Ensaio – Triumph Street Triple R – Raça Apurada

6 meses atrás 75

Quando pensamos numa boa naked desportiva de média cilindrada temos de pensar imediatamente nesta Triumph Street Triple R, mas o mais curioso é que nem é esta a Street mais desportiva e radical da gama atual! Um modelo famoso por utilizar o motor que dá vida às máquinas de Moto2 do Mundial de Velocidade, mas esta moto é muito mais do que isso.

Ao longo dos anos, nesta profissão, vamos estando em alguns eventos que gostamos de recordar mais tarde. Neste caso, ao termos a Street Triple R connosco, lembramo-nos da apresentação internacional da primeira geração da Street, realizada junto ao lago de Garda, em Itália, em julho de 2007. Na altura, esta revelou ser uma proposta muito ágil e divertida, com algum do ADN da Speed Triple ao mesmo tempo que ia buscar soluções – nomeadamente mecânicas – à desportiva Daytona 675, que havia sido lançada com bastante sucesso um ano antes.

Desde aí a Street foi fazendo a sua caminhada natural, sem nunca ter sido uma campeã de vendas (falamos de um modo geral, pois depende sempre bastante do país em causa), mas evoluindo sempre nas suas várias gerações, ao mesmo tempo que iam surgindo algumas versões mais desportivas e outras mais simples, para todos os gostos e carteiras. E sempre montando um motor tricilíndrico!

A primeira foi então lançada em 2007, numa grande evolução ao substituir a já ultrapassada Speed Four de 4 cilindros em linha. Pequenas mexidas surgiram no final de 2011, quando os tradicionais faróis deixaram de apresentar o formato redondo, mas bastantes alterações foram realizadas na terceira geração de 2013. A quarta geração surgiu em 2018, já com a cilindrada de 765 cc, em 2020 surgiram pequenos retoques e para 2023 as versões R e RS foram melhoradas. A RS sempre com um foco mais virado para a pista, enquanto a R mantém-se como a versão base de uma belíssima naked desportiva de estrada.

BEM EQUIPADA

Mesmo que não existisse uma versão RS, a moto deste teste já estaria em excelente plano – teórico e prático – como análise a uma moderna naked desportiva. Falamos de uma moto equipada com um motor tricilíndrico de 765 cc (o tal que dá vida às motos do Mundial de Moto2, com ligeiras diferenças), e que nesta R debita 120 cv às 11.500 rpm. E dizemos nesta R porque na mais “racing” RS o motor está mais “esmifrado” e debita mais 10 cv de potência, embora o valor de binário seja rigorosamente o mesmo, 80 Nm às 9.500 rpm. 

Juntamente com as mais recentes mexidas do motor desta R, o sistema de escape também foi melhorado, embora sempre com o objetivo de manter a sonoridade típica e entusiasmante do tricilíndrico. Um modelo que surge também muito bem equipado no que toca à ciclística, com um quadro dupla trave em alumínio e travagem com pinças monobloco Brembo M4.32 de montagem radial na frente, com um ABS otimizado para curva e apoiado por uma IMU com parâmetros específicos integrados em cada um dos modos de condução (Rain, Road, Sport e Rider), para uma travagem mais eficaz em qualquer ângulo de inclinação. Encontramos também um controlo de tração comutável, com quatro níveis autónomos e com a função “anti-cavalinho”.

A ergonomia foi melhorada também nesta geração, com um guiador mais largo em 12 mm, e voltando à ciclística, o trem dianteiro é composto por uma forquilha invertida Showa Big Piston de 41 mm, com funções de amortecimento independentes, enquanto atrás encontramos um monoanortecedor da mesma marca com hidráulico separado, sendo os dois elementos totalmente ajustáveis. Destaque ainda para o formato tipo “banana” do braço-oscilante, que pretende oferecer o máximo de agilidade com a estabilidade a alta velocidade. Ainda exteriormente, há que falar dos faróis full LED, de desenho super agressivo e que mantêm o ADN da marca, enquanto o depósito perdeu capacidade e pode receber agora 15 litros de gasolina. Outros detalhes melhorados, como a pequena carenagem do farol, proteções do radiador e estrutura da traseira tornam esta numa das Street mais elegantes e desportivas de sempre. Nesta R a instrumentação é um TFT bastante simples e de fácil leitura, com os modos de condução facilmente escolhidos através dos comandos junto ao punho esquerdo. As características deste modelo são complementadas por um quickshifter bidirecional, embraiagem assistida deslizante e pneus Continental ContiRoad. Dizer ainda que o assento está colocado a 826 mm do solo (existindo outro mais baixo entre os diversos opcionais), e que o peso do conjunto, já com o depósito cheio, é de apenas 189 kg! Uma Street Triple R que apresenta intervalos de manutenção de 10.000 km ou 1 meses.

O MELHOR Prestações do motor, comportamento da ciclística, prazer de condução

A MELHORAR Algumas vibrações , funcionamento do quickshifter (nesta unidade)

SENSAÇÕES

Apesar da referida apresentação da Street Triple onde estivemos em 2007, pessoalmente só tive uma Triumph como moto própria bem recentemente, uma Trident da qual sou um feliz proprietário e com a qual deu para tecer algumas comparações com esta Street R. Afinal de contas, as duas são motos roadster de entrada de gama, separadas por pouco mais de 2.000 euros. No entanto, são mais as diferenças do que as semelhanças entre os dois modelos. Isto porque a Trident foi idealizada mais para ser a primeira moto “grande” de muitos, bastante simples em diversos aspetos. Aos comandos da Street R, pelo contrário, sentimos sempre que estamos aos comandos de uma pequena “besta”. A posição de condução é algo sobre a frente, sem ser desconfortável, o assento é alto e o motor é sempre forte em todas os regimes, com uma grande capacidade de alongamento. Faz-nos até lembrar a Speed Triple de há algumas gerações atrás, só que agora através de um motor mais moderno, com menos atritos internos e que adora fazer rotação ao mesmo tempo que usamos o saboroso quickshifter para passar de caixa, de forma ascendente e na redução. Normalmente o seu funcionamento é exemplar, mas infelizmente, na unidade que testámos, este apresentou algumas falhas e tínhamos de voltar a usar a embraiagem até que a eletrónica voltasse a colaborar. Um problema certamente isolado e que já terá sido resolvido neste unidade. Quanto ao restante, e com exceção de ligeiras vibrações que se sentem nos punhos, pousa-pés e que afetam a visibilidade dos espelhos retrovisores a determinados regimes, esta é mesmo uma moto eficaz e muito divertida!

Uma moto que pode ser usada de forma muito simples no dia a dia, como simples meio de transporte (embora seja impossível não nos divertirmos sempre que a conduzimos), mas que é sempre um brinquedo de paixão quando temos realmente vontade de andar de moto!

SEMPRE O MOTOR

E é quando temos mesmo vontade de andar de moto que o motor delicioso mais se destaca, pelo seu vigor em todos os regimes, sensações que transmite e sonoridade. E em termos de modos de condução não existem grandes dúvidas, sendo o Sport o melhor (desde que as condições sejam as “normais”, a seco), pois os restantes atrasam ligeiramente a resposta do acelerador, embora possamos sempre personalizar o modo em causa. Em termos de controlo de tração, o modo Sport também deixa tudo bastante “livre”, pelo que num asfalto mais polido, na dúvida optem pela segurança. As suspensões são mais para o durinho mas muito eficazes e leem muito bem o piso, pelo que nem precisámos de mexer em nenhuma das suas regulações. Eventualmente, em ritmos elevados ou num track-day iremos precisar de efetuar ligeiras mexidas. Nota igualmente positiva para a travagem, potente e progressiva, com um bom tato na manete, enquanto os pneus Continental Contiroad parecem demasiado estradistas para o modelo em causa… mas na prática funcionaram bem, sem críticas a acrescentar.

A instrumentação é relativamente simples mas eficaz e durante o tempo em que rodámos com a Street obtivemos um consumo médio de 5,3 l/100 km, mas já se sabe que numa moto como esta o consumo pode variar bastante, para cima ou para baixo! Fazendo um pequeno balanço, é uma moto de linhas agressivas (mas com bom gosto), mas de condução fácil e muito divertida. Podemos seguir a 70 km/h em 6ª, com a certeza que temos motor para uma resposta rápida sem termos de reduzir, mas o mais divertido é fazermos o tricilíndrico subir e descer de regime com muita frequência! E sem termos conduzido desta vez uma Street Triple RS, podemos apostar que numa utilização tradicional em estrada esta versão R é mais do que suficiente em termos de motor, suspensões e travões. Aliás, se a ambição é apenas estrada e nunca irão colocar a vossa Street numa pista, então o que ganham em conforto (e nos €€ da compra), até podemos dizer que ficarão melhor servidos com esta R do que com a RS. Mas dessa versão mais desportiva falaremos numa próxima.

Caption text

TRIUMPH Street Triple R

MOTOR tricilíndrico em linha, refrigeração líquida, 12 válvulas

CILINDRADA 765 cc

POTÊNCIA 88,3 Kw (120 cv) @11.500 rpm

BINÁRIO 80 Nm @9.500 rpm

CAIXA 6 velocidades

QUADRO dupla trave em alumínio

DEPÓSITO 15 litros

SUSPENSÃO DIANTEIRA forquilha telescópica invertida Showa de 41 mm totalmente ajustável, curso de 115 mm

SUSPENSÃO TRASEIRA monoamortecedor Showa totalmente ajustável, curso de 133,5 mm

TRAVÃO DIANTEIRO 2 discos de 310 mm, pinças radiais Brembo monobloco de 4 êmbolos

TRAVÃO TRASEIRO disco de 220 mm, pinça Brembo de 1 êmbolo

PNEU DIANTEIRO 120/70 ZR17

PNEU TRASEIRO 180/55 ZR17

DISTÂNCIA ENTRE EIXOS 1.402 mm

ALTURA DO ASSENTO 826 mm

PESO 189 kg

P.V.P. (desde) 10.645 €

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