Os Estados Unidos tinham alertado que não apoiariam qualquer operação militar cidade sem um plano “credível” para retirar os palestinianos. Mas o plano apresentado esta segunda-feira também inclui, de acordo com as autoridades israelitas, o fornecimento de assistência humanitária a Gaza, “de forma a evitar os assaltos que aconteceram a norte e noutras regiões”.
Este anúncio surge antes da anunciada ofensiva terrestre israelita em Rafah, cidade sobrepovoada do sul do território palestiniano, considerada por Benjamin Netanyahu como o “último bastião” do movimento islamita Hamas. No início de fevereiro, o Governo israelita anunciou que tinha ordenado às Forças de Defesa de Israel (IDF, na sigla em inglês) que elaborassem um plano para a evacuação de civis nesta cidade junto da fronteira fechada do Egito, onde se refugiaram e ficaram cercadas mais de um milhão de pessoas.
Ao mesmo tempo que prosseguiam negociações no Catar destinadas a garantir uma nova trégua na guerra contra o Hamas, no domingo, o Executivo de Netanyahu continuou a alertar para esta operação militar.
“Não podemos deixar o último reduto do Hamas sem acabar com ele”, disse Netanyahu. “Se não tivermos um acordo, faremos de qualquer maneira. Tem que ser feito”.
A ofensiva em direção a esta cidade do sul da Faixa de Gaza apenas será “adiada” caso seja concluída uma nova trégua, advertiu o primeiro-ministro israelita em declarações à cadeia televisiva norte-americana CBS. Se for para a frente esta operação, Israel ficará “a algumas semanas” de garantir uma “vitória total” sobre o movimento islamita, afirmou.
Hamas acusa Israel de “não estar preocupado”
Nas declarações de domingo sobre um possível acordo de cessar-fogo e de libertação de reféns, Benjamin Netanyahu afirmou que o Hamas tinha de “chegar a uma situação razoável”.
“Eles estão num outro planeta. Mas se chegarem a uma situação razoável, então sim, teremos um acordo de reféns. Espero que sim”, disse o primeiro-ministro israelita em entrevista à CBS.
Em reação a estas declarações, um alto funcionário do Hamas, Sami Abu Zuhri, considerou que os comentários de Netanyahu lançam dúvidas sobre a disposição de Israel em garantir um acordo.
“Os comentários de Netanyahu mostram que ele não está preocupado em chegar a um acordo”, disse Abu Zuhri à Reuters, acusando o líder israelita de querer “prosseguir as negociações entre bombardeamentos e derramamento de sangue”.
Enquanto prosseguem no Catar as negociações na perspetiva de uma nova trégua, a cidade de Rafah foi atingida no domingo por novos bombardeamentos, para além dos violentos combates que prosseguem na cidade em ruínas de Khan Yunis, um pouco mais a norte. O Ministério da Saúde de Gaza, tutelado pelo Hamas, referiu-se a 86 mortos nas últimas 24 horas.
Entretanto, a organização Human Rights Watch acusou Israel de desrespeitar uma ordem do Tribunal Internacional de Justiça ao não prestar ajuda humanitária e serviços básicos à população de Gaza.
Em janeiro, o TIJ ordenou a Israel que "tomasse medidas imediatas e eficazes para permitir a prestação de serviços básicos e de ajuda humanitária urgentes e necessárias", acrescentando que devia apresentar um relatório sobre o cumprimento de iniciativas específicas "no prazo de um mês". Mas segundo disse esta segunda-feira a organização não-governamental, "passado um mês", o Governo de Israel continua a "impedir" a prestação de serviços básicos e a entrada e distribuição de combustível assim como de ajuda essencial.
Para a HRW com sede nos Estados Unidos, Israel está a cometer atos de "punição coletiva" que equivalem a "crimes de guerra" por incluírem a fome como arma de guerra.
"O Governo israelita está a matar à fome os 2,3 milhões palestinianos de Gaza, colocando-os ainda mais em perigo do que antes da ordem vinculativa do tribunal", disse Omar Shakir, diretor da Human Rights Watch para Israel e Palestina, num comunicado. "O Governo israelita simplesmente ignorou a decisão do tribunal (TIJ) e, de certa forma, até intensificou a repressão, incluindo o bloqueio da ajuda essencial".A HRW urge os "países a usarem todas as formas de influência, incluindo sanções e embargos, para pressionar o Governo israelita a cumprir as ordens vinculativas do tribunal no caso de genocídio".