De Bellingham a Gyokeres: a saúde ou a glória?

2 meses atrás 70

«Palavras à Sorte» é a rubrica diária dos jornalistas do zerozero durante o Euro 2024. Todos os dias, na Alemanha ou na redação, escrevemos um apontamento pessoal sobre a competição e todas as sensações que ela nos suscita.

Já é um clichê ouvir que os jogadores se sacrificam, que jogam várias vezes limitados, que nunca estão a 100 por cento das suas capacidades. Poucos atletas profissionais serão capazes de dizer que jogam sem uma pequena dor aqui ou ali, mazelas não impeditivas de competir. 

A maioria delas não são visíveis, mas não é o caso de Jude Bellingham. 

Foi público, logo após os quartos-de-final contra a Suíça, quando trocava de camisola com o seu ex-companheiro no Dortmund Manuel Akanji, que o inglês usa uma autêntica armadura negra no ombro esquerdo. 

Trata-se de uma proteção que limita a mobilidade do ombro, e é usada em casos de atletas que fazem repetidas luxações naquela articulação. A notícia aqui é que Bellingham já joga assim, pelo menos, desde novembro, altura do primeiro episódio de luxação no Real Madrid. 

Desde então, Bellingham já fez 36 (!) jogos com aquela proteção, incluindo a final da Liga dos Campeões. E foi sobre aquele ombro que Bellingham caiu no gesto corajoso e salvador do pontapé de bicicleta que contra a Eslováquia. O mesmo ombro que vai carregar os Ingleses na final de domingo. Bellingham recusou ser operado esta época e vai jogando assim, à espero que o azar não o finte. 

Não parecendo um grande feito, é admirável como estes atletas sacrificam o seu corpo em prol do próximo golo, da próxima vitória, da próxima taça, da glória no currículo. Seria bem mais fácil parar, resolver o problema e voltar a 100 por cento.

Vimos outros exemplos iguais este ano, como Gyokeres. O avançado jogou grande parte da temporada com o joelho amarrado, adiando o destino de uma operação a uma rotura de menisco à qual acabou por se submeter apenas após o fim da época. Haverá outros que, não tendo essas proteções visíveis, nós nem sonhamos que estão lesionados. 

Estes problemas retiram confiança aos jogadores, além das limitações físicas que implicam. No caso de Jude, qualquer choque, queda ou movimento não controlado pode deslocar o ombro esquerdo, mas a ambição parece ser maior que o medo. 

Qual o preço mais alto a pagar? Sacrificar o corpo ou perder os momentos mais importantes da carreira? Para a maioria destes jogadores parece que não há dúvidas: pagar mais tarde a fatura e ganhar no imediato. 

Talvez o meu conselho para os leitores seja mesmo: não tentem isto em casa. 

— Ria 🏴󠁧󠁢󠁥󠁮󠁧󠁿 (@itsjudithworld) July 6, 2024
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