Eleições nos EUA condicionam fim da guerra Israel-Hamas

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Numa entrevista à agência Lusa, Scott-Baumann, mestre pela School of Oriental and African Studies (Londres), disse não estar confiante na existência de "movimentos substanciais [a favor da paz] por parte dos norte-americanos porque o lobby pró-Israel é muito forte".

"E não são apenas os judeus, são os cristãos evangélicos, muito fortes no seu apoio a Israel, pois defendem o controlo de todas as terras desde o rio até ao mar, incluindo a Cisjordânia, que os israelitas chamam Judeia e Samaria, parte do Israel bíblico. Num ano eleitoral, não estou confiante de que teremos as medidas ousadas de que necessitamos por parte dos Estados Unidos", sustentou.

Questionado pela Lusa sobre o que poderá acontecer no Médio Oriente se Donald Trump vencer as presidenciais de novembro, Scott-Baumann afirmou que constituiria um "grande retrocesso".

"Tenho medo de pensar no que iria acontecer. Seria um retrocesso, um grande retrocesso. Porque o chamado `acordo do século` [anunciado por Trump] em 2019, que basicamente permitia a Israel anexar quase todas as terras, iria atropelar completamente o direito internacional", disse o autor, que a 11 deste mês lançou em Portugal a edição atualizada do livro "A Mais Breve História de Israel e da Palestina", cobrindo já parcialmente os acontecimentos de 07 de outubro.

Sobre um eventual futuro pós-guerra, Scott-Baumann lembrou que Israel já defendeu que a segurança e a reconstrução dos territórios ocupados, nomeadamente a Faixa de Gaza, ficará sob sua responsabilidade, mas realçou que os Estados Unidos também já frisaram que a Autoridade Palestiniana (AP) deve ser renovada e reformada.

"A AP já tem muito pouco apoio na Cisjordânia, perdeu toda a credibilidade porque é vista como um reforço da ocupação israelita, como uma colaboração com a ocupação israelita. Se houver eleições, talvez a comunidade internacional não permita que o Hamas se candidate", argumentou.

Para o investigador formado pela Universidade de Cambridge, professor e conferencista com mais de três décadas de experiência, a AP, dominada pela Fatah, "perdeu muito apoio e credibilidade", abrindo caminho a uma maior simpatia dos palestinianos pelo Hamas.

"O Hamas formou um Governo em Gaza durante muitos anos. Proporcionou educação e saúde. Uma das razões pelas quais tantas pessoas votaram no Hamas em 2006 foi porque realizaram muito trabalho de caridade. E eles eram vistos como não corruptos. A AP era vista como corrupta e, além disso, assinou os acordos de paz de Oslo, que não alcançaram nada significativo para os palestinianos. Eles não chegaram nem perto de ter um Estado próprio", explicou.

Nesse sentido o especialista britânico defendeu ser necessário "um grande esforço internacional, liderado, espera-se, pela ONU", que necessita do apoio dos principais Estados árabes, como o Egito, Jordânia, Qatar e ainda a Arábia Saudita.

Questionado pela Lusa sobre se existe espaço para a Rússia e China na resolução da guerra em curso, Scott-Baumann afirmou que os dois países são necessários.

"Até agora não estiveram estreitamente envolvidos, mas tenho a certeza de que apoiariam a chamada Iniciativa Árabe de Paz, baseada na implementação do direito internacional. Porque, basicamente, o assentamento civil israelita na Cisjordânia é ilegal ao abrigo do direito internacional. E muitas tentativas das Nações Unidas para implementar o direito internacional foram vetadas pela América", referiu.

Ainda hoje, prosseguiu, a União Europeia não reconhece a Palestina, ao contrário da maioria dos 147 países da ONU que o faz.

"Mas não os Estados Unidos, nem o Reino Unido, nem a UE", concluiu.

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