«Desconfiança» e «desagrado» em Vizela: «O navio a afundar e nós a tocar violino»

6 meses atrás 98

«Sentimos desconfiança em torno dos verdadeiros interesses no clube»

Contestação, parte I. Contestação, parte II. O sentimento de  revolta não é recente e tampouco uma novidade: o Vizela não vive um período de paz entre adeptos e SAD.

Victor Hugo Salgado - presidente da Câmara Municipal de Vizela -, foi, de resto, a face do descontentamento após a derrota pesada diante do Casa Pia. O presidente da câmara arrasou a SAD do clube vizelense e deu o mote: levantou questões e assumiu uma posição clara perante o panorama atual do clube.

FC Vizela
4 títulos oficiais

«A continuar assim, vamos ter de tomar posições profundas sobre isto. Se for preciso criar condições para impedir a própria SAD de entrar no próprio estádio, estou aqui ao lado dos adeptos», referiu o presidente, revoltado, com Toni Dovale, diretor desportivo espanhol do emblema minhoto.

Posto isto, depois de um salto súbito - do Campeonato de Portugal para a Primeira Liga - em três anos, o Vizela viveu dois anos de Primeira, mas, agora, arrisca-se a cair novamente para os palcos secundários. Em 17º lugar - lugar de despromoção -, e com uma política desportiva assente em técnicos espanhóis, a experiência da nova SAD não deu os frutos que esperavam.

Uma nova SAD, vários espanhóis desconhecidos e um projeto de pouco sucesso, até ao momento. Tendo isto em conta, o zerozero abordou dois adeptos do clube vizelense, de modo a perceber as motivações do desagrado, e falou ainda com Emanuel Simões - ex-treinador do Vizela e ex-diretor desportivo do Santa Clara - para ter uma visão mais empírica sobre as decisões tomadas pela SAD.

«Houve algum desinvestimento»

Emanuel Simões, ex-diretor desportivo do Santa Clara e ex-técnico do Vizela (o quinto treinador com mais jogos no clube minhoto), recordou um clube «especial» e apontou os principais problemas da SAD vizelense.

«O Vizela é um clube especial e foi um dos locais onde melhor me senti a treinar: pelas pessoas, pelos adeptos... É um clube com uma mística e com uma forma de estar distinta da maior parte dos clubes em Portugal. Os adeptos vivem e vibram muito com o Vizela. É algo muito parecido com o Vitória SC», começou por introduzir ao nosso portal.

Emanuel Simões liderou o Vizela em 2013/2014 e 2014/2015 @Catarina Morais / Kapta +

Em relação aos problemas do clube e, principalmente, da SAD, no que diz respeito à política desportiva, Emanuel realçou o «desinvestimento» e um fator chave: «falta de experiência».

«Olhando de fora, e conhecendo um pouco as pessoas que estão no clube, o Vizela olhou um pouco mais para a vertente financeira. Parece-me que houve algum desinvestimento, apesar do Vizela ter um plantel suficientemente bom para estar numa posição mais confortável.»

«Mas, reitero, parece-me que houve uma maior aposta na questão financeira de modo a equilibrar contas, até porque o Vizela tem melhorado as condições, tem investido em infraestruturas - campos de treino, por exemplo - e, nestas alturas, os clubes de dimensão menor sofrem um pouco no lado desportivo», atirou mostrando-se pouco surpreendido com as apostas em Pablo Villar e Rubén de la Barrera.

«É normal os investidores procurarem alguém que conhecem e da sua confiança, alguém da sua linhagem digamos assim. O futebol é assim hoje em dia. Mas, em determinada altura, quando os erros acontecem, as pessoas têm de perceber a realidade do futebol português e se calhar, quando o Pablo Villar saiu, deveriam ter procurado alguém que conhece o futebol português. O grande desiquilíbrio este ano, na parte desportiva, foi a falta de experiência.»

«Estamos todos desiludidos»

Vizela regista um total de quatro vitórias para o campeonato @Catarina Morais / Kapta +

«O navio a afundar e nós a tocar violino à espera que as coisas mudem»

Jorge Oliveira, enfermeiro, e João Caldas, técnico adjunto na AD Ovarense, são, à semelhança de Victor Hugo Salgado, dois dos milhares de adeptos muito desapontados com o rumo do Vizela. Jorge assumiu, por um lado, existir um claro sentimento de «desconfiança», ao passo que João revelou estar «desagradado» e «desiludido» com a SAD.

«É um sentimento de desagrado. Estamos todos desiludidos com a gestão e o planeamento que foi feito. Ninguém percebeu o projeto da SAD. Os assobios no último jogo foram mais para a estrutura do que propriamente para o treinador», começou por dizer João Caldas.

«Sentimos desconfiança em torno dos verdadeiros interesses no clube. Tomaram decisões incompreensíveis. Contrataram treinadores sem conhecimento do futebol português, ou com experiência para este nível», introduziu Jorge Oliveira.

q O maior problema foi que o Vizela sempre teve uma identidade: uma equipa aguerrida, de lutadores e falta muito isto

Emanuel Simões, ex-técnico do Vizela

Dois sentimentos que se completam. Jorge e João partilham a incerteza e o desconhecimento por de trás das decisões da SAD minhota e destacam, acima de tudo, os perfis dos técnicos contratados: Pablo Villar e Rubén de la Barrera.

«Quando o Pablo Villar foi apresentado toda a gente perguntou: 'quem é o senhor que está aqui?'. Nem o administrador da SAD, nem o diretor desportivo ainda explicaram o quer que seja.  Sentimos que não passa nada para os adeptos e ninguém dá a cara. A confiança é quase nula. Se a primeira experiência correu mal e vão buscar um treinador do mesmo estilo... À partida não vai correr muito bem. Mesmo que o Vizela permaneça na Primeira Liga, tem de haver uma reestruturação muito grande e uma mudança», anotou João Caldas.

«Não sinto diferenças positivas entre o futebol de Rúben de la Barrera e o futebol de Pablo Villar. O navio a afundar e nós a tocar violino à espera que as coisas mudem. Estamos com dificuldades em sair da espiral negativa e os jogadores não têm culpa na minha opinião. A cada semana que passa, a crença de ficar na Primeira Liga reduz-se», sublinhou Jorge Oliveira.

«Despediram o Álvaro Pacheco sem justificação»

@Catarina Morais / Kapta +

Para João Caldas, tudo começou aqui: despedimento de Álvaro Pacheco, o treinador que ergueu o clube e conquistou os adeptos vizelenses. Por outro lado, Jorge mostrou-se triste, acima de tudo, com a falta de clareza nas decisões tomadas. 

«Na anterior SAD havia uma ligação muito grande à cidade, às entidades públicas, ao clube e aos adeptos. O descontentamento não advém dos maus resultados, mas sim de não perceber as decisões que levaram a estes maus resultados», sublinhou Jorge Oliveira.

Por último, Emanuel - de forma mais pragmática -, sublinhou que o principal problema, com a saída de Álvaro Pacheco, deveu-se a uma questão de «ausência de identidade».

Álvaro Pacheco
FC Vizela
Total

120 Jogos
55 Vitórias
32 Empates
33 Derrotas

199 Golos
143 Golos sofridos

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«O Álvaro, quando saiu, estava numa fase muito má no Vizela, mas tinha criado uma identidade. O futebol é muito volátil e, embora reconheça o bom trabalho do Álvaro, acho que o problema não foi ele sair. O maior problema foi que o Vizela sempre teve uma identidade: uma equipa aguerrida, de lutadores e falta muito isto.»

«Algo que deveria ter sido encontrado ou construído. O Vizela, Vitória SC, ou até mesmo o Varzim, são clubes muito especiais e a equipa deve ter um perfil parecido com os adeptos. Esta foi a grande lacuna», esclareceu Emanuel Simões.

«Nós em Portugal temos de evoluir para modelos onde os clubes têm o seu modelo, perfil e identidade. E depois, sim, contratam treinadores que se enquadrem no perfil. O Álvaro, por exemplo, é um excelente treinador, mas precisa de clubes que realmente vivam o futebol, como o Vitória SC. É o casamento perfeito», rematou o ex-diretor desportivo do Santa Clara em 21-22.

Espanha

Rubén de la Barrera

NomeRubén de la Barrera Fernández

Nascimento/Idade1985-01-18(39 anos)

Nacionalidade

Espanha

Espanha

FunçãoTreinador

 Portimonense x Vizela

 Vizela x Estoril

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