Depois de França, a esquerda radical espanhola quer consagrar o aborto na Constituição

6 meses atrás 56

Malvestida - Unsplash

Apesar de o Governo espanhol descartar, para já, a possibilidade de inscrever o aborto na Constituição por falta de "consensos", o partido de esquerda radical Sumar, parceiro dos socialistas no governo de esquerda de Espanha, anunciou esta quarta-feira que pretende "abrir o debate" para consagrar a interrupção voluntária da gravidez na Constituição espanhola, para seguir o passo histórico dado por França na segunda-feira.

"A França e as suas mulheres mostraram que o progresso é possível e necessário", declarou o partido liderado por Yolanda Diaz, ministra do Trabalho e número três do governo de esquerda de Pedro Sánchez, na rede social X. "Hoje, propomos introduzir na Constituição o direito à Interrupção Voluntária da Gravidez", anunciaram.

Francia y sus mujeres han demostrado que se puede y se debe avanzar.

Hoy proponemos introducir en la Constitución el derecho a la libre interrupción del embarazo.

Es el momento de garantizar plenamente los derechos de todas las mujeres. pic.twitter.com/qiemtsVEX7

— Sumar (@sumar) March 6, 2024

O anúncio foi feito, a dois dias da celebração do Dia Internacional dos Direitos da Mulher, que se celebra a 8 de março, e poucas horas depois de a ministra espanhola da Igualdade, Ana Redondo, ter dito que em Espanha "não estão reunidas as condições políticas" para imitar o passo em frente dado em França. 

Durante a apresentação da campanha para a celebração do dia 8-M, na próxima sexta-feira, Ana Redondo considerou que neste momento não existe o "consenso muito amplo" exigido pela Carta Magna espanhola para conseguir uma reforma desta magnitude.

"É o momento de avançar"

No entanto, as deputadas do partido Sumar não concordam com a posição do Governo e defendem que "é tempo de garantir plenamente os direitos de todas as mulheres". Yolanda Díaz considerou, na rede social X, que "decidir sobre os nossos corpos é um direito que tem de estar inscrito na Constituição (espanhola)".

Decidir sobre nuestros cuerpos es un derecho que tiene que estar recogido en la Constitución.

Las mujeres francesas nos han mostrado el camino: tenemos que blindar el derecho a la interrupción voluntaria del embarazo.
pic.twitter.com/9GFDKcMI8y

— Yolanda Díaz (@Yolanda_Diaz_) March 6, 2024

Numa conferência de imprensa, esta quarta-feira no Congresso, a porta-voz do Sumar disse que chegou a altura de “avançar” nesta matéria e convidou os outros partidos políticos a promoverem esta alteração constitucional. "Hoje, convidamos todos os partidos políticos com os quais já tivemos conversações para abrir este debate social", afirmou Aina Vidal.

Incluindo o PSOE, de Pedro Sánchez, que espera que "mude de ideias" e o Partido Popular (PP), de Alberto Núñez Feijóo, que atualmente não reconhece o aborto como um direito fundamental. Em maio de 2023, o líder do PP considerou que o aborto é um "direito da mulher" mas não "um direito fundamental".

Em reação ao discurso da ministra espanholda da Igualdade, Ana Redondo, a porta-voz do Sumar Aina Vidal disse: "Não posso imaginar que o PSOE não participe nesta luta pela emancipação das mulheres". Confiante numa mudança de posicionamento, acrescentou: "Vão mudar de opinião e compreender que isto tem a ver com o direito à vida e à liberdade".

"Ser mãe é uma opção, não uma obrigação"

Dois dias depois de França se ter tornado no primeiro país do mundo a inscrever explicitamente a Interrupção Voluntária da Gravidez (IVG) na sua Constituição, na sequência de uma votação esmagadora a favor do Parlamento francês, a esquerda radical espanhola quer seguir o passo histórico dado pelos vizinhos.

Esta quarta-feira, a porta-voz do Sumar destacou a importância de "abordar o debate" no Congresso espanhol e, em geral, na sociedade espanhola. "Ser mãe é uma opção, não uma obrigação", insistiu defendendo que "sê-lo ou não" não faz de nenhuma mulher "menos mulher nem menos pessoa".

c/agências

Ler artigo completo