Elogios e apelos. Marcelo e Montenegro na Suíça (com Costa na mala)

3 meses atrás 95

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, e o primeiro-ministro, Luís Montenegro, chegaram, na terça-feira, a Genebra, na Suíça, no âmbito das celebrações do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas. O primeiro dia da visita, que se prolonga para esta quarta-feira, ficou marcado pelos elogios de Marcelo, pelos apelos de Montenegro e até António Costa entrou na conversa. 

Num discurso perante alunos de uma escola de ensino português, o chefe de Estado destacou que "os portugueses são muito importantes" na Suíça, que "não era a mesma se não houvesse portugueses".

"Vocês quiseram aprender português. Isso é muito importante, para estarem ligados sempre a Portugal. Mas é mais importante porque o português é uma das cinco línguas mais importantes do mundo. São 300 milhões de pessoas em todo o mundo que falam português, em África, na Ásia, nas Américas, na Europa, no Pacífico. Por isso, é importante para estarem ligados a Portugal, mas também importante para estarem ligados ao mundo", disse.

Por sua vez, o primeiro-ministro disse a estes alunos que deseja que sejam felizes na Suíça, mas frisou que também são necessários em Portugal.

"O nosso objetivo é que sejam felizes e realizados nos locais onde se encontram -- alunos, professores e comunidade -, mas nós também precisamos de vocês em Portugal", afirmou Luís Montenegro, naquele foi o primeiro ponto da deslocação conjunta com o Presidente da República à Suíça.

O chefe do Governo apelou a que estes jovens continuem a aprender "a língua, a história e a cultura portuguesa" e que "mantenham vivos os laços" que os unem às famílias, amigos e interesses em Portugal.

Salários de docentes na Suíça? "Garantia é tentar encontrar uma solução"

Ainda dentro do tema do ensino, o primeiro-ministro português assegurou que Governo vai "tentar encontrar uma solução" para as reivindicações dos professores de português na Suíça, que o confrontaram e ao Presidente da República com a falta de atualização salarial há 15 anos.

Marcelo Rebelo de Sousa disse já conhecer o problema, para o qual "tem de se encontrar uma solução", e apontou para um trabalho conjunto entre Ministério da Educação e o Ministério dos Negócios Estrangeiros.

"Sabe qual é a situação?", perguntou o chefe de Estado ao primeiro-ministro. "Sei, sei, acontece também com funcionários consulares por causa do fator cambial. Vamos olhar para isso", respondeu Luís Montenegro, frisando que "a garantia é tentar encontrar uma solução"

"Não conseguimos resolver tudo ao mesmo tempo", diz Montenegro

Depois dos professores, foi a vez de um grupo de funcionários consulares confrontarem o primeiro-ministro, que acabou a dizer que o Governo herdou "muitos problemas em termos de carreiras", admitindo não ser possível "resolver tudo ao mesmo tempo".

Transportando uma bandeira de Portugal, os funcionários interpelaram o primeiro-ministro, que convivia com a comunidade portuguesa no Teatro de Genebra, onde decorreu outro encontro, e foi surpreendido por emigrantes que não queriam simplesmente tirar 'selfies' mas dar conta da sua revolta.

Luís Montenegro disse conhecer o assunto, tal como o secretário de Estado das Comunidades, José Cesário, e que o Governo está "a trabalhar numa solução com o ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros", que terá depois de ser apresentada às finanças.

Questionado se, perante tantas reivindicações, já estava arrependido desta deslocação à Suíça ao lado do Presidente da República, respondeu: "De maneira nenhuma, eu gosto disto, eu não fujo a nenhuma conversa seja mais ou menos de acordo com os nossos propósitos".

Primeiro-ministro pede ajuda a emigrantes para aumentar trocas comerciais

Depois das garantias, o pedido. Montenegro aproveitou esta oportunidade para pedir a ajuda aos emigrantes portugueses para que ajudem a estreitar as relações económicas entre os dois países, reiterando o apelo para que mantenham "a chama viva" da ligação a Portugal.

"O que vos peço é que ajudem o Governo e as instituições portuguesas a ter ainda mais oportunidades para podermos exportar bens e serviços para este país e para podermos acolher em Portugal turistas e investimentos financiados por empresas e investidores que possam contribuir para o nosso desenvolvimento", disse.

"Desejo que mantenham a chama viva da vossa ligação a Portugal, nunca percam a esperança de voltar a estar connosco, seja em momento de lazer e férias, seja para tornarem a fazer o dia-a-dia nos nossos territórios, junto dos vossos amigos e famílias", apelou.

"Os melhores dos melhores"

Num novo discurso, o Presidente da República voltou a desfazer-se em elogios e agradeceu à comunidade lusa na Suíça tudo o que tem feito por Portugal, insistindo que os portugueses "são os melhores dos melhores", mas disse ter noção de que a sua luta "nem sempre é fácil".

Marcelo explicou que escolheu este ano a Suíça para agradecer a uma comunidade de 260 mil portugueses, que, ao longo de duas, três gerações, se foi "moldando no tempo, mas que continua portuguesa, forte, influente e respeitada".

"Eu queria agradecer-vos hoje aquilo que vos devemos em todos os níveis - no prestígio na atividade desenvolvida, na respeitabilidade aqui na Suíça, no serem a comunidade portuguesa que no último ano mais contribuiu em remessas em todo o mundo, ultrapassando a comunidade francesa, e no manterem as ligações à nossa pátria comum", disse, perante uma sala cheia no Teatro de Carouge.

Costa entra na visita. As comparações com Montenegro e o Conselho Europeu

Mas os temas desta visita foram além da comunidade portuguesa e das comemorações do 10 de Junho e, ainda que na Suíça, nem António Costa, que ficou em Portugal, foi esquecido e acabou mesmo por entrar na visita. 

Depois de mais de oito anos de convivência com Costa, esta foi a primeira deslocação conjunta de Marcelo com Luís Montenegro. Interrogado sobre o tema, o Presidente comentou que ambos têm "estilos diferentes".

"São dois estilos diferentes, os dois muito bons, muito comunicativos e muito extrovertidos", afirmou. 

Ainda nesta senda, o chefe de Estado viria a comentar o futuro de António Costa, reiterando que seria "importante" para a Europa e para Portugal ter o socialista na liderança do Conselho Europeu. Segundo Marcelo, o ex-primeiro-ministro "move-se bem na Europa e dá-se bem com os potenciais líderes europeus".

"O resultado das eleições [Europeias] parece abrir caminho a essa hipótese, depende agora da vontade de António Costa", começou por referir o Presidente da República, em declarações aos jornalistas, quando questionado sobre o apoio do Governo português a uma possível candidatura do ex-primeiro-ministro à presidência do Conselho Europeu.

"É uma vantagem para a Europa. Ele [António Costa] move-se bem na Europa e dá-se bem com os potenciais líderes europeus. Por outro lado, é uma voz portuguesa, uma presença portuguesa. É importante para a Europa e é importante para Portugal", sublinhou.

Europeias? "Da governação, para mim não mudou nada no domingo"

Com o tema das recentes eleições Europeias em calha, e face à derrota da AD para o PS, o primeiro-ministro defendeu que, para a governação, "não mudou nada" em função dos resultados, dizendo que o Executivo vai continuar a "cumprir os seus compromissos intransigentemente".

"Para mim, para o Governo, para o que temos de fazer por Portugal, a sexta-feira antes das eleições é exatamente igual à segunda-feira seguinte às eleições. Nós temos um rumo, nós temos um programa, nós temos o dever de cumprir as nossas promessas e os nossos compromissos, e é isso que vamos fazer intransigentemente", disse Montenegro, realçando que "é preciso dialogar com os partidos políticos à direita e à esquerda.

Visita continua em Zurique

Esta quarta-feira, as celebrações terão lugar em Zurique, mas só depois de uma 'escala' na capital, Berna, para um encontro e almoço com a Presidente da Confederação Suíça, Viola Amherd.

Em Zurique, Marcelo Rebelo de Sousa e Luís Montenegro têm previstos encontros com representantes da comunidade portuguesa e com a própria comunidade, este último também finalizado com um momento musical, um concerto de música clássica por jovens músicos portugueses, que encerrarão o programa da dupla comemoração na Suíça.

Quando assumiu a chefia do Estado, em 2016, Marcelo Rebelo de Sousa lançou, em articulação com o então primeiro-ministro, António Costa, e com a participação de ambos, um modelo inédito de duplas comemorações do 10 de Junho, primeiro em Portugal e depois junto de comunidades portuguesas no estrangeiro.

A Suíça é o sétimo país estrangeiro a acolher a celebração, após França (2016), Brasil (2017), Estados Unidos (2018), Cabo Verde (2019), Reino Unido (2022) e África do Sul (2023), sendo que em 2020 e 2021 só houve cerimónias em Portugal devido à pandemia da Covid-19.

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