Através do seu processo de Reforma e Abertura, a China logrou alcançar aquilo que era inesperado: um país em desenvolvimento transformou-se na maior potência econômica global, tendo já ultrapassado, há tempos, os Estados Unidos em paridade do poder de compra (PPP).
A ascensão da China tem transformado o mundo de duas maneiras fundamentais. Em primeiro lugar, por tratar-se de um país de mais de 1,4 bilhão de pessoas, que tem crescido, em média, 10% nos últimos 30 anos. Em segundo, porque, pela primeira vez na História Moderna, o país principal do sistema global será um país subdesenvolvido e do Oriente, e não do Ocidente, com raízes civilizacionais diferentes daquelas que conhecemos. E a China não se ocidentalizará em razão de sua longa história, cultura e tradição.
A China é um estado-civilização. A função do governo e do Partido Comunista da China é a preservação dessa civilização, num país extremamente diversificado, pluralístico e descentralizado, apesar de a identidade Han, que constitui a maior parte da população, ser um dos cimentos que mantém o país unificado.
Impera no país, como seu valor político mais importante, a unidade para a manutenção da civilização. A China, apesar de todas as invasões e humilhações impostas por potências estrangeiras, manteve sua integridade e identidade.
Enquanto no Ocidente o Estado é um intruso, um estranho, cujos poderes precisam ser definidos e restritos, na China o Estado pavimenta para que o privado atue. A China sempre acreditou no mercado e no Estado. No século XVIII, Adam Smith reconheceu que “o mercado chinês é maior, mais desenvolvido e sofisticado do que qualquer mercado na Europa.”
Enquanto na China se construíam grandes obras de infraestrutura, como a Muralha e o Grande Canal, na Europa se construíam castelos para a proteção no contínuo processo de guerras infindáveis. Enquanto, em 500 anos, a China teve uma guerra com o Vietnam e perdeu, no mesmo período o Reino Unido e a França tiveram 142 guerras.
Ao implementar um processo de rejuvenescimento coletivo, a China pretende retomar sua posição histórica de maior potência econômica global, além de manter-se como o maior mercado consumidor global.
Ignorar a enorme capacidade de um país, outrora de campesinos, que se transformou numa superpotência, é fatal. Erra a União Europeia ao ter classificado a China como um rival sistêmico em 2019. Engajar a China é fundamental.