Em Baião, há uma casa com “materiais à vista” — e de olho no Douro

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Na vila de Ancede, em Baião, há uma casa de janelas vermelhas que se destaca na natureza. Maria Rebelo e João Paupério construíram-na para os pais de um amigo que sonhavam com um espaço para férias que acomodasse toda a família.

Quando começaram o projecto, os arquitectos imaginaram uma moradia em pedra como as típicas casas recuperadas das aldeias, mas com vista para o rio Douro. E, entre outros planos, queriam aproveitar as pedras da ruína existente para as paredes da nova construção e aumentar um pouco a planta da casa. Mas o resultado final foi totalmente diferente.

Depois dos incêndios que fustigaram a zona em 2019, a nova legislação não permitiu que a habitação fosse ampliada. No ano seguinte, quando encontraram por fim um empreiteiro disposto a avançar com as obras, o país entrou em confinamento. Mais tarde, já durante a construção, tiveram de aproveitar as antigas pedras para fazer os muros de suporte e a casa acabou pintada com a tonalidade do resto do terreno: ocre.

Francisco Craveiro, o filho dos proprietários, ajudou a escolher a cor e tudo o resto que existe na Casa em Ancede. O vermelho das janelas rectangulares e circulares salta à vista por entre o verde da paisagem e, no interior, são os materiais deixados em bruto que assumem este papel. Os blocos de betão, que, explica Maria Rebelo, “foram feitos para ficar dentro da parede”, estão ao descoberto e o mesmo acontece com os fios de electricidade ao longo dos três pisos da casa. Nos tectos ficaram as vigas de madeira e no chão usou-se betonilha ou, no caso dos dois quartos, placas de MDF (um derivado da madeira).

“Os blocos e electricidade à vista marcam bastante a imagem da casa e temos tido opiniões de pessoas que gostam e outras que não gostam nada. Neste caso, não usámos só por uma questão estética nem capricho, mas por motivos económicos. Tentámos fazer com que resultasse sabendo que não se pode aplicar a todas as situações e trazer dinamismo à casa de forma dar expressão a estes materiais simples e baratos”, explica a arquitecta do Atelier Local.

Para a casa de banho, o único espaço construído de raiz, lembraram-se da frase de um dos professores da faculdade que dizia, em tom de brincadeira, que “podia ser o local mais incrível de uma casa”, ou seja, diferente de tudo o que já foi visto. Para provar que era possível, colocaram uma grande janela ao lado da sanita e do chuveiro. “Nas fotos é um pouco provocador e a ideia é usarem a sanita e tomarem banho a olhar para fora. Mas vai ter uma cortina”, realça Maria Rebelo.

Ultrapassados todos os entraves, a casa ficou concluída no final de 2022 com materiais que os arquitectos dizem ser “arriscados e pouco utilizados” para acabamento e mais uns quantos espaços informais para os mais jovens dormirem. Os proprietários gostaram e o filho do casal, que também é arquitecto, começou a trabalhar no atelier de Maria e João.

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