Em vésperas das eleições presidenciais norte-americanas de 2016, surgiram algumas sátiras a Donald Trump protagonizadas por famosos do grande ecrã.
Entre algumas versões de Trump, encontra-se a do conhecido ator norte-americano Johnny Depp, revelando, mais uma vez, os dotes de camaleão.
Quase irreconhecível, Depp interpreta o papel de Donald Trump no final da década de 80 remetendo o argumento da sátira para a época em que - o já empresário de sucesso -, vive os louros de um livro (real) lançado em 1987, com o título “The Art of the Deal” (A Arte do Negócio) e creditado a Trump e ao jornalista Tony Schwartz.
O filme estreou em 2016, quando Donald Trump garantiu o primeiro lugar entre os candidatos republicanos nas primárias de New Hampshire.
Johnny Depp em The Art of the Deal
No canal de comédia online de Adam McKay, Funny Or Die, a espécie de documentário-caricatura arranca com a apresentação feita pelo ator e produtor norte-americano, Ron Howard, que explica o filme como se tivesse encontrado uma relíquia, gravada em cassete VHS.
O filme de 50 minutos, com tom desbotado, retrata Trump como um sociopata megalomaníaco que assina, dirige, produz o “documentário” sobre si próprio.
"Funny or Die apresenta The Art of the Deal: The Movie, de Donald Trump" | Página da rede social X do canal Funny Or Die
O argumento real foi escrito por Joe Randazzo, um ex-editor do The Onion, enquanto Jeremy Konner, um criador da série de televisão "Drunk History", dirigiu a paródia, onde Trump se revela obcecado em comprar o casino Taj Mahal em Nova Jersey de Merv Griffin.
Johnny Depp foi então desafiado para protagonizar "Funny or Die apresenta Donald Trump's The Art of the Deal: The Movie".
Depp em entrevista no pragrama da BBC, The Graham Norton Show, em 2016, conta como McKay o abordou: "Que tal gravares um filme em quatro dias? Eu gostei da ideia. Depois disse-me, que tal desempenhares o papel de Donald Trump. E eu amei a ideia".
"Confesso que não quis saber se era capaz ou não de o interpretar, queria mesmo era tentar", acrescentou o ator.
No texto do argumento de Randazzo sugem frases como "Pessoas bem-sucedidas estão sempre ao telefone, mesmo quando não há ninguém do outro lado da linha, ok", que ajudam a contextualizar a caricatura.
Numa outra linha de texto, Trump (Depp) revela-se convencido de que está sempre certo e rebate uma acusação de ser intolerante, com o ator a imitar a cadência da fala bem conhecida do candidato republicano: "Eu amo as minorias - elas são sensuais... elas são exóticas...".
Na paródia, ainda aparece o ator Christopher Lloyd, recuperando o seu papel de cientista e professor Dr. Brown do filme Regresso ao Futuro – a retratar um momento de ter viajado até 2016 e agora regressa a 1988 com a notícia “catastrófica” de que Trump tinha sido eleito para o cargo de presidente dos EUA.
Sátira atrás de sátira, Depp acompanha um Trump de 40 e picos anos, menos rouco mas já com todos os gestos das mãos, jeitos da boca sem esquecer o icónico “OK”.O ator norte-americano, saído da saga de sucesso dos Piratas das Caraíbas, contava em várias entrevistas como é dificil falar no ritmo de Trump, até porque "não ele consegue terminar frases longas", refugiando-se em frases curtas.
Ao programa televisivo britânico Depp explica a dificuldade de falar no ritmo de Trump, associando as falas, gestos tiques e remata: “Ninguém pode querer ser realmente Donald Trump”.
Trump e The Tonight Show de Jimmy Fallon
Jimmy Fallon, o apresentador do programa de entrevistas The Tonight Show, na cadeia de televisão NBC, em 2016, antes das eleições recebeu o então candidato Donald Trump. Durante a entrevista, Fallon desafiou Trump a algo audaz: despentear a franja loura.
Depois do episódio, Fallon passou a colocar uma peruca a condizer para fazer piadas em torno de Trump.
Alec Baldwin ganha Emmy com caricatura perfeita
Mais uma vez, a campanha eleitoral de Trump em 2016 deu o mote ao ator Alec Baldwin para abraçar o papel-caricatura e interpretar o então candidato presidencial.
As atuações no programa Saturday Night Live (SNL), também na NBC, valeram a Baldwin o prémio Emmy, atribuído a profissionais de televisão, em 2017. "Finalmente, senhor presidente, aqui está o seu Emmy", disse Baldwin ao receber o prémio, citado na Forbes.
Baldwin aproximou-se da figura de Trump recorrendo, não só a uma peruca loura ou a um beicinho exagerado, mas também absorveu os gestos, o olhar franzido e os padrões de fala, amplificando-os no tom certo, para reforçar o discurso do republicano.
Sobre a popularidade do seu papel, o ator norte-americano sublinhou que a caricatura funciona como "um narcótico para as pessoas", e em particular, no caso de ser uma figura como Trump, mais ainda.
À publicação Vulture, Baldwin acrescentou:"Não apenas eu, mas qualquer um que faça algo que satirize Trump, acaba por ser uma forma de aliviar o medo e a ansiedade da população".
Trump acabou a atacar a representação, mas Baldwin devolveu resposta: "Senhor Trump, sabe o que eu faria se fosse o presidente? Eu estaria focado em como melhorar a vida do maior número possivel de americanos".
E ainda Meryl Streep
Meryl Streep, considerada uma das melhores atrizes de Hollywood, está habituada a vestir a pele de figuras políticas como Margaret Thatcher e Emmeline Pankhurst.
Desta vez, Streep subiu ao palco para uma interpretação de um Donald Trump machista. Em junho de 2016, ainda decorria a campanha eleitoral, a sátira foi realizada na Gala Shakespeare, no Teatro Delacorte, situado no Central Park em Nova Iorque.
Embora numa versão exagerada, não faltou a franja loura nem a gravata vermelha, tal como o magnata usa.
Na versão de Streep, Trump canta uma variação de “Brush Up Your Shakespeare”, de Cole Porter, retirado do musical “Kiss Me, Kate”, contracenando com Christine Baranski que faz de Hillary.
A performance, tipicamente cantada por dois homens, consistiu num debate cantado onde o assunto sobre igualdade de género deu o mote, isto porque Hillary era a primeira mulher na história dos Estados Unidos a ser a candidata presidencial de um grande partido. Streep já tinha demonstrado apoio à candidata democrata Hillary Clinton.
"O Aprendiz"
Em 2024, novamente em período de campanha para as presidenciais, Donald Trump volta a dar o mote para um novo filme.
Lançado recentemente com o título de “O Aprendiz”, a grande metragem foca-se nas décadas de 1970 e 1980, quando Trump (interpretado por Sebastian Stan) estava a implantar-se em Nova Iorque como magnata imobiliário.
O argumento centra-se no seu relacionamento com o advogado e mentor Roy Cohn (interpretado por Jeremy Strong), que incutiu diversos valores a Trump, como “nunca admitir a derrota”.
"O Aprendiz" não pretende satirizar Donald Trump, propõe-se sim, descrever a "evolução gradual" do milionário na sociedade norte-americana.
"O filme é sobre como Trump foi criado, de certa forma, como ele se tornou quem é hoje, a sua estrutura moral, filosófica e política, e muito disso se origina em Roy Cohn, então, nesse sentido, é uma história das origens” sublinha Strong, citado na BBC.
“Nenhum de nós estava interessado em simplesmente difamar ou demonizar esse tipo de pessoas. O meu trabalho como ator é deixar o julgamento à porta”, acrescentou Stan.
O cineasta iraniano-dinamarquês Ali Abbasi assinou a realização do filme e conta que “no [festival de cinema] de Cannes e fomos aplaudidos de pé e ficamos todos lisonjeados”.
Já nos EUA, após ter estreado em outubro, “O Aprendiz” tem tido dificuldades de bilheteira.
Trump faz de si próprio
Donald Trump, antes de ser eleito em 2016 como o 45º Presidente dos EUA, sempre foi um homem dado à tela e a prova está em dezenas de participações especiais feitas em filmes, séries de televisão e mesmo anúncios.
Quase sempre a fazer de sí próprio, o milionário apareceu a primeira vez em 1989 junto de Bo Derek em Ghosts Can´t Do It.
Em 1992, o filme "Sozinho em Casa 2" contou com uma breve participação de Trump. O magnata tinha acabado de comprar o Plaza Hotel em Nova Iorque e terá pressionado a produção para aparecer no filme, em troca, facilitaria as filmagens no edifício. Mais tarde, Trump negou tal pressão.
Os filmes "Eddie", com Whoopi Goldberg e "Wall Street: o dinheio nunca dorme" com Michael Douglas, ou a série "Sexo e a Cidade" são mais alguns exemplos onde Trump fez de si próprio.