Encontrado pavimento em mármore, de época romana, submerso na baía de Nápoles

1 mes atrás 57

A antiga cidade termal de Baiae era muito popular durante o final do Império Romano. Funcionaria como estância balnear da elite e aí estavam instaladas residências de veraneio ou villae marítimas de Júlio César e do Imperador Nero.

Esta área, a oeste da baia de Nápoles, sofreu um fenómeno geológico conhecido por bradissimo - durante o qual o solo sobe ou, como neste caso, desce devido à pressão abaixo da superfície - o que fez com que parte do solo, onde assentavam as construções com vista para o mar Tirreno, cedesse ficando submerso.

Depois de analisarem a descoberta, os arqueólogos apontam a construção do piso de mármore para os finais do século III, momento da queda do Império Romano do Ocidente, e coincidindo “pouco antes do bradissismo levar essas maravilhas ao fundo do mar”.
Pavimento de mármore

O chão de mármore forraria um piso da sala de receção de uma villa conhecido por "prothyrum", ou varanda decorada. Foi construido em opus sectária, uma técnica que utiliza grandes peças de mármore com padrões diferentes, encaixando-as como um puzzle constituindo um pavimento colorido de geometria intrincada - no caso, quadrados lado a lado, cada um com círculos inscritos.

Para datar este pavimento, com uma área de aproximadamente 250 metros quadrados, os arqueólogos do Parque Arqueológico Campi Flegrei explicam que as villae dos nobres, a partir de finais do século III d.C, tinham, tradicionalmente, um grande salão para receções. Estas grandes salas, típicas da arquitetura da época, procediam a salas mais pequenas remodeladas.

Os investigadores argumentam que os mármores utilizados são muito irregulares e muitos deles, “são resultado de reaproveitamentos, ou seja, já tinham sido usados anteriormente para decorar outros pisos ou paredes. Este fenómeno também é típico do fim do Império Romano do Ocidente e Antiguidade Tardia (séculos III a VI d.C.).


Pavimento submerso | Edoardo Ruspantini / Parco Archeologico Campi Flegrei

As placas estão bastante fragmentadas porque, para além de os artificies da época já terem reaproveitado o mármore, previamente cortado de geometrias anteriores, “este pavimento também terá sofrido o impacto direto do desabamento das paredes da sala, com mais de dez metros de altura”, observam.


Os investigadores sublinham que é visível como os restos destas altas paredes se conservam, com lajes de mármore fragmentadas por baixo. “Será necessário escavar cuidadosamente essas áreas, esperando poder salvar parte das geometrias” | Parco Archeologico Campi Flegrei

Este piso de mármore tem sido objeto do mais recente trabalho de restauração subaquática do Parque Arqueológico. Os especialistas observam que é um "desafio muito complicado devido ao estado dos fragmentos do pavimento e à sua grande extensão”.


Arqueólogos mergulham para investigar e restaurar o achado |  Parco Archeologico Campi Flegrei

Além da escavação e restauro e consolidação subaquática, os trabalhos arqueológicos continuam no laboratório.

“As placas recuperadas das caixas foram colocadas em grandes tanques de água doce para eliminar os sais da água do mar. Estamos a estudar placa por placa, para tentar recompor um módulo inteiro”.

 

Mármores recuperados em estudo | Parco Archeologico Campi Flegrei

De acordo com os arqueólogos, os pavimentos das moradias mais luxuosas foram decorados com amplos mosaicos, demonstrando assim o alto status social do proprietário.

"Surpreendente. É a magia de Baiae Sommersa (a cidade submersa de Baia), um piso de mármore de uma antiga villa romana. O pavimento em opus sectário, com seus elaborados motivos geométricos e artesanato extraordinário, oferece uma janela fascinante para a vida e a arte da Roma antiga.

Essa descoberta permite que os visitantes mergulhem na história, explorando as maravilhas escondidas sob a superfície do mar”, acentuou o presidente do municipio de Bacoli, Josi Gerardo Della Ragione, citado na National Geographic.

“O trabalho ainda é longo e complexo, mas temos a certeza que trará inúmeras informações e muita satisfação”, rematam os arqueólogos.


Mosaico identificado com 250 metros quadradors de área, mas em estudo está apenas uma pequena parcela | Parco Archeologico Campi Flegrei

O Campi Flegrei está integrado numa grande área vulcânica que se estende por 200 quilómetros sob a baía de Nápoles e das ilhas de Capri e Ischia. Em suma, é uma caldeira gigante, ou depressão. A última grande erupção de Campi Flegrei ocorreu em 1538, e criou uma nova montanha na baía.

A atividade sísmica na área tem se intensificado desde dezembro de 2022, de acordo com o Instituto Nacional de Geofísica e Vulcanologia da Itália (INGV).

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