Intervindo num painel sobre interferência externa durante uma conferência sobre o «Estado da União» celebrada no Instituto Universitário Europeu de Florença, Itália, Vera Jourova, vice-presidente da Comissão para os Valores e Transparência, garantiu que a UE leva muito a sério esta questão e começou a "trabalhar de uma forma sistemática para enfrentar esta ameaça sistemática".
Admitiu que há fragilidades que serão postas à prova nas eleições europeia que decorrerão entre 06 e 09 de junho.
Assinalando que esta é uma matéria na qual é preciso "trabalhar passo a passo", Jourova disse que muito foi feito desde as anteriores eleições de 2019, altura em que já foram identificadas várias ameaças, e sustentou que "o primeiro passo alcançado" foi ao nível da consciencialização para um fenómeno que veio para ficar, com várias ramificações.
"Estamos conscientes de que estamos sob ataque permanente, que esta é uma questão complexa, com diferentes canais - não só desinformação, mas também espionagem, manipulação camuflada, 'lobbying' opaco, ciberataques e corrupção, envolvendo políticos", apontou.
"Muito foi feito, agora passaremos pelo teste das eleições europeias. Veremos como as campanhas são influenciadas por interferência externa, como os resultados serão afetados, quanta Inteligência Artificial e técnicas manipulativas serão utilizadas, qual o seu impacto. E depois teremos de avaliar e desenvolver a nova estratégia, que naturalmente exigirá mais pessoal e dinheiro", disse.
Vera Jourova alertou então que a UE e os Estados-membros devem estar preparados para fazer face a uma desinformação que hoje dispõe de novas ferramentas, com um "grande potencial para provocar danos".
"Agora a diferença é que vemos algo a que chamo «desinformação com esteróides», porque passou a recorrer à inteligência artificial para amplificação e produção", disse.
A vice-presidente da Comissão voltou a apontar a Rússia como principal origem das campanhas de interferência - "o inimigo principal senta-se no Kremlin", sustentou -, mas alertou que a UE deve sobretudo olhar para si própria, dado ser crescente o recurso a 'proxies' (agentes sob influência).
"Temos de olhar para nós próprios e para as forças domésticas. Claro que [o Presidente russo, Vladimir] Putin não pode falar diretamente para os ouvidos e cérebros e corações dos europeus, ele precisa de 'proxies' domésticos", defendeu.
Jourova alertou que entre estes agentes há "entidades e indivíduos desconhecidos que o fazem para ganhos políticos ou por dinheiro, pessoas o fazem simplesmente porque o adoram" -- algo que disse ter "dificuldade em compreender" -, mas também "partidos políticos", sendo este último caso aquele que considera mais grave e preocupante.
A 14ª conferência sobre o «Estado da União» organizada pelo Instituto Universitário Europeu, este ano organizada em vésperas de eleições europeias, encerra hoje em Florença, tendo contado com a participação, na quinta-feira, do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.
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