Diretora do MAC/CCB quer museu "vivo e habitado" por todos os públicos

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A historiadora e curadora espanhola entrou em funções há cerca de dois meses e está a preparar as futuras programações, a começar pela celebração de um ano, em outubro, do museu que veio tomar o lugar do antigo Museu Coleção Berardo, em Lisboa.

"Os museus têm de habitar-se, de estar vivos e fazer parte da vida, e os países do Sul permitem isso", disse a historiadora de 57 anos numa entrevista à agência Lusa a propósito do seu projeto para o espaço museológico que renovou a sua identidade em outubro de 2023, após o fim do acordo entre o Estado português e o colecionador José Berardo.

Questionada pela Lusa sobre o perfil atual dos visitantes do museu e o público que pretende atrair para a programação futura, Nuria Enguita disse que a vertente da mediação foi uma das destacadas no projeto apresentado no ano passado ao júri do concurso internacional do CCB, para escolha de responsável pela direção.

"A mediação é um serviço público importante e temos de trabalhar para fazer com que o museu seja para todas as pessoas, incluindo as que pensam que não seja para elas", sustentou a historiadora que anteriormente dirigiu o Instituo Valência de Arte Moderna (IVAM), em Espanha.

Numa fase em que continua a descobrir e a "escutar com atenção" toda a estrutura do MAC/CCB, a curadora sublinhou a necessidade de desenvolver programas para famílias, crianças, adolescentes, adultos, e relacionar-se com universidades e comunidades específicas.

"O museu já tinha os seus programas, mas é preciso repensá-los e criar uma nova agenda, uma nova etapa para a ativação dos espaços e das coleções", apontou, acrescentando que espera receber "um público mais participativo e menos passivo".

Considera que o "grande desafio de todos os museus atualmente" é chegar a públicos como os adolescentes e outros grupos que "acham que o museu não fala para eles".

"Nos anos 1970 houve uma grande abertura, uma saída da História da arte para a vida e o mundo. Agora temos de unir as histórias do mundo com a arte e entender que a sociedade também muda com os museus. É um trabalho muito a longo prazo, mas a base do CCB é muito boa. É uma transformação lenta, mas é fundamental e acredito que se pode fazer", declarou a diretora, formada em História e Teoria da Arte pela Universidade Autónoma de Madrid, em 1990.

Recém-chegada a uma capital que já lhe era familiar pelo contacto com artistas e agentes culturais portugueses, nomeadamente em trabalhos colaborativos com os museus de Serralves, no Porto, e da Gulbenkian, em Lisboa, Nuria Enguita está focada em "pensar num programa na sua totalidade", em ligação a um centro cultural que tem outras disciplinas", nomeadamente a arquitetura e as artes de palco.

"Cada museu é único e localiza-se num lugar e num momento e há que trabalhar para esse espaço", sublinhou a responsável que ainda criou a programação do IVAM anunciada para este ano, que inclui a exposição "O poder com que saltamos juntas. Mulheres artistas em Espanha e Portugal entre a ditadura e a democracia", em colaboração com a Fundação Calouste Gulbenkian.

Sobre o perfil do público que pretende atrair para o MAC/CCB, não tem dúvidas de que é "um museu de arte moderna e contemporânea fundamental para toda a gente que visita Lisboa e que se interessa por cultura".

"O CCB está localizado numa cidade com grandes infraestruturas culturais e interessantíssima na sua vida cultural e social, e que está a mudar", observou à Lusa, apontado que as exposições temporárias que irá apresentar vão ter "um olhar a partir da capital".

"Para mim não há centros e periferias: cada lugar pode estabelecer um diálogo com o mundo e nele temos de trabalhar com artistas daqui e de fora, sempre numa posição localizada, num mundo global, trabalhando o território e os contextos mais próximos", disse a historiadora que, entre 2008 e 2015, organizou exposições em instituições espanholas e portuguesas como curadora independente.

Sobre os temas e artistas aos quais irá dar destaque em futuras exposições, a diretora artística recordou que a sua trajetória é marcada pela diversidade e por ter dado visibilidade a artistas que não a tinham, nomeadamente nos anos 1990, e foram depois reconhecidos.

Quanto ao orçamento para o museu no próximo ano, "ainda está a ser elaborado", e sobre os dois milhões de euros anunciados pelo anterior ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva, para aquisições de novas obras, a diretora artística disse que "há dinheiro disponível para aquisições que façam crescer a coleção" do MAC/CCB, mas escusou-se a avançar mais, nesta altura.

Inaugurado em 27 de outubro de 2023, o MAC/CCB reúne a Coleção Berardo - à quarda do CCB por decisão judicial, no âmbito de um processo da banca contra o colecionador José Berardo - acervo da Coleção de Arte Contemporânea do Estado (CACE), a Coleção Ellipse, adquirida pelo Estado, e a Coleção Teixeira de Freitas, deixada em depósito pelo colecionador.

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