É preciso promover uma cultura laboral de combate ao estigma associado à doença mental

7 meses atrás 56

Um estudo europeu procurou identificar o estigma na prática clínica dos profissionais de saúde mental. contou com a participação de 4 245 psiquiatras e pedopsiquiatras de 32 países, entre os quais Portugal.

A promoção de uma cultura laboral que inclua iniciativas anti-estigma e a integração destas ações nos programas de formação em psiquiatria e pedopsiquiatria, bem como a pertinência da psicoterapia e da discussão de casos entre pares são algumas das recomendações de um estudo europeu, em que participaram 4 245 psiquiatras e pedopsiquiatras de 32 países, entre os quais Portugal.

O estudo, que se intitula Attitudes of psychiatrists towards people with mental illness: a cross-sectional, multicentre study of stigma in 32 European countries, liderado pela psiquiatra do Hospital Psiquiátrico Infantil e Adolescente de Vadaskert (Hungria), Dorottya Őri, foi publicado na revista eClinicalMedicine, editada pela The Lancet. Os investigadores procuraram analisar a relação entre as experiências vividas na primeira pessoa dos psiquiatras e pedopsiquiatras participantes e as suas atitudes estigmatizantes em relação a pessoas com doença mental.

“As pessoas que sofrem de uma doença mental estão entre os grupos sociais mais estigmatizados, que, devido ao estigma e à antecipação negativa de experiências de discriminação, frequentemente evitam pedir ajuda e aderem parcamente ao tratamento”, explicam Ana Telma Pereira e Carolina Cabaços, investigadoras do Instituto de Psicologia Médica da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra, coordenadoras nacionais neste projeto europeu. “Numa perspetiva mais abrangente, o estigma em relação à doença mental tem sido também considerado um dos principais obstáculos ao financiamento adequado de avanços técnico-científicos na área da psiquiatria”, acrescentam.

Para analisar o estigma nos 32 países europeus (Hungria, Portugal, Dinamarca, Lituânia, Áustria, Turquia, Albânia, Azerbaijão, Ucrânia, Eslovénia, Croácia, Sérvia, Rússia, Estónia, França, Chéquia, Irlanda, Grécia, Montenegro, Eslováquia, Letónia, Malta, Bulgária, Bielorrússia, Itália, Suíça, Alemanha, Países Baixos, Reino Unido, Bélgica, Espanha e Chipre), a equipa de investigação utilizou a Opening Minds Stigma Scale for Health Care Providers (OMS-HC), uma ferramenta que tem sido utilizada para analisar atitudes estigmatizantes entre profissionais de saúde, e cujas propriedades psicométricas nos 32 países participantes foram aferidas num estudo anterior.

“Esta escala, em que são atribuídas pontuações entre 15 e 75 pontos – correspondendo as pontuações mais elevadas a atitudes mais estigmatizantes – é constituída por 15 itens de autorresposta, distribuídos por três subescalas, que avaliam as seguintes dimensões: atitudes face a pessoas com doença mental; ocultação e procura de ajuda; e distância social”, explicam as investigadoras.

“No global, a média das pontuações na amostra total foi relativamente baixa: 30.47, correspondendo a cerca de 40% do total da escala, revelando, assim, que a maioria dos psiquiatras participantes no estudo reportam atitudes globalmente positivas face à doença mental”, elucidam Ana Telma Pereira e Carolina Cabaços.

As investigadoras explicam que “Portugal apresentou uma média de 32.47 no total da escala de estigma, ligeiramente acima da média do total de participantes, tendo sido o 6.º país com a pontuação média mais elevada na OMS-HC, a seguir à Letónia (35.98), Ucrânia (35.02), Bielorrússia (35.01), Bulgária (33.09) e Chéquia (32.82)”. Participaram no estudo 148 psiquiatras de adultos e de crianças e adolescentes portugueses, de todas as regiões do país, a maioria psiquiatras de adultos (82,4%).

Em geral, os profissionais dos 32 países que obtiveram pontuações mais baixas de estigma (ou seja, que evidenciaram atitudes mais positivas em relação à doença mental) eram “os que estavam rodeados de atitudes positivas por parte de colegas, que participavam em grupos de discussão de casos, que estavam ativamente envolvidos em práticas psicoterapêuticas ou que tinham uma experiência pessoal com doença mental”, explica a equipa de investigação portuguesa.

“Estes foram os fatores significativamente associados ao desenvolvimento de atitudes mais favoráveis por parte dos psiquiatras e pedopsiquiatras relativamente aos seus doentes por toda a Europa”, acrescentam.

Ler artigo completo