz respeito, se tiver sugestões, deixe na caixinha

Se SC exigir 28 milhões de indemnização, estará a delapidar um património que, ainda acredito, lhe é mais caro do que o dinheiro: o respeito e admiração da nação portista. Sinceramente, espero não me enganar nisto...

2. Bruno

Se a opção para o lugar de treinador for, conforme se vai falando, Vítor Bruno, devo dizer desde já que me parece ajuizada. Mesmo dando de barato que uma mudança profunda no método e na forma de abordar o futebol não sejam previsíveis, depois de mais de uma década de trabalho sob a liderança de SC, a simples emancipação significará alguma diferença. Não me parece plausível que Bruno seja Conceição segundo, mesmo tendo sido o seu homem de mão. A história está, aliás, repleta de exemplos que o confirmam, não obrigatoriamente no futebol. Pensarmos em Vitor Pereira não é um deles, no entanto. Mas VP era o cérebro do jogo de AVB. Dificilmente poderemos acreditar que ideias próprias de Bruno poderiam fazer caminho no quintal de Sérgio Conceição.

Por outro lado, todo o zumbido sobre as preferências de jogadores, sobre se Francisco quer ficar ou ir à sua vida - ele que tem 20% do dinheiro de uma transferência no bolso, pelo que a quererá tão choruda quanto possível, sobre traições ao líder e insultos nas redes sociais, não é mais do que a manifestação do recreio da escola secundária em que o FCP se foi paulatinamente transformando, às ordens do matulão popular e sob beneplácito do diretor cansado. Contarão pouco se o profissionalismo passar a regra e sob um comando eficaz, que não ditatorial.

Para além disso, Bruno parece ter perfil para encaixar numa estrutura maior do que ele só, sendo uma voz ativa e fundamental, mas uma e não a única. Assim, passa a ser importante o conhecimento que detém da realidade nacional, da do FCP em particular, a avaliação informada dos jogadores e a sua relação com eles. Ou vamos acreditar em Rodolfos da vida e achar que toda a gente detesta Bruno desde há dois dias, depois de 7 anos?

Por fim, e não por menos, será uma negociação - se não estiver já feita - aparentemente fácil e de acordo com as parcas possibilidades do clube.

3. Folha

Eu sou aquele tipo de pessoa irritante que fica meio aziada quando uma banda underground de que gosto chega à rádio. Parece que fui roubado e agora toda a gente possui um segredo que era meu. Isto estende-se à bola e a Mora. Pff, ai descobriram agora, foi? Digo eu, irónico, entredentes, a tremer de irritação. Aproveitemos, então, este momento de rara lucidez para felicitar todos os que descobriram, os que já sabiam e os que virão a conhecer. Somos felizes por viver os anos em que Mora - e Chico, já agora - marcará a nação azul e branca e também a outra, não vamos agora dizer-lhe as cores que parece que ficam mal ao rapaz.

A reboque, falemos de António Folha. É conhecida uma particular antipatia deste vosso criado pelo treinador da B. Nada a fazer, acho que não era o homem indicado, nem o lugar apropriado e ainda menos a altura certa. Não era de Folha que o projeto B precisava, sendo que também não era com uma equipa B que Folha sonhava. Folha precisa de competir, de somar pontos, de lutar por lugares, de preferência altos. Se tem ou não competência para isso, veremos quando lhe forem oferecidas as oportunidades - e creio que serão. Não correu muito bem em Portimão, mas acho que houve bons indícios que os resultados acabaram por esconder.

Acontece que o projeto B do FCP também não era bem um projeto. Era assim uma espécie de by the way temos aqui isto. E "disto", Folha sacou Francisco e agora Rodrigo. Sendo certo que os seus imensos talentos o tornavam mais ou menos inevitável. 

Mesmo sabendo que por entre esses também insistiu em Levi, privilegiou o pontinho em detrimento do desenvolvimento de potencial, deu demasiados minutos a quem nunca será A, atrasando o crescimento de uns quantos que poderão lá chegar, Folha somou épocas de resultados aceitáveis e descobertas interessantes. E muitos, muitos, nervos que me deu em momentos variados.

Sai agora e consta que recusou uma renovação a la Conceição, o que muito abona em favor do seu caráter. Curiosamente, ou talvez não, sei que sentirei a sua falta no Olival, quando decidir, lá da bancada, que tenho de mandar vir com o mister. 

Sem surpresa, estarei a torcer pelo seu sucesso e felicidade, mesmo se fico satisfeito com a sua saída. Quer dizer, assim no vácuo. Porque falta saber se atrás de Folha não virá, quem de Folha bom fará.

Outros disparates sobre bola, a vida e copos de 3 em 
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