De Rossi, o mais fiel dos gladiadores: «Tem tudo para ser técnico da Roma muito tempo»

6 meses atrás 50

Amores eternos. Relações que vão praticamente do cordão umbilical à morte, futebolisticamente falando, claro está. Esta realidade é cada vez mais inconcebível num mundo movido por interesses, jogos de bastidores e muito, muito dinheiro. Há muito que neste ofício a bola deixou de ser o único protagonista, mas o tempo encarrega-se de nos relembrar, de vez em quando, das exceções.

Em Roma, por exemplo, existem dois casos: Francesco Totti e... Daniele De Rossi. Nomes pesados na jornada da AS Roma, os dois são indissociáveis da maglia giallorossa. Não é possível imaginar a AS Roma sem nenhum deles e se Totti já não está diretamente ligado ao clube, o mesmo não se pode dizer de De Rossi. 

Depois de um arranque pouco feliz enquanto treinador, com apenas três vitórias em 14 jogos pelo SPAL 2013, o antigo médio do clube foi uma aposta arrojada da direção para substituir o português José Mourinho. Uma aposta inicialmente com prazo de validade - final da época - e atualmente, ao que parece, sem data para expirar. As melhorias com De Rossi foram tais que em Roma já se fala em prolongar o vínculo.

Roma não foi feita num dia... ou foi?

Diga-nos, caro leitor: quantas vezes não ouviu já a expressão Roma não foi feita num dia? Provavelmente perdeu-lhe a conta. E se é verdade que uma cidade não se ergue do dia para a noite, o mesmo parece não se poder dizer do clube romano.

Justiça seja feita: a AS Roma não estava propriamente mal sob a tutela de Mourinho. Venceu uma Conference League e esteve numa final da Liga Europa, isto tudo em anos consecutivos. Nos palcos europeus, o clube iniciou com o técnico português o caminho da ressurreição, mas no campeonato continuou longe de poder sonhar com o regresso à Liga dos Campeões.

Com De Rossi, no entanto, há espaço para acreditar. Porque as cidades não se fazem num dia, mas esta AS Roma mudou do dia para a noite e os resultados foram imediatos. O transalpino pegou na equipa em nono lugar, a cinco pontos dos lugares de Champions e, oito jogos depois, a AS Roma já é quarta classificada e o fosso para os lugares de acesso à liga milionária diminuiu para três pontos. Pelo meio, o apuramento para os quartos-de-final da Liga Europa foi assegurado.

@Getty /

Mas como se explica o sucesso de De Rossi nesta fase inicial? As várias mudanças na abordagem aos jogos ajudam a explicar. De forma natural, cada treinador tem a sua estratégia, mais ou menos ofensiva, e todas elas são válidas se daí se extraírem resultados. Mourinho teve sucesso à sua maneira, De Rossi está a tê-lo de uma maneira totalmente diferente.

A primeira mudança está logo no esquema. O antigo jogador romano recuperou a linha de quatro defesas e a equipa parte agora de um 4x3x3, muito embora use, em determinados momentos, um atleta mais recuado para sair a três na primeira fase de construção. Mas os principais traços que De Rossi tem implementado e que cortam com o passado estão relacionados com a forma como a equipa pressiona: marcação individual (HxH) e com linhas subidas, contrariamente a uma maior cautela e expetativa adotadas previamente.

Um choque de ideias completo, do maior conservadorismo ao maior dos atrevimentos na forma de jogar. Maior atividade na pressão, mais elementos a pisar terrenos adiantados para criar oportunidades de golo (sobretudo uma maior integração dos laterais no processo ofensivo) e, por fim, um dos grandes méritos do treinador De Rossi até ao momento: a recuperação total de Paulo Dybala para ser o maestro de uma orquestra corajosa e que quer dominar os adversários. 

La Joya tem 28 jogos, 14 golos e seis assistências esta temporada. Com De Rossi só não foi utilizado em dois jogos (Frosinone e Brighton) e nos outros dez fez oito golos e uma assistência. Parte do flanco, mas nunca fica preso a ele. Goza de uma liberdade de movimentos que traz o melhor de si ao jogo romano e o faz voltar a sorrir com uma bola no pé. Sorriem também aqueles que o veem.

«Vai exigir que vivam o clube como ele vivia»

Os resultados e o futebol praticado falam por si no que diz respeito ao treinador Daniele De Rossi. Mas para lá do treinador há uma pessoa e o zerozero procurou conhecê-la. Para isso, recorremos a Artur Moraes, antigo guarda-redes de SC Braga, Benfica e... AS Roma.

Antes de chegar a Portugal para representar os minhotos, o brasileiro passou duas temporadas na capital italiana, de 2008 a 2010. Nesse período pôde privar com alguém que hoje considera «antes de tudo, um amigo» e para quem só tem elogios.

«Estive com ele no balneário durante duas épocas e nesse tempo consegue-se perceber o porquê de hoje ser o treinador da AS Roma. É uma pessoa positiva, um companheiro. É muito exigente na busca pela perfeição. Tem um coração grande, olha para toda a gente da mesma forma», contou-nos. Segundo Artur Moraes, aquilo que se vê em campo é o mesmo que se vê fora dele: «É a mesma pessoa. Super competitivo, carismático e com liderança. Isso reflete-se hoje na figura de treinador.»

qPercebia-se que este seria um dos caminhos que podia seguir

Artur Moraes

Já dissemos que Daniele De Rossi é um dos maiores símbolos da AS Roma, a par de Francesco Totti. Afinal, 18 anos não são 18 dias. E ainda que Artur tenha vivido apenas duas dessas temporadas com o capitão romano, garantiu-nos que o amor do antigo internacional italiano pelo clube se percebe rapidamente. «Sente-se muito rápido, em cada ação dele no dia a dia. Conseguíamos perceber todos muito bem os valores da AS Roma», afirmou.

Por tudo isto, o antigo guarda-redes não tem dúvidas de que De Rossi pode continuar a ter sucesso durante muito tempo no clube: «Acho que o Daniele reúne todas as caraterísticas para ser treinador da AS Roma por muito tempo. Perseguiu a oportunidade e aplicou o seu conhecimento como treinador e ex-jogador para fazer esse grande trabalho.»

Pedimos ainda ao antigo guardião das redes romanas que traçasse o que considera poder vir a ser o perfil de De Rossi enquanto treinador, com base nas vivências com o ex-médio: «Um perfil extremamente apaixonado pelo jogo. É alguém que vai exigir todos os dias que os jogadores vivam o clube como ele vivia, principalmente num clube particular como é a AS Roma. Um jogo ofensivo, mas sobretudo viver intensamente o dia a dia do clube. Acho que é isso que reflete muito a figura do Daniele e que tem conseguido transmitir para os jogadores, que é um clube diferente, muito particular e que para se ter sucesso ali é preciso estar extremamente apaixonado pelo dia a dia e pelo que o move.»

@Getty /

«Partilhar o balneário com ele fez-me aprender o que é ser um jogador campeão, o que é necessário para estar ao alto nível. Foi uma referência para mim, porque treinava com a mesma paixão todos os dias. Estava sempre pronto a ir para o campo e treinar. Os campeões são assim», recordou o antigo bicampeão nacional, que reconheceu ainda que já se percebia que este podia ser um dos caminhos futuros do ex-companheiro. «Percebia-se que este seria um dos caminhos que podia seguir. Ainda era muito cedo para perceber o que pretenderia ser quando parasse, mas percebia-se que ser treinador podia ser um dos caminhos», atirou.

A liderança sempre foi caraterística inerente a este gladiador, pelo que não surpreendeu o episódio recordado por Artur Moraes: «Lembro-me de um momento difícil. Estávamos presos no balneário após um jogo no Olímpico e os adeptos queriam que fôssemos lá fora para dar uma palavra com a claque. O Daniele rapidamente, junto com o Totti, como deve fazer um capitão, assumiu a frente, fomos até lá e conseguimos dar a volta à situação. O ambiente naquele momento era quente e eles conseguiram dirigir as palavras certas para que tudo estabilizasse e pudéssemos seguir com o nosso trabalho.»

Figura de culto na história dos giallorossi e um líder por natureza, que está no bom caminho para tentar devolver o futebol de Liga dos Campeões pela primeira vez desde 2018/19. Assim é Daniele De Rossi, a solução inicialmente definida para o curto prazo e que agora se candidata a um contrato de maior duração.

Brasil

Artur Moraes

NomeArtur Guilherme Moraes Gusmão

Nascimento/Idade1981-01-25(43 anos)

Nacionalidade

Brasil

Brasil

Dupla Nacionalidade

Itália

Itália

PosiçãoGuarda Redes

Desp. Aves x Sporting - Taca de Portugal Placard 2017/2018 - Final 

Ler artigo completo