Elias Franco, jogador do ano do CP: «O mister disse-me: 'Vem para cá, vamos fazer história'»

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«Tive de dar tudo para chegar onde cheguei. Fui muito resiliente e continuei a batalhar». Confiança e persistência definem a caminhada de Elias Franco, eleito jogador do ano do Campeonato de Portugal pelo zerozero e pela página Campeonato das Oportunidades.

Apesar do presente ser alegre, o passado nem sempre foi simpático com o avançado de 28 anos, melhor marcador da edição do Campeonato de Portugal que findou recentemente.

As lesões atrapalharam o desenvolvimento da promessa do Cruzeiro. Com a esperança de dar o passo certo na carreira, mudou-se para Portugal, mas o começo... Regressou ao Brasil e esteve perto de desistir, mas encontrou forças para regressar mais forte e, quando isso aconteceu, ninguém o parou.

Vidago, FC Alverca e Vilar de Perdizes de Perdizes. Golos, golos e golos até chegar a Amarante, casa da «melhor temporada da carreira». Começou com uma chamada de Renato Coimbra - timoneiro do Amarante FC e treinador do ano no Campeonato de Portugal, que também falou ao zerozero - e terminou com troféus. Elias Franco falou sobre a época triunfal, reconheceu as dificuldades do passado e não escondeu os desejos que tem para o futuro.

Elias Franco na final do Campeonato de Portugal; marcou e venceu esse jogo @Arquivo Pessoal

zerozero (ZZ): Não há como ignorar o elefante na sala! Qual é o segredo para ter tanto sucesso e marcar tantos golos num campeonato tão equilibrado e competitivo?

Elias Franco (EF): Sim, foi uma época de muitos golos, graças a Deus (risos). Encaixei, simples. Encaixei no clube, com os meus colegas. Mostrámos muita química e isso também fez parte do sucesso. O nosso grupo era muito bom e as coisas acabaram por fluir; íamos sempre atrás da vitória, mas, para nós, não importava quem marcava, só queríamos aproveitar todas as oportunidades e fazer sempre o melhor.

ZZ: Foi a melhor época da sua carreira?

EF: Sim. Tive épocas boas, mas esta, em termos de números, conquistas... Foi praticamente perfeita, conseguimos tudo o que podíamos. A nível pessoal, consegui-me superar em relação a outras épocas e isso foi muito importante. Por tudo isto, acho que sim, foi a melhor época que já tive.

ZZ: Ao olhar para as restantes épocas da tua carreira, salta à vista a tua passagem pelo Cruzeiro na formação. Como foram esses tempos ao serviço de um dos grandes clubes do Brasil?

EF: Foi maravilhoso. Mudei-me para lá com 11/12 anos. Saí do meu estado - Vitória (ES) -, que é a 500/600 quilómetros de Belo Horizonte e acolheram-me da melhor forma. No Cruzeiro, vivi momentos incríveis, consegui chegar à seleção sub-17 e foi tudo muito bom.

ZZ: Dessa boa fase, acabou por chegar a Portugal. Como surgiu a oportunidade para ter essa mudança de panorama?

qVim para Portugal muito novo, com 18/19 anos, e estava num país diferente, com uma cultura diferente, longe da família e sem amigos. Tinha tudo para dar errado.

Elias Franco

EF: Surgiu quando sai do Anápolis. Tive uma lesão, com 17 anos, e isso atrapalhou-me um pouco. Por isso, resolvemos mudar e ir para Portugal, graças a um empresário que me ajudou. Tentámos a sorte. Fui para o Vista Alegre, depois 1º Dezembro... Foi uma fase de adaptação muito complicada, muito difícil o início... Tive de voltar ao Brasil, depois regressei a Portugal. Aí, as coisas fluíram; tive mais minutos, acreditaram mais em mim e acabou por correr tudo bem.

ZZ: Conte mais sobre essa fase de adaptação. 

EF: No início, foi complicado. Faltaram oportunidades, não acreditavam em mim, não me metiam a jogar... Eu também vim para Portugal muito novo, com 18/19 anos, e estava num país diferente, com uma cultura diferente, longe da família e sem amigos. Tinha tudo para dar errado.

ZZ: E como deu a volta por cima?

EF: Fui ao Brasil e voltei [a Portugal] com a minha esposa, mais tranquilo. Foi por aí. Também senti que começaram a acreditar mais em mim. Tudo tem um propósito e deu certo.

ZZ: Parece ter sido uma carreira construida a pulso...

EF: Tive de dar tudo para chegar onde cheguei. Fui muito resiliente e continuei a batalhar. Sabia do meu potencial, acreditava em mim e tinha a certeza que podia ir mais longe, ainda tenho. Foram muitos treinos, muitas horas para crescer e subir degrau a degrau.

ZZ: Agora é fácil dizer que foi o passo certo, mas o que sentiu quando recebeu a proposta do Amarante no início da época? Estava confiante que era o rumo certo?

Avançado envergou a camisola 11 do Amarante FC em 23/24 @Arquivo Pessoal

EF: Tinha acabado de fazer uma ótima época com o Vilar de Perdizes, uma equipa que tinha acabado de subir ao Campeonato de Portugal e que se manteve. Decidi mudar para o Amarante, um clube que conhecia, acreditava e sabia da história. O mister Renato Coimbra tinha-me acompanhado. Sabia que os jogadores tinham muita qualidade e que o mister tinha muita ambição. A minha mudança foi por aí. Confiaram todos muito em mim e isso faz diferença.

ZZ: Toda a temporada foi bastante positiva, mas no final da fase regular/início da fase de subida marcou em quase todos os jogos. Sente que a confiança - que já falou antes - foi o ponto essencial?

EF: Claro. A confiança ajuda muito. Numa temporada, vão existir momentos de menor confiança, como é normal. O mais importante é continuar a trabalhar e não desviar do foco do processo. Sobre os golos, se não fosse eu a marcar, era o Ká Semedo, o Pedro Soares, era o Leandro Mika... Queríamos era vencer todos os jogos. A ambição era enorme e passou por aí. 

ZZ: Já falaste anteriormente do mister Renato Coimbra. Tu venceste o prémio de jogador do ano e ele o de treinador do ano. Como foi trabalhar com ele?

EF: Sempre acreditou em mim, desde o início. Quando estava no Vilar de Perdizes, ele convidou-me para o Amarante e disse: «Elias, vem para cá que vamos fazer história. Vamos conseguir os nossos objetivos». É um mister com muita ambição, com muita fome de vencer e muito exigente. Isso bateu-nos. Acreditámos na ideia dele, abraçámo-la e fomos até ao fim. Conquistámos praticamente tudo.

ZZ: O mister Renato Coimbra já decidiu o seu futuro - vai para o Lusitânia de Lourosa. Também já decidiu o seu?

EF: No momento, ainda não decidi. Tenho algumas conversas avançadas, mas ainda não fechei com ninguém. Espero que, independentemente da escolha, que a próxima temporada seja de sucesso.

ZZ: Dentro dos concretizáveis, qual é o seu grande objetivo no futebol?

EF: Gostaria de chegar aos campeonatos profissionais. Acho que é possível. Vou em busca disso. Vou trabalhar, ser paciente e, quando a oportunidade aparecer, vou agarrar com unhas e dentes.

Elias Franco, o jogador do ano do Campeonato de Portugal @Amarante FC

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