Eduardo Breda encena "Matagal" para perguntar o que aconteceu às palavras

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A criação de Eduardo Breda, que terá nova récita no domingo, partiu "de um questionamento da palavra, qual o lugar da palavra" neste matagal imaginado, afirma o artista em entrevista à agência Lusa.

"As palavras ainda fazem movimentar os corpos? (...) As personagens também se questionam: será que as palavras ainda nos movem? As palavras já não têm cheiro, sabor... O que aconteceu às palavras? Será que elas ainda nos servem para refletir, debater, criar diálogo? O que é que aconteceu à língua?"

A criação é apresentada no Teatro Campo Alegre, com a duração de uma hora, pelas 17:00 de sábado e as 15:00 de domingo, numa coprodução com o FITEI. que acolhe a sua estreia no âmbito da 47.ª edição.

Se o mote partiu da palavra e se "o gesto de resistir está na palavra ou no movimento do corpo", chegando à língua gestual por essa via, a criação assenta depois "na tensão e `ritmicidade` das palavras, a tensão das palavras nos corpos, que pode habitar um corpo".

A narrativa primária tem a ver com uma série de personagens que habitam um matagal que é visitado por "um jardineiro, vindo da cidade, unicamente preocupado com regras de produtividade, que quer transformar aquele lugar num espaço produtivo, com regras de monocultura", e como se resiste a essa vinda, "pela reflexão, observação, contemplação".

"Convocámos este universo de Eugénio de Andrade, em matéria textual e livros que pusemos em cima da mesa, na sala de ensaios, que nos levam muito para a contemplação e a observação do mundo", conta o diretor artístico.

Em palco está um elenco diverso, que junta o ator surdo Tony Weaver à intérprete de língua gestual portuguesa (LGP) Valentina Carvalho, à compositora Mariana Camacho, além de Beatriz Baptista, Fábio Madeira e Marco Olival.

"Houve um processo de criação muito na base da conversa entre o elenco. (...) Há aqui uma desconstrução da linguagem, na expectativa de que ela nos reconecte ao que é real", conta Eduardo Breda.

Entre bailarinos pouco habituados a dizer texto, uma intérprete de LGP "habituada a estar ao canto" e uma compositora em cena, cabe o texto, desenvolvido por Breda após trabalho nos ensaios, e a cenografia de Pedro Tudela, confirmando a "mistura de linguagens artísticas", ou um `matagal` como o que é evocado no espetáculo.

Este matagal torna-se, então, "uma excelente metáfora", enquanto espaço considerado baldio, confuso ou desorganizado, por aproveitar, que aqui se confronta com "esta imposição de normativizar estas zonas das comunidades", essa não-aceitação da "diversidade e pluralidade de linguagens, línguas, biografias, corpos", acrescenta.

Depois do Porto, "Matagal" tem já duas datas agendadas no Teatro Ibérico, em Lisboa, a 15 e 16 de junho.

A 47.ª edição do FITEI decorre até 26 de maio e passa por 14 palcos diferentes no Porto, Vila Nova de Gaia, Matosinhos e Viana do Castelo, com nove espetáculos internacionais e várias estreias nacionais em cartaz, num ano sob o tema "Trauma, Bravura e Fantasmagorias".

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