Eleições afastam conservadores e reaproximam Polónia de Bruxelas

9 meses atrás 85

Eram consideradas por analistas como as legislativas mais importantes desde a queda do comunismo que se colocavam, em 15 de outubro, a 30 milhões de eleitores polacos, chamados a decidir entre duas propostas quase antagónicas.

De um lado apresentava-se a continuidade do partido Lei e Justiça (PiS) e um programa conservador e protecionista contra os "burocratas da União Europeia (UE)", e, do outro, a alternativa europeísta e liberal da coligação Plataforma Cívica (PO), do antigo primeiro-ministro e ex-presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, o grande vencedor no fim de uma noite eleitoral que começara cheia de incertezas.

"A Polónia venceu. A democracia venceu. Expulsámo-los do poder", declarou Tusk mal foram conhecidas as primeiras projeções, quando milhares de eleitores nas grandes cidades ainda aguardavam em longas filas para votar, numa participação recorde de 74,4% e uma mobilização decisiva de mulheres e jovens.

Este triunfo foi porém alcançado graças a uma "gerigonça" polaca, que se começou a desenhar no próprio dia da votação, unindo uma maioria de 248 deputados da PO, Terceira Via (democrata-cristão) e Esquerda, acima dos 191 dos conservadores, aos quais de nada serviu a vitória no escrutínio, 35,3% dos votos, nem que se somassem os 18 eleitos da Confederação (extrema-direita).

Ainda assim, o Presidente polaco, Andrzej Duda, confiou a chefia do Governo ao PiS, cujo primeiro-ministro designado, Mateusz Morawiecki, não sobreviveu em 11 de dezembro a uma moção de confiança no parlamento, que, no mesmo dia, elegeu Donald Tusk para o seu lugar.

As expectativas e dificuldades são enormes para o novo executivo ao fim de oito anos em clima de confrontação com a UE, que acusava Varsóvia de desrespeito do Estado de Direito, após uma controversa reforma judicial, levando Bruxelas a congelar avultadas somas destinadas à Polónia, além de políticas ultraconservadoras contrárias aos valores europeus sobre áreas como as migrações, os direitos LGTB e a igualdade de género, e autocráticas no controlo das instituições estatais.

O novo executivo de Tusk promete continuar a apoiar a vizinha Ucrânia, insistindo que não é tempo de "apatia e fadiga" face à invasão russa, mas noutro vizinho, a Eslováquia, o populista Robert Fico regressou ao poder pela terceira vez com a promessa de interromper a ajuda a Kiev.

Após as eleições de 30 de setembro, o seu partido, Smer (Direção-Democracia Social), conseguiu um entendimento com o esquerdista Hlas (Voz) e o ultranacionalista Partido Nacional Eslovaco para formar Governo, com uma agenda nacionalista que prevê o reforço do controlo da migração, mas que, apesar da revisão do apoio à Ucrânia, não quer afetar a UE nem a NATO.

Os primeiros dias de governação ficaram já marcados por protestos de dezenas de milhares de pessoas nas ruas, contra uma reforma que visa acabar com a procuradoria especial anticorrupção.

A entidade tem em mãos dez grandes casos envolvendo políticos do SMER e também investigações contra oligarcas suspeitos de ilegalidades com subsídios e contratos públicos, crimes fiscais e assédio a jornalistas.

A Europa conheceu outra alteração profunda de poder, no seguimento das eleições em 23 de novembro nos Países Baixos, que deram pela primeira vez a vitória à extrema-direita de Geert Wilders, líder do Partido da Liberdade (PVV).

As legislativas foram antecipadas após a demissão de Governo liberal de Mark Rutte, devido a desentendimentos sobre questões migratórias no seio da sua coligação, que abriu caminho ao percurso de Wilders com um discurso marcadamente antieuropeu e islamofóbico.

Para chegar ao Governo, o líder de extrema-direita precisará de uma coligação, como é hábito nos Países Baixos, num difícil acordo que está a ser negociado, por nomeação do parlamento, pelo ex-ministro Ronald Plasterk com o PVV, o Novo Contrato Social, o Movimento dos Cidadãos Agricultores e o Partido Popular para a Liberdade e Democracia

Na quarta-feira, Geert Wilders prometeu que respeitará a Constituição, procurando aliviar os receios entre potenciais parceiros de coligação acerca das suas propostas radicais, que incluem a proibição de mesquitas, das escolas islâmicas e do Corão.

Leia Também: Bruxelas desbloqueia fundos à Polónia perante garantias do governo

Todas as Notícias. Ao Minuto.
Sétimo ano consecutivo Escolha do Consumidor para Imprensa Online.
Descarregue a nossa App gratuita.

Apple Store Download Google Play Download

Ler artigo completo