Do blog ao dérbi de Belgrado para vencer «a equipa mais cara da história da Sérvia»

8 meses atrás 94

É ainda pouco conhecido entre a esfera mediática do futebol português, mas não haja dúvidas que, a par do clube que representa, se aproxima dos caminhos mais bem-sucedidos que o futebol pode oferecer. Natural de Torre de Moncorvo, Bruno Fidalgo cumpre a segunda época de ligação ao Partizan, mítico emblema sérvio que dobra o ano com a «promessa» de quebrar a recente hegemonia do grande rival, Estrela Vermelha. 

Difícil prever? Talvez. Certo é que o último jogo de 2023 trouxe a felicidade que fugia há dez partidas consecutivas no dérbi frente ao hexacampeão local, motivo suficiente para acreditar na viragem do sucesso, para o lado preto e branco da cidade de Belgrado. O aspeto mental agradece, a diferença orçamental esbate-se.

«O Estrela Vermelha tem o dobro do nosso orçamento»

«Foi uma prova para nós percebermos que conseguimos bater uma equipa desta dimensão. O Estrela Vermelha, neste momento, tem o dobro do nosso orçamento, o plantel tem o dobro do nosso valor. Não quero ser impreciso, mas as informações que tenho é que é a equipa mais cara da história da Sérvia. Houve um investimento muito forte feito para que as coisas corressem bem na Champions. Estamos a falar de um adversário realmente poderoso, por isso foi extremamente saboroso», realçou o jovem adjunto de Igor Duljaj, antigo lateral do clube e também do Shakhtar Donetsk.

O triunfo permitiu ainda a recuperação da liderança: «Era muito importante para nós. Na jornada anterior tínhamos perdido o primeiro lugar e, sabendo nós que era o último jogo do ano e que depois entramos numa pausa que ainda se prolonga durante muito tempo, era importante fazer esta segunda pré-época na liderança do campeonato [na Sérvia o campeonato pára entre fins de dezembro e início de fevereiro].»

Conhecido pelos ambientes tipicamente fervorosos, o dérbi de Belgrado é composto pelos mesmos «ingredientes» dos do futebol português, ainda que «a questão emocional» pese mais entre os jogadores locais.

«Um ambiente extraordinário. Toda a cidade envolvida desde muito cedo. Nas semanas anteriores, já se começa a sentir o ambiente e a pressão para ganharmos esse jogo. Vale muito mais do que três pontos e estamos conscientes disso. Três jornadas antes e já estavam a falar do dérbi! É um motivo de orgulho para a cidade», constatou.

«Temos um pressing bastante bom, é uma das nossas imagens de marca»

Com onze jornadas a disputar até ao fim da fase regular, o Partizan lidera com 47 pontos, mais um do que o eterno rival. Um caminho trilhado com individualidades em potência como Mihajlo IlićKristijan Belic ou o goleador Matheus Saldanha - todos de saída neste mercado de inverno - além de uma matriz de jogo perfeitamente estabelecida, por uma equipa técnica que tem nas ideias de Jürgen Klopp a principal inspiração.

Num momento de festa com Matheus Saldanha @Arquivo Pessoal

«Apresentamos qualidade. Ainda não é o futebol que idealizamos, mas também temos de ter em conta o contexto e como podemos meter as nossas ideias em prática. Somos uma equipa altamente pressionante, que tem um pressing bastante bom. É uma das nossas imagens de marca e somo-lo em 95 por cento dos jogos. Depois somos uma equipa que, sem ter uma construção muito elaborada a partir de trás, temos muita posse de bola, com um jogo ofensivo e combinativo», considerou.

Forte no ataque ao «corredor central», fórmula usada pelo Partizan para criar a maior parte dos lances de perigo, a combinação de vários jogadores com tais caraterísticas ajudou de sobremaneira a um processo, que não termina nas virtudes ofensivas: «Queremos ser agressivos em todos os momentos, com rápida reação à perda para explorar a desorganização do adversário.»

E o campeonato local, como se distribui ao nível da qualidade?: «Os oito primeiros são equipas que, entre si, produzem jogos muito competitivos, muito divididos. Pode haver surpresas a qualquer altura. Na parte baixa, as equipas são mais limitadas em termos individuais e isso traz-nos problemas 'giros' de resolver. O desnível é tão grande que é difícil manter a concentração e o rigor tático, quase como em Portugal quando se enfrentam clubes de escalões inferiores...»

«O Partizan surge por culpa dos anos de partilha no meu blog»

Na reta final da conversa com o zerozero, Bruno Fidalgo explicou quais as opções tomadas até ao ponto de entrar no radar do Partizan: «Comecei muito novo e fui para a faculdade já com a ideia de ser treinador. Comecei a treinar aos 19 anos no Teixosense, no meu segundo ano [de universidade] na Covilhã. Tive lá um professor excecional, que me fazia pensar muito, o professor António Vicente. Ao mesmo tempo lia muita coisa do que se passava na Universidade do Porto.»

Bruno Fidalgo foi adjunto de Alex e Bino Maçães no Vitória SC  @Arquivo Pessoal

«Senti que podia ser difícil, vivendo também no interior, de ter as oportunidades certas e de conhecer as pessoas certas. Fiz sempre por isso e uma das coisas mais importantes da minha carreira foi a criação de um blog que me permitiu expor muito das minhas ideias e da minha evolução. Na altura como analista, mas também como treinador essa partilha de ideias ajudou-me a chegar a pessoas mais importantes, conhecer treinadores», explicou.

Juntamente com André David iniciou o trajeto enquanto técnico, surgindo posteriormente o Vitória SC onde foi «adjunto dos misters Alex e Bino», com quem teve a oportunidade de trabalhar na equipa A: «Acabou rápido, sabia que corria esse risco, mas preferi corrê-lo e desfrutar da experiência na I Liga.»

O passo seguinte foi dado como treinador principal: «Surgiu a oportunidade de ser treinador no GS Loures, talvez o meu melhor trabalho até agora. Foi um ano muito enriquecedor, correu muito bem, mas não surgiram tantas oportunidades como eu gostaria. Fui brevemente para os juniores do Torreense e depois surgiu o Partizan.»

«Surge por culpa do que foi feito nos anos de partilha no blog... O Igor pediu alguém com o meu perfil e o Tiago Leal (adjunto do Lille), que eu não conhecia, lembrou-se de mim. Estou-lhe grato porque não o conhecia e acreditou no que tinha visto do meu trabalho», finalizou Fidalgo.

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