Direita radical torna-se "cada vez mais aceitável" depois de entrar no Parlamento

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02 fev, 2024 - 09:10 • Hugo Monteiro

O investigador da Universidade de Oxford reconhece que, “quando uma determinada ideologia é proibida, as pessoas ficam mais próximas dela”.

“É cada vez visto como mais aceitável ser-se de direita radical, ter-se ideias de direita radical e fazerem-se coisas típicas da direita radical”, porque a entrada de partidos deste espaço político nos parlamentos veio trazer “legitimidade” a quem defende essas ideologias. A tese é defendida à Renascença pelo investigador em Ciência Política da Universidade de Oxford, Vicente Valentim.

A poucos meses de lançar um livro sobre a normalização da direita radical, este especialista diz que “se, antigamente, havia pessoas que até estivessem dispostas a participar num protesto” promovido pela direita radical, “mas que não o faziam porque achavam que isso ia ser a mal visto por outras pessoas que elas conhecem, pelos amigos ou pela família”, agora essas pessoas “sentem muito menos pressão social para se abster de ter comportamentos” próprios da direita radical. Daí poderem acontecer, com mais regularidade, manifestações desta área política.

“Um dos momentos chave neste processo de normalização é, precisamente, quando a direita radical entra no Parlamento. A partir desse momento, significa que há um número suficiente de pessoas” que têm as mesmas ideias. Isto faz com que os militantes “se sintam um bocadinho menos sozinhos e isolados na sociedade”.

“Por outro lado, o facto de estarem no Parlamento também dá uma espécie de selo de legitimidade a esses partidos e, por consequência, às pessoas e às suas ideias”, resume Vicente Valentim.

O investigador da Universidade de Oxford reconhece que, “quando uma determinada ideologia é proibida, as pessoas ficam mais próximas dela”.

“Receio que aconteça uma coisa parecida com a proibição dos protestos. Agora, mesmo que esse seja um risco, é preciso contrabalançá-lo com os efeitos que pode ter. Ou seja, pode ser que valha a pena correr o risco de as pessoas de direita radical intensificarem as suas ideias políticas, se houver um ganho em termos de reduzir violência e de proteção de minorias”, sintetiza, quando questionado sobre a decisão da Câmara de Lisboa de não dar autorização à manifestação anti-Islão.

Sobre se uma manifestação como a inicialmente agendada para a capital portuguesa poder gerar episódios de violência, Vicente Valentim diz “haver razões para temer que isso seja uma possibilidade”, embora seja também “muito difícil saber se isso vai efetivamente acontecer”.

No entanto, o facto de haver “um protesto que é tão dirigido a certas minorias, à sua integração, ao seu direito de viver num país, é, só por si, de uma de uma violência simbólica bastante grande”, sublinha o autor do livro sobre a normalização da direita radical, que deverá ser lançado após o Verão.

"Em que momento da História é que a extrema-direita foi solução para alguma coisa?"

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