É ainda pouco conhecido entre a esfera mediática do futebol português, mas não haja dúvidas que, a par do clube que representa, se aproxima dos caminhos mais bem-sucedidos que o futebol pode oferecer. Natural de Torre de Moncorvo, Bruno Fidalgo cumpre a segunda época de ligação ao Partizan, mítico emblema sérvio que dobra o ano com a «promessa» de quebrar a recente hegemonia do grande rival, Estrela Vermelha. Difícil prever? Talvez. Certo é que o último jogo de 2023 trouxe a felicidade que fugia há dez partidas consecutivas no dérbi frente ao hexacampeão local, motivo suficiente para acreditar na viragem do sucesso, para o lado preto e branco da cidade de Belgrado. O aspeto mental agradece, a diferença orçamental esbate-se. «Foi uma prova para nós percebermos que conseguimos bater uma equipa desta dimensão. O Estrela Vermelha, neste momento, tem o dobro do nosso orçamento, o plantel tem o dobro do nosso valor. Não quero ser impreciso, mas as informações que tenho é que é a equipa mais cara da história da Sérvia. Houve um investimento muito forte feito para que as coisas corressem bem na Champions. Estamos a falar de um adversário realmente poderoso, por isso foi extremamente saboroso», realçou o jovem adjunto de Igor Duljaj, antigo lateral do clube e também do Shakhtar Donetsk. O triunfo permitiu ainda a recuperação da liderança: «Era muito importante para nós. Na jornada anterior tínhamos perdido o primeiro lugar e, sabendo nós que era o último jogo do ano e que depois entramos numa pausa que ainda se prolonga durante muito tempo, era importante fazer esta segunda pré-época na liderança do campeonato [na Sérvia o campeonato pára entre fins de dezembro e início de fevereiro].» Conhecido pelos ambientes tipicamente fervorosos, o dérbi de Belgrado é composto pelos mesmos «ingredientes» dos do futebol português, ainda que «a questão emocional» pese mais entre os jogadores locais. «Um ambiente extraordinário. Toda a cidade envolvida desde muito cedo. Nas semanas anteriores, já se começa a sentir o ambiente e a pressão para ganharmos esse jogo. Vale muito mais do que três pontos e estamos conscientes disso. Três jornadas antes e já estavam a falar do dérbi! É um motivo de orgulho para a cidade», constatou. Com onze jornadas a disputar até ao fim da fase regular, o Partizan lidera com 47 pontos, mais um do que o eterno rival. Um caminho trilhado com individualidades em potência como Mihajlo Ilić, Kristijan Belic ou o goleador Matheus Saldanha - todos de saída neste mercado de inverno - além de uma matriz de jogo perfeitamente estabelecida, por uma equipa técnica que tem nas ideias de Jürgen Klopp a principal inspiração. Num momento de festa com Matheus Saldanha @Arquivo Pessoal «Apresentamos qualidade. Ainda não é o futebol que idealizamos, mas também temos de ter em conta o contexto e como podemos meter as nossas ideias em prática. Somos uma equipa altamente pressionante, que tem um pressing bastante bom. É uma das nossas imagens de marca e somo-lo em 95 por cento dos jogos. Depois somos uma equipa que, sem ter uma construção muito elaborada a partir de trás, temos muita posse de bola, com um jogo ofensivo e combinativo», considerou. Forte no ataque ao «corredor central», fórmula usada pelo Partizan para criar a maior parte dos lances de perigo, a combinação de vários jogadores com tais caraterísticas ajudou de sobremaneira a um processo, que não termina nas virtudes ofensivas: «Queremos ser agressivos em todos os momentos, com rápida reação à perda para explorar a desorganização do adversário.» E o campeonato local, como se distribui ao nível da qualidade?: «Os oito primeiros são equipas que, entre si, produzem jogos muito competitivos, muito divididos. Pode haver surpresas a qualquer altura. Na parte baixa, as equipas são mais limitadas em termos individuais e isso traz-nos problemas 'giros' de resolver. O desnível é tão grande que é difícil manter a concentração e o rigor tático, quase como em Portugal quando se enfrentam clubes de escalões inferiores...» Na reta final da conversa com o zerozero, Bruno Fidalgo explicou quais as opções tomadas até ao ponto de entrar no radar do Partizan: «Comecei muito novo e fui para a faculdade já com a ideia de ser treinador. Comecei a treinar aos 19 anos no Teixosense, no meu segundo ano [de universidade] na Covilhã. Tive lá um professor excecional, que me fazia pensar muito, o professor António Vicente. Ao mesmo tempo lia muita coisa do que se passava na Universidade do Porto.» Bruno Fidalgo foi adjunto de Alex e Bino Maçães no Vitória SC @Arquivo Pessoal «Senti que podia ser difícil, vivendo também no interior, de ter as oportunidades certas e de conhecer as pessoas certas. Fiz sempre por isso e uma das coisas mais importantes da minha carreira foi a criação de um blog que me permitiu expor muito das minhas ideias e da minha evolução. Na altura como analista, mas também como treinador essa partilha de ideias ajudou-me a chegar a pessoas mais importantes, conhecer treinadores», explicou. Juntamente com André David iniciou o trajeto enquanto técnico, surgindo posteriormente o Vitória SC onde foi «adjunto dos misters Alex e Bino», com quem teve a oportunidade de trabalhar na equipa A: «Acabou rápido, sabia que corria esse risco, mas preferi corrê-lo e desfrutar da experiência na I Liga.» O passo seguinte foi dado como treinador principal: «Surgiu a oportunidade de ser treinador no GS Loures, talvez o meu melhor trabalho até agora. Foi um ano muito enriquecedor, correu muito bem, mas não surgiram tantas oportunidades como eu gostaria. Fui brevemente para os juniores do Torreense e depois surgiu o Partizan.» «Surge por culpa do que foi feito nos anos de partilha no blog... O Igor pediu alguém com o meu perfil e o Tiago Leal (adjunto do Lille), que eu não conhecia, lembrou-se de mim. Estou-lhe grato porque não o conhecia e acreditou no que tinha visto do meu trabalho», finalizou Fidalgo.«O Estrela Vermelha tem o dobro do nosso orçamento»
«Temos um pressing bastante bom, é uma das nossas imagens de marca»
«O Partizan surge por culpa dos anos de partilha no meu blog»