De SDUQ para SAD: Paços de Ferreira é o novo caso em Portugal

2 meses atrás 58

Vivem-se tempos de mudança em Paços de Ferreira. Nas últimas semanas, surgiram algumas notícias relativamente a uma decisão importante (entretanto aprovada pela maioria dos sócios) para o presente e futuro - a transformação da Sociedade Desportiva Unipessoal por Quotas (SDUQ) numa Sociedade Anónima Desportiva (SAD), um cenário verificado na maior parte dos clubes em competição na Liga Portugal Betclic e Liga Portugal SABSEG.

Paços de Ferreira
5 títulos oficiais

Isto acabou por colocar um ponto final neste modelo de organização e deixar apenas três equipas - nos dois escalões mencionados - como SDUQ. Já lá vamos. Antes, é necessário explicar as principais diferenças entre as duas formas de organização. Comecemos pelas exceções à regra.

A SDUQ trata-se de uma sociedade desportiva composta por quotas com apenas um sócio. Ou seja, o clube fundador será sempre o único sócio (assim como acionista exclusivo) e nunca poderá abdicar desse estatuto. Casa Pia, Gil Vicente e FC Arouca, emblemas que vão participar no principal escalão do futebol português em 2024/2025, ainda utilizam este modelo, ao contrário da maioria.

A maioria, exatamente. Nos últimos anos, as equipas portuguesas têm caminhado em direção à constituição de uma SAD, uma estratégia que permite captar financiamento proveniente do exterior, de modo a tentar atingir outro patamar competitivo. Benfica, FC Porto, Sporting, SC Braga, Vitória SC ou Marítimo, por exemplo: todos eles passaram para SAD, sendo que a percentagem pertencente ao respetivo clube varia bastante.

Antunes vai continuar mais um ano @Rogério Ferreira / Kapta+

Segundo o Decreto-Lei n.º 10/2013, de 25 de janeiro, publicado no Diário da República, essa percentagem, sendo ela igual ou superior a dez por cento, permite que continue a existir um «direito de veto» relativamente a algumas medidas como a «mudança da localização da sede e os símbolos do clube», assim como «designar pelo menos um dos membros do órgão de administração» para a SAD.

Ainda de acordo com o mesmo documento, verifica-se que é necessário um capital social mínimo de 1 milhão de euros ou 250 mil euros, mediante o modelo adotado, SAD ou SDUQ, respetivamente. Na Segunda Liga, por outro lado, os valores passam a 200 mil euros e 50 mil euros, respetivamente. 

Toque grego nas Caxinas

Já explicamos algumas das diferenças entre os dois modelos competitivos. Falemos, agora, de exemplos concretos. Tal como já referido anteriormente, apenas Casa Pia, Gil Vicente e FC Arouca utilizam a Sociedade Desportiva Unipessoal por Quotas. Quem foi o último emblema a abandonar este barco? Recorda-se, caro leitor? Foi há pouco tempo...

Já chegaram alguns jogadores do Olympiakos @Getty Images

A 15 de junho de 2024, o Rio Ave escreveu um novo capítulo da sua história. «Foi oficialmente formalizada a transformação da Rio Ave Futebol Clube – Futebol SDUQ em Rio Ave Futebol Clube – Futebol SAD, tendo sido igualmente concluído o processo de aquisição de 80% do capital desta nova sociedade pelo investidor Rah Sports Investments Limited», referiram, na sequência de um comunicado emitido nas redes sociais.

Nesse sentido, a nova administração é constituída por Boaz Jacov Toshav (empresário israelista), Diogo Pinto Ribeiro (antigo diretor financeiro do Vitória SC), Alexandrina Cruz (presidente do clube) e Henrique Maia (presidente-adjunto). Não nos podemos esquecer, claro, de Evangelos Marinakis, acionista maioritário do Rio Ave e proprietário do Nottingham Forest e do Olympiakos.

«Cremos que este é o pontapé de saída de um ciclo de maior sucesso para o Rio Ave FC, na certeza de que este será um caminho para continuarmos a trilhar juntos, sob a mesma identidade e os mesmos valores. O Rio Ave FC é o que nos unirá sempre, com mais experiência, mais valor, procuraremos juntos a excelência, com a paixão rioavista de sempre», acrescentaram na nota.

Do Equador até Espanha, sem nunca esquecer Paços de Ferreira

Agora, ao que tudo indica, irá começar uma nova era no Paços de Ferreira juntamente com o Celta de Vigo (Espanha) e o Independiente del Valle (Equador), fruto de um projeto indicado pela Gestitufe, do conhecido empresário português Jorge Mendes, que já tem influência em algumas equipas do nosso campeonato.

Jorge Mendes reforça importância no futebol português @Getty / Sam Bagnall - AMA

Os espanhóis terminaram a última Liga EA Sports no 13º lugar, fruto de 14 vitórias, 11 empates e 18 derrotas. Algumas caras conhecidas (Mihailo Ristic, Jonathan Bamba ou Iago Aspas) permitem solidificar o propósito do emblema de Vigo.

Os equatorianos, por sua vez, perderam na final do último campeonato diante do LDU Quito, não conseguindo arrecadar outro troféu para o museu. Mas o projeto, que contou recentemente com Renato Paiva como treinador, vai dando frutos. Várias jovens promessas já estão a experienciar o futebol europeu - Moisés Caicedo, Kendry Páez (assinou pelo Chelsea) ou Alan Minda - e demonstram que existe bastante qualidade nas escolas de formação do clube. Outro ponto de partida na Capital do Móvel?

Os sócios do Paços manifestaram as suas intenções numa cerimónia com valores recorde - cerca de 600 pessoas deslocaram-se até ao Pavilhão EB 2/3 de Paços de Ferreira para votar. Segundo informações veiculadas pela imprensa nacional, os novos investidores ficarão com 80 por cento da SAD e vão injetar dez milhões de euros. Um balão de oxigénio há muito ambicionado por Paulo Meneses, presidente do clube.

Paulo Meneses contente com o passo dado @Paços de Ferreira

«Podemos resistir até ao limite das capacidades, mas acho que o futebol caminhou para algo que deixou de ser desporto e passou a ser uma indústria. Começa a ser difícil resistir e encontrar soluções para sustentabilizar o clube», disse, em declarações reproduzidas pela Rádio Renascença.

Se as negociações chegarem a bom porto, teremos um novo Paços de Ferreira a partir de então. Ricardo Silva, treinador de 42 anos, é o escolhido para comandar a equipa na nova temporada que está ao virar da esquina.

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