Dificuldade no acesso a medicamentos. Baixo rendimento alia-se a outros problemas

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Entre 2021 e 2023, a probabilidade de idosos não conseguirem comprar todos os medicamentos necessários mais que duplicou, subindo de 3,93% para 9,01%.

O Governo aprovou a gratuitidade dos medicamentos para cerca de 140 mil idosos beneficiários do Complemento Solidário para Idosos (CSI), que antes pagavam 50% do valor dos medicamentos. A medida será automática nas farmácias, sem necessidade de reembolso. Além disso, o CSI foi aumentado em 50 euros em junho e a condição de recursos dos filhos para a atribuição do apoio foi eliminada. O Primeiro-Ministro Luís Montenegro destacou que estas mudanças visam combater a pobreza entre os idosos e prometeu um aumento gradual do CSI para alcançar 820 euros até 2028.

No entanto, o problema do acesso aos medicamentos por este segmento é grave em território nacional. Entre 2021 e 2023, a probabilidade de idosos não conseguirem comprar todos os medicamentos necessários mais que duplicou, subindo de 3,93% para 9,01%. Este aumento pode ser atribuído à inflação e às dificuldades financeiras agravadas. Idosos em situações de maior pobreza enfrentam as maiores dificuldades, com uma probabilidade de 26,67% de não adquirir todos os medicamentos, comparado a 2,1% entre os mais abastados.

O estudo, realizado pela Iniciativa para a Equidade Social, também revelou uma diminuição no número de idosos com médico de família, de 94,86% em 2020 para 81,13% em 2023. Além disso, a falta de acesso a medicamentos e cuidados médicos é mais pronunciada entre os idosos devido à sua maior privação económica. Para enfrentar esses problemas, os investigadores recomendam reduzir a pobreza entre os idosos e adotar medidas mais abrangentes de apoio à aquisição de medicamentos.

E este estudo não é único. Em 2020, Cátia Oliveira defendeu a dissertação de mestrado Identificação das Dificuldades no Acesso e Utilização dos Medicamentos pelos Idosos na Universidade de Coimbra. A pesquisa combinou métodos qualitativos e quantitativos, incluindo entrevistas e questionários com idosos, familiares e profissionais de saúde, além da análise de dados sobre consumo e acesso a medicamentos.

Muitos idosos enfrentam dificuldades financeiras que impedem a compra de medicamentos essenciais, especialmente em contextos de baixo rendimento ou insuficiência de apoios financeiros. Por outro lado, a falta de clareza nas informações fornecidas pelos profissionais de saúde e dificuldades na compreensão das prescrições contribuem para o uso inadequado dos medicamentos. A distância e a falta de transporte para farmácias e unidades de saúde dificultam o acesso regular aos medicamentos e acompanhamento médico e, para além disto, a burocracia e a complexidade do sistema de reembolsos e comparticipações podem criar obstáculos adicionais para a aquisição de medicamentos.

As dificuldades identificadas levam a uma adesão inadequada aos tratamentos prescritos, o que pode comprometer a eficácia do tratamento e a saúde geral dos idosos. A incapacidade de obter e usar medicamentos apropriados afeta negativamente a qualidade de vida dos idosos, aumentando o risco de complicações e hospitalizações.

A autora sugere a implementação de políticas que facilitem o acesso a medicamentos, como a redução de custos e a melhoria dos serviços de transporte e logística. Recomenda também a ampliação dos apoios financeiros e subsídios para medicamentos, especialmente para idosos em situação de vulnerabilidade económica. E apela à melhoria da comunicação entre profissionais de saúde e doentes para garantir que os idosos compreendam claramente as prescrições e a importância do tratamento.

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