"É hoje evidente que os fluxos migratórios são diferentes daqueles que eram há 20 ou 30 anos, o que significa a necessidade de criar uma ponte que elimine barreiras e a única ponte que vai eliminar as barreiras mais facilmente entre nós é a ponte da língua portuguesa", afirmou Ana Catarina Mendes à Lusa, à margem da cerimónia de lançamento da consulta pública do Projeto do Plano Estratégico para a Aprendizagem do Português como Língua Estrangeira, que decorreu no Palácio de Mafra.
"Eu disse sempre que o processo de integração é como se fosse uma escada, o primeiro degrau é [a regularização] dos documentos, o segundo grau é da língua portuguesa e [depois] vêm todos os outros", afirmou a governante, salientando que o objetivo deste plano foi "juntar na mesma equipa várias entidades públicas que promoviam o português", cada uma de forma isolada.
Exemplo disso, é a integração no plano do Instituto Camões, "que tem 89 delegações pelo mundo inteiro" e irá também ensinar "português às pessoas que pretendem imigrar", disse Ana Catarina Mendes.
O plano inclui também parcerias com a Agência Nacional para a Qualificação e o Ensino Profissional, o Instituto de Ensino e Formação Profissional e o Ministério da Educação para agregar organizações públicas dentro da mesma estratégia, prevendo programas de ensino do português em contexto laboral, reconhecimento de competências ou adequação de currículos.
"Nós hoje temos turmas onde 60% dos meninos são estrangeiros e é preciso ensinar o português, mas é preciso também que os adultos [aprendam a língua] em contexto de trabalho", disse a governante.
E com isto, é objetivo "motivarmos também os formadores e os professores de português para o ensino a cidadãos que a guerra, a ditadura ou a fome os impeliu a deixar os seus países, podendo aqui encontrar, na língua portuguesa, o conforto da boa comunicação".
De acordo com Ana Catarina Mendes, já existia muito trabalho desenvolvido de modo isolado, mas este plano, e a sua avaliação bienal, irá permitir integrar estratégias.
"Foquemo-nos no lançamento deste programa, deixemos que ele seja implementado e que se respire", seguindo-se a avaliação do que for executado, afirmou.
"Nós percebemos que, por muito boa vontade e profissionalismo de todos aqueles que têm ensinado português, era preciso dar um novo músculo e foi isso que aqui fizemos juntando todas as entidades", disse Ana Catarina Mendes, acrescentando: "os estados mais fortes e mais coesos são aqueles que sabem trabalhar em equipa e as várias áreas governativas tinham que se encontrar aqui".
No plano da educação, a ministra confia que será possível desenvolver estratégias para aumentar a integração de alunos que não têm o português como língua nativa.
"Felizmente, as escolas são capazes de se reinventar" e os alunos "têm que ter programas específicos para conseguirem acompanhar", afirmou.
Na cerimónia, Sónia Pereira, vogal da Agência para a Integração, Migrações e Asilo (AIMA), explicou que este plano incluiu "todas as valências de ensino" da língua para estrangeiros, fosse no programa Português como Língua de Acolhimento ou na formação profissional.
"Está feito o diagnóstico e estão desenhados os eixos estratégicos de atuação", com uma forte aposta nas novas tecnologias da informação, que irão permitir um melhor acesso dos interessados que terão também mais facilidade no reconhecimento das suas competências, disse.
Por seu turno, Ana Paula Fernandes, presidente do Instituto Camões, saudou a sistematização do plano e recordou o papel do português no mundo e não apenas na integração de imigrantes.
"A língua tem um valor económico" e o português é "cada vez mais atrativo" no contexto global, disse.
O período de consulta pública do plano tem início na sexta-feira e termina a 11 de março.
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