Entrevista de carreira a Djalma: «No FC Porto até não dar mesmo, dá»

6 meses atrás 128

O nosso convidado nasceu, praticamente com a bola nos pés. Filho de internacional angolano, também ele foi internacional pelos Palancas Negras, mesmo nunca tendo feito carreira por Angola. Ganhou títulos em Portugal e na Grécia, mas os golos de maior impacto apareceram no imenso mapa turco. Chamou à atenção na ilha da Madeira e pendurou as botas na 2ª Liga.

zerozero: Djalma, descobria quem era este jogador?

Djalma: É me familiar. Pelo registo que mostrou nessa descrição, descobria, claramente.

zz: Acha que os nossos seguidores vão chegar ao Djalma, quando forem apresentadas estas dicas?

D: Acredito que sim. Internacional angolano que tenha ganho títulos em Portugal, foram alguns, mas não são assim tantos. Que o pai (Djalma é filho de Abel Campos) também tenha jogado, não são assim tantos... Tem aí alguns ingredientes que faz com que as pessoas cheguem ao meu nome.

zz: Só podia ser jogador de futebol?

D: Não, podia ser outra coisa.

zz: Mas foi a boa pressão do pai que é jogador, ou houve a vontade do filho que olha para o pai como um exemplo e querer ser como ele?

D: Houve um bocadinho dos dois. O ambiente desportivo sempre foi muito forte em casa. O meu pai foi jogador, o meu irmão mais velho sempre jogou futebol e eu acabo por ser arrastado pelo ambiente de casa, mas claramente a gostar de praticar.

zz: O seu último jogo foi FC Porto B x Trofense. Sabia que tinha sido esse o último jogo?

D: Sabia, claro que sabia.

zz: Já sabia que ia ser o último jogo?

D: Não, por acaso não. Não queria que fosse o último jogo, mas as coisas alteraram-se e foi assim.

zz: Entrou a vinte minutos do fim... O que o fez pensar que se calhar o melhor caminho era terminar?

D: Não teve a ver com esse jogo. Nesse desafio até houve um lance caricato, que dificilmente me lembro de ter acontecido na minha carreira, mas as pessoas que estavam na altura no Trofense decidiram que faria muito sentido dar continuidade ao projeto de andarmos juntos. Depois dessa decisão da parte deles, também ponderei outras coisas e preferi dar um ponto final e enveredar por outras áreas.

Djalma Campos
5 títulos oficiais

zz: Qual foi o lance caricato?

D: Eu entro no momento em que há um pontapé de canto a favor do FC Porto, a bola é ressaltada para fora da área, estou a fazer a cobertura da bola e houve um desentendimento comigo e o nosso guarda-redes e o avançado foi mais rato, roubou a bola e fez o golo do empate. O Trofense estava a ganhar e aqueles três pontos eram muito importantes para continuar na luta pela permanência na II Liga.

zz: Ainda fica até ao resto da temporada, mas não jogou mais. Foi com essa situação que decidiu terminar?

D: Não foi público, mas a decisão da direção do Trofense deixou-me um pouco chocado. Tive a carreira que tive, passei por imensos lugar e nunca pensei passar por uma situação daquelas. A direção e o treinador tomaram a decisão e chegaram a acordo comigo, de que não necessitava de terminar a temporada. Não percebi a decisão, mas também não estavam em condições de estar a discutir para ter um lugar e poder ajudar a equipa a chegar ao objetivo pretendido.

zz: Não era sequer momento de expor a sua carreira a uma situação dessas...

D: É um bocado ingrato.

zz: É quase dizer que abdicam do mês de maio.

D: É um bocado isso. Foi uma decisão tomada por quem dirigia o clube. Existe hierarquia no futebol e temos de respeitar isso. Não gostei da situação...

zz: Mas também é preciso respeitar o jogador e respeitar as pessoas.

D: Sim, mas isso tem a ver com a índole das pessoas. Eu não me posso meter no lugar dos outros, sei aquilo que faço e aquilo que fiz ao longo da minha carreira, a referência que me tornei no meu país para muitos jovens. Sobre a minha carreira, não preciso de falar por ela: há dados, números, o zerozero mostra isso. Só fiquei com mágoa, porque não esperava uma situação assim, fora da caixa, para um final de campeonato, onde sabemos que é importante a equipa estar junta, estarem os elementos com mais experiência, também por isso é que fui para lá... Não quis fazer alarido, nem criar mais pressão para a equipa e preferi terminar a carreira.

qA direção e o treinador tomaram a decisão e chegaram a acordo comigo, de que não necessitava de terminar a temporada

Djalma, antigo futebolista

zz: Quando não tem hipótese de preparar uma despedida a sério é quase como se tivesse terminado carreira?

D: Não, não penso assim. Iniciei na II Liga, no Marítimo, e depois todas as épocas que fiz foram na I Liga. Seja na Turquia, seja em Portugal, joguei grandes competições na minha seleção, Angola. Quando vim para Portugal, vim para o Farense, jogar na I Liga, depois tive o Trofense, na II Liga. Sabia que ia ser um registo diferente, com condições diferentes e uma mentalidade diferente. Tudo isso tem a ver com o patamar onde se está.

zz: Mas acredito que quando se perspetiva uma carreira, se olhe ao passo a passo. Quando é novo pode não pensar no fim da carreira, mas quando a idade avança, deve pensar nisso. Acredito que tenha pensado em terminar de uma forma feliz.

D: Sou sempre muito positivo e o Trofense é uma peça muito residual na minha carreira, portanto não posso ficar com tristeza com a minha carreira. Estou muito feliz pela minha carreira, por sentir que por onde passei, fui sempre peça fundamental. Quem trabalhou comigo sabe da minha seriedade, sabe que gosto do que faço. O que se passou no Trofense foi apenas uma pequena coisa. Para ser mais direto, foram pessoas em cargos errados, porque uma instituição de futebol é sempre maior. É preciso existir recursos humanos com um trato diferente. As pessoas que lá estavam, na altura, decidiram assim. Não foi o ponto final de carreira que queria, mas não é a esse que me vou agarrar. Tenho muito boas recordações para me agarrar.

zz: Foi daqueles jogadores que se preparou bem para o fim de carreira...

D: Não sei... (risos)

zz: Há muitos jogadores que terminam sem saber o que vão fazer, como vai ser o próximo passo, mas o Djalma teve a capacidade de antecipar isso.

D: Eu tive algum cuidado. Entrei noutras áreas já há alguns anos, dei tempo a essas áreas. Sempre me dediquei a 100% ao futebol, nunca estive em outras áreas como preparação para o pós-carreira. Mas, com o passar da idade, o aumento da família, começamos a ver outras coisas que gostamos de fazer e a descobrir outras áreas em que gostamos de trabalhar.

Djalma terminou a carreira no Trofense @Filipe Amorim / Kapta+

zz: Portanto, o fim de carreira acabou por facilitar a aposta nessas áreas. Havia outra ocupação para encher os dias.

D: Terminar a carreira é sempre estranho. Se se sentar aqui algum jogador e disser que está tudo bem, é estranho... Começamos a jogar futebol aos oito anos e paramos aos 36 ou 37... O Ronaldo vai mais um bocadinho... (risos)

zz: O Pepe também...

D: O Pepe, claro. São muitos anos com uma rotina muito semelhante. Quando há aquela quebra, há uma estranheza, mas se tiveres ocupação, adaptas-te melhor. Passamos a ter mais qualidade de tempo com a família... A vida vai mais calma, é diferente. Lidamos com muita gente, todas as épocas, e aqueles atletas que mudam de equipa, são 30 ou 40 pessoas novas... Estamos sempre a conhecer pessoas, sempre a nos integrar, sempre a perceber como é a relação com as pessoas.

zz: O que sente mais falta?

D: Jogar, mesmo. Eu gosto de jogar futebol, aprecio o jogo em si. O futebol mudou, a industria está alterada. Quando entrei no futebol, via atletas com muito mais ambição em jogar, em atingir patamares. Hoje a preocupação é mais financeira, não digo que antigamente não seria...

zz: Os valores eram outros...

D: Sim, mas os jogadores sabiam que não atingiam esses valores, se não tivessem qualidade, números, trabalho. Hoje está mais acessível, chegam mais cedo.

zz: Segundo o que diz o zerozero, começou a jogar no Loures.

D: Verdade, no Grupo Sportivo de Loures.

zz: Foi ali o primeiro clube, ou começou na rua, já depois do contacto com a bola em casa?

D: Houve primeiro aqueles jogos de rua, normal. Morava em Santo António dos Cavaleiros, aos fins-de-semana tinha sempre um jogo, pois o meu irmão mais velho jogava e pedia autorização para o mais novo entrar e jogar um bocadinho. Fui habituado a jogar com os mais velhos.

qMorava em Santo António dos Cavaleiros e aos fins-de-semana tinha sempre um jogo. O meu irmão mais velho jogava e pedia autorização para o mais novo entrar e jogar um bocadinho.

Djalma, antigo futebolista

zz: Isso ajuda muito.

D: O nosso desenvolvimento é maior. Aos 11 anos joguei futsal, no AMSAC, apesar de não ter jogado federado, treinei uma época com eles e aos 12 entrei GS Loures.

zz: Sempre como jogador mais avançado.

D: Sim, eu gostava de driblar...

zz: Foi o Djalma a escolher a posição?

D: Sim, sim. Tinha a ver com as minhas características. Era novo, desequilibrava... Nem me recordo, na formação, pensar em jogar noutra posição sem ser extremo. Era aquele sítio que eu gostava...

zz: E era bola no é ou profundidade?

D: Era mesmo profundidade. O motor estava fresco e era sempre a puxar.

zz: Como faz depois a passagem do Loures para o Alverca?

D: O futebol é muito curioso... Em juvenil de primeiro ano tinha sido campeão distrital pelo Loures, tínhamos subido ao campeonato nacional e sou chamado pelo Belenenses. Na altura havia a limitação de estrangeiros, só podia jogar um por cada equipa. Tive no Belenenses, havia um situação complicada com um atleta deles que foi resolvida e acabei por ficar sem clube no primeiro ano de júnior. Treinei no Belenenses, e houve uma situação engraçada, onde treinei com a seleção italiana que participou no Euro 2004, pois eles treinavam lá.

zz: Muito curioso...

D: Fiz toda a campanha da Itália. Tenho fotos com o Del Piero, Buffon, era o apanha-bolas deles. Fiquei meia época júnior, depois estive com o Rui Vitória no Benfica, que apesar de já ter estrangeiro, permitiram que estivesse lá meia época e houve uma altura em que cheguei pensar abdicar do futebol, para me dedicar exclusivamente aos estudos. Eu queria jogar, mas não conseguia. Até que um dia, um amigo, o Ricardo Silva, disse-me que o Alverca não tinha estrangeiros. Disse que ia ligar ao treinador, para ver se eu ia treinar. Isso aconteceu numa manhã, de tarde fui treinar a Alverca e fiquei lá.

zz: Tinha de ser assim...

D: Fiz o ano de juniores no Alverca e depois comecei o meu percurso como profissional.

zz: Quando sentiu que podia ser profissional de futebol?

D: Quando estive no Benfica já tinha sentido isso, mas tem tudo a ver com as oportunidades. Eu sentia que tinha espaço lá, mas não foi possível por uma questão burocrática. Quando cheguei ao Alverca senti, claramente, que essa oportunidade poderia surgir.

Djalma durante a gravação do Ponto Final @Gonçalo Pinto - zerozero

zz: Como reagiu ao primeiro contrato como profissional, à primeira proposta...

D: Não foi assim tão simples. Fui para a Madeira através de um empresário, que me levou para fazer testes. Questionei o facto de ter de fazer testes... (risos) Vinha do nacional de juniores, mas tinha de ter mais humildade. Fiz testes, eramos 53 jogadores, ficamos três: eu, o Zé de Angola e um central. Fomos os três que assinamos contrato com o Marítimo, cinco anos de contrato para jogar na equipa B. Ali víamos a dificuldade de chegar a uma equipa profissional, não tanto como de hoje...

zz: A Liga Revelação ajuda a isso.

D: Verdade. Antigamente tínhamos o Sporting que era exímio na formação, pois os melhores jogadores trabalhavam com os escalões acima. Eu não tive essa transição, pois no Alverca não havia equipa sénior. Havia os juniores e depois terminava, nunca tive esse momento.

zz: O Marítimo fazia muito bem esse trabalho.

D: Muito bem, mesmo. Sempre fez muito bem esse trabalho. A rota era sempre a mesma: equipa B e depois equipa principal. O Pepe é um desses casos, o Babá, o Kléber e o Heldon. Há vários jogadores assim.

zz: Olha para o zerozero, na sua equipa B do Marítimo há o Christopher, o guarda-redes, o Gonçalo Abreu, o Ytalo e o Djalma são os casos mais mediáticos dos jogadores que chegaram a um nível mais alto. Como chegou à equipa principal do Marítimo.

D: Foi uma transição difícil, posso usar esta expressão. Apanhei os homens, barba rija, zona norte da 2ª Divisão, qualquer campo serviam. Eram campos muito castigados pela chuva e pelo mau tempo...

zz: E o público não devia ser fácil...

D: Sim, era uma público muito feroz, mas ajudou-me a crescer muito e a melhor o meu jogo. Na altura, o Ulisses Morais era o treinador da equipa principal, chamou-me várias vezes para completar o treino da equipa principal e isso ajudou a ganhar espaço e a ver que a oportunidade poderia surgiu, como aconteceu.

zz: Foi fácil a adaptação à ilha da Madeira?

D: É sempre um bocado difícil, saímos da nossa zona de conforto... Apesar de ser relativamente próximo, é distante. Só conseguíamos chegar à Madeira de avião... Sair do contexto de casa que eu tinha, deixar para trás a famílias e os amigos, estar sozinho, ter de crescer lá dentro, cheguei ao Marítimo B e não fui logo jogar, tive de esperar pelo meu momento, algumas vezes fiquei fora da convocatória e tinha de ficar lá, sem poder vir a casa. Foi um grande processo de crescimento...

qFui para a Madeira através de um empresário, que me levou para fazer testes. Questionei o facto de ter de fazer testes... (risos) Vinha do nacional de juniores, mas tinha de ter mais humildade

Djalma, antigo futebolista

zz: E ter de crescer com os outros...

D: Sem dúvida, não fui para lá com um carro e um hotel. Mas foi um processo engraçado. Fiquei no lar do jogador, erámos duas pessoas no quarto (eu fiquei com o Sidnei Mariano, que chegou a jogar no Beira-Mar). É um processo natural, uns acabam por vivê-lo melhor que outros. Eu consegui ultrapassar várias barreiras, faz com que como pessoas sejamos mais frios, mas crescemos.

zz: O contexto com que cresceu, pelo facto do seu pai ser jogador, fez com não fosse estranho nada daquilo que encontrou?

D: Sim, mas também está muito relacionado com quem temos ao nosso lado, neste caso, como a família lida com os processos. Eu não era pressionado para ser jogador, a vontade sempre partiu de mim. O meu pai nunca ligou a dizer o que tinha que fazer. Sempre que me ligava era para saber como tinham corrido os jogos. Ele sempre deixou que eu fizesse o meu próprio percurso.

zz: Quando percebeu que era importante no Marítimo?

D: No segundo ano de contrato sou chamado à equipa principal, acabo por ficar na equipa. Foi o ano do Sebastião Lazaroni. É um treinador que me diz muito, porque acreditou nas minhas capacidades, deu-me liberdade para explorar isso, deu-me confiança para crescer e deu-me espaço para estar num grupo que era muito competitivo. Era um Marítimo muito forte, recheado de bons jogadores, jogadores já referência no mercado nacional e eu estava a aparecer e o Sebastião Lazaroni permitiu que isso acontecesse.

zz: Que tipo de conversas Sebastião Lazaroni tinha consigo? Ele chega a Portugal já com o título de Paizão... Tinha sido selecionador brasileiro no Mundial de 1990...

D: Ele viu o meu perfil e disse que eu tinha de fazer parte da equipa. Fui logo fazer o estágio com a equipa no Egito e logo aí disse-me: «Você vai jogar...» (risos). Ele disse que eu ia jogar a meio, fiz o torneio todo a jogar a oito, fui o melhor jogador do torneio, ganhámos o torneio e fui a revelação daquele momento da pré-temporada.

zz: Ele tirou-te da linha e colocou-te no meio...

D: Exato. O esquema tático que ele estava a desenhar na altura era um 4-4-2, que depois se transformava num pouco mais ofensivo.

Sebastião Lazaroni apostou em Djalma para a primeira equipa do Marítimo @Getty /

zz: Quem eram os avançados.

D: Era o Makukula e Kanu, por vezes entrava o Bruno Fogaça. Chegámos do Egito, tivemos um jogo para a Taça de Portugal e eu lesiono-me no ligamento do joelho e pensei que nunca mais apanharia o comboio, mas ele tranquilizou-me, disse para eu recuperar e que nunca mais sairia da equipa. Por isso digo que ele protegeu-me, deu-me espaço para crescer, recuperei, deu-me os meus momentos de jogo, tive colegas que me ajudaram a integrar mais rapidamente, ao contexto profissional.

zz: Quem foram esses colegas?

D: O Gregory e o Makukula foram os principais. Eu acabava por ser um menino deles lá dentro, para poder melhorar e crescer também e acabei por conseguir ter o meu sucesso.

zz: Como surgiu o FC Porto?

D: Foi de forma natural. Eu tinha número, tinha bastantes equipas na Europa interessadas em mim. O FC Porto apareceu, antes já tinha aparecido o Benfica, o Sporting também surgiu, mas em Portugal o clube que queria era o FC Porto e foi por isso que optei ficar cá e não ir para o estrangeiro.

zz: Mas porque optou pelo FC Porto e não foi para o estrangeiro?

D: Tem tudo a ver com a ambição desportiva. Eu poderia ter ido para o estrangeiro e sem dúvida que financeiramente ia ser melhor, mas não teria a experiência desportiva que tive no FC Porto.

zz: Estamos a falar de um FC Porto que tinha acabado de vencer a Liga Europa e ia disputar a Supertaça Europeia, esteve, de resto, nesse jogo contra o FC Barcelona, além da Liga dos Campeões.

D: Era a montra e o sonho de qualquer jogador. A minha decisão pesou muito por esse fator, pelo desejo de crescer desportivamente e aqui em Portugal era no FC Porto que eu acreditava que encaixava melhor.

zz: Encontrou um balneário recheado de nomes fortes. Chegou com estatuto, vindo Marítimo, mas quando entrou no balneário como foi?

D: Eu brinco com os meus amigos a dizer que quando entrei no balneário disse bom dia e ninguém respondeu... (risos) Estamos a falar de um FC Porto com grande competência...

zz: Estavas na ala e naquela ala estava o Hulk.

D: Lá está... Muitos podiam fugir disso, mas eu encarei isso como um desafio. Tive de conquistar o meu espaço, todos tinham sido campeões de quatro competições, estavam muito valorizados e todos a jogarem num nível muito alto e eu tinha de fazer valer do valor que poderia acrescentar.

Djalma chegou ao FC Porto em 2011/2012 @Catarina Morais

zz: E conseguiu impor-se na equipa. Como foram os primeiros tempos?

D: Houve coisas que vivi ali que guardei para a forma de vida. O ser minucioso do que fazemos e estar próximo da perfeição é algo normal. Eu sentia isso em todas as áreas. Sempre foram exímios em ajudar os jogadores a terem a melhor performance.

zz: Quando foi contratado ainda estava o André Villas-Boas como treinador e acredito que isso tenha pesado. Na altura era o melhor treinador do futebol português. Foi uma época de grande impacto e acredito que isso também tenha sido importante.

D: Tudo pesava, o FC Porto tinha sido campeão, tinha ganho imensos títulos, ia competir na Liga dos Campeões... Para mim é o maior clube desportivo em Portugal. Ingressar neste emblema, para mim, foi um motivo de orgulho... Se fosse para o Rennes não ia ter grande sentimento.

zz: Seria uma caixa de jornal... Uma mudança para o FC Porto dá direito a capa.

D: (Risos) Sim... E por isso é que também deixei a minha marca.

zz: Qual foi o jogador que mais surpreendeu naquele grupo?

D: Hulk, sem dúvida. E de longe.

zz: O que encontrou foi algo que já esperava encontrar?

D: Foi mais, foi maior. O que se passa dentro do Olival é um nível de exigência muito alto. A identidade do FC Porto é assim mesmo: tentares ao máximo para atingir a perfeição.

zz: Apesar de ter escolhido o clube que queria estar, se calhar não conseguiu estar o tempo que queria estar...

D: Exatamente. Foi muito isso.

zz: Como surgiu a saída para a Turquia?

D: Eu entro numa equipa onde grande parte das pessoas pensaria que eu ficar 50 jogos sem ser convocado e acabei por fazer mais de 20 jogos. Tive uma sequência muito boa, que foi quebrada pela CAN. Todos fazem essa questão: o que teria sido no FC Porto, se não fosse à CAN.

zz: Podia escolher?

D: Acho que não. Há jogadores que escolhem, mas eu não penso assim. É uma coisa natural que acontece agora e já na altura era assim, jogadores que vão para a CAN e depois perdem espaço nos seus clubes. Tinha acabado de chegar, tinha acabado de conquistar o meu espaço, vinha de uma série de vários jogos a titular, foi feito um pedido à federação angolana para eu me apresentar mais tarde, para que pudesse jogar em Alvalade... Portanto, penso que já tinha importância na equipa. Fiz os meus jogos, fui campeão, esperava um início de época diferente, mas fomos de estágio e comecei a ter perceção de uma utilização diferente. Correu bem a experiência de passar para lateral contra o Benfica, toda a gente falou bem, mas eu tinha de me sentir com prazer no meu jogo: sentia-me como extremo e não como lateral.

zz: Estou a perceber...

D: Na altura, o Vítor Pereira, depois de eu ter passado uma temporada como extremo e só algumas vezes a lateral, adaptado durante o jogo, começo a pré-temporada a lateral e questionei...

zz: Sem ele ter alguma coisa antes.

D: Exatamente, questionei e expliquei que a minha posição não era a lateral e foi claro. Disse que eu não iria ter espaço. Mostrou-me um espaço onde estava o Atsu, o Iturbe, que não tinham sequer jogado na primeira equipa, mas percebi que teriam vantagem em relação a mim e que não teria o meu espaço. Rapidamente não quis ficar à sombra e quis procurar uma solução por mim.

zz: E é aí que vai para a Turquia.

D: Exatamente.

zz: Quando surgiu a Turquia, em alguma vez pensou que iria fugir do radar e deixar de ser visto?

D: Tem a ver com o momento. Nem sempre decides bem, mas tens de decidir.

zz: Só havia Turquia?

D: Havia outras equipas, mas em Portugal não queria jogar noutras equipas e quando surgiu a Turquia, olhei para a situação como um desafio. Era um país diferente, percebi como era a competição, fiquei seduzido e arrisquei.

qQuando regresso ao FC Porto, depois do ano de empréstimo, percebo que o meu tempo já passou e que nada está relacionado com os números que faça durante o período de empréstimo

Djalma, antigo futebolista

zz: Encheu as medidas?

D: Inicialmente senti a diferença da exigência. Saí do FC Porto e fui para o Kasimpasa. O Kasimpasa era um clube emergente, estava a criar um novo projeto, estava a sair da 2ª Divisão, tinha um capital financeiro imenso e queria atingir rapidamente um patamar elevado. Contrataram muito bem, jogadores com renome e passagens por grandes clubes. Fizemos uma época tranquila, conseguindo ficar na 1ª Divisão.

zz: E no capítulo do jogo, como foi?

D: Era mais dinâmico, havia mais espaço, mais golos... foi um campeonato que me atraiu.

zz: Enquadrou-se melhor com o seu jogo?

D: Não era um jogo tão tático. Quando estive lá não era um jogo tão fechado, não se olhava tanto à parte tática, era um jogo mais aberto. Para mim, que gosto da liberdade e do drible, foi vantajoso, pois havia mais lances individuais, mais oportunidades de encarar a baliza. Por muito que o campeonato melhore o capítulo tático, vai sempre olhar para a questão dos golos, pois os adeptos gostam de golos.

zz: Esteve a primeira época emprestado e depois muda de clube: foi algo normal?

D: Sim, os empréstimos são sempre negociações. Quando regresso ao FC Porto, depois do ano de empréstimo, percebo que o meu tempo já passou e que nada está relacionado com os números que faça durante o período de empréstimo. Aí comecei a dinâmica do futebol e percebi que tinha de fazer a minha carreira.

zz: Isso tem a ver com o radar onde está? Se calhar, hoje é diferente...

D: Eu estive emprestado à Turquia uma temporada. Na época anterior tinha estado em Portugal, tal como nas anteriores, as pessoas não poderiam dizer que não sabiam quem eu era, qual a minha qualidade e o que poderia acrescentar a cada equipa. Não foi por ano da Turquia que as coisas iriam mudar. A minha perceção foi mesmo de que não fazia parte da continuidade do projeto do clube. Quando assim é, e apesar de ter contrato, temos de continuar. Surgiu o Konyaspor e para mim fazia sentido, pois já estava na Turquia, já tinha ultrapassado a adaptação, já estava integrado na cultura, no modelo de jogo e como tal foi fácil regressar.

Djalma esteve seis épocas na Turquia @Getty /

zz: Fazia todo o sentido...

D: Para mim foi ótimo. Quando aterrei em Konya, tinha duas mil pessoas à espera do aeroporto.

zz: Sabia que era assim?

D: Cheguei a Konya como sendo a grande contratação. Ser recebido dessa forma, mexe com qualquer pessoa.

zz: É sentir-se desejado?

D: Exato. Tens um estilo de jogo e se para um sítio não serves, tens de procurar o teu local.

zz: Por vezes é difícil catalogar qual o momento mais dourado de uma carreira, mas sentiu que aqueles dois anos foram bons?

D: Sim, foram bons. Eu não encaro esses como sendo anos dourados, porque para mim o ano dourado foi quando fui campeão no FC Porto, porque eu queria muito ser campeão português e pelo clube que foi. Esse sim, foi o meu ano dourado.

zz: Foi uma época bastante difícil. Chegou a estar a quatro pontos...

D: E vira na Luz, golo de Maicon...

zz: Fica 2-3 esse jogo...

D: Esse mesmo.

zz: Quando saíram de Barcelos aquela distância sentiam que era impossível? O que vos disse o Vítor Pereira?

D: Não há impossíveis... Por isso é que eu digo o que digo em relação ao FC Porto. Mesmo hoje, com a distância de pontos e as capas de jornais que vemos, até não dar mesmo, dá. (risos...)

Djalma foi 13º convidado do programa do zerozero Ponto Final @Gonçalo Pinto - zerozero

zz: Vocês notavam isso?

D: Descrever isto é difícil, mas é mesmo diferente.

zz: Mas a equipa, quando está a uma distância pontual considerável, agarra-se a quê? Ao trabalho?

D: Ao detalhe. O detalhe é que vai fazer a diferença no momento de acertar: o detalhe na preparação, o detalhe de execução, o detalhe da concentração... o detalhe.

zz: Quando viraram o campeonato na Luz, sentiram que estava feito?

D: Não. Só está feito quando acaba... Quando estava feito, estava em casa... O Benfica empatou e recebi a mensagem a dizer que tínhamos de ir para o estádio... (risos).

zz: Como foi?

D: Tivemos a festa na varanda e só depois, no outro jogo, é tivemos a festa no estádio.

zz: Como foi essa noite? Muitas das vezes os jogadores dizem que não estão preocupados do local onde são campeões...

D: Estava em casa a ver o jogo e sentíamos que podia ser naquela noite. Sim, queremos ser campeões o mais rápido possível... É sempre mais bonito se for no estádio, acabámos por fazer a festa também no estádio, mas acaba por não ser importante o local, perante a dimensão do título, que era ser campeão da Liga.

zz: Depois de dois anos no Konyaspor foi para o quase impronunciável Gençlerbirligi. Foi dizer o nome?

D: Já conhecia e já estava habituado à fonética (risos...)

zz: Foi para lá já depois de se ter desvinculado do FC Porto.

D: Tinha vários clubes da Turquia, na altura ainda tinha contrato com o FC Porto, mas acabamos por terminar a relação, pois não havia a pretensão de regresso. Já estava acordado com o Gençlerbirligi e só tive de resolver a situação com o FC Porto, para seguir carreira por ali.

zz: Que clube era este?

D: Um projeto bom. Inicialmente foi difícil, porque era um equipa nova, mas a meio da época encontrámo-nos todos e fizemos uma segunda metade da época muito boa.

zz: Até depois surge a Grécia e o PAOK... Já era o presidente Savvidis?

D: Já era o Savvidis (risos...)

qNo PAOK tive uma criança de 14 anos a questionar-me se eu estava de férias e a exigir que ganhasse, porque estava no PAOK

Djalma, antigo futebolista

zz: Tive algum receio quando foi negociar contrato? O presidente estava de pistola? (risos)

D: Não, nenhum. As coisas resolveram-se antes e cheguei lá já para a apresentação. Foi mais uma aventura. Nesta altura já era pai e já pensava em tudo: como era a cidade, se tinha escola, tudo isso...

zz: Mas Salónica é capaz de ser uma cidade apetecível...

D: Sim, sem dúvida, bom clima, mas não vamos passar férias. Pode ser bom, para o contexto de um solteiro...

zz: Mas a tranquilidade deve ajudar, se estiveres num local prazeroso.

D: Sim, mas depende das necessidades de cada família. Para mim, imprescindível seria a escola dos meus filhos, o clube ter boas condições e ambições grandes. Cumpria os requisitos todos, além disso era uma cidade que não necessitava de apresentações. Enquanto que Konya teve de conhecer a cidade, Salónica já sabia.

zz: Toda a sua envolvência. Foi impactante ou por causa de já ter vivido algum semelhante na Turquia ajudou?

D: Foi impactante. Os adeptos do PAOK são muito fervorosos, vivem intensamente o clube. Os adeptos são muito exigentes, apesar do clube não ter muitos títulos no capítulo interno. A massa adepta quer sempre ganhar, apesar de não estar habituado a ganhar títulos. Tudo isso faz com que seja transversal aos adeptos. A cidade é muito pequena, vive em redor do clube e dos seus jogadores. És reconhecido na rua, toda a gente te pergunta coisas, até na escola das crianças...

zz: Mas não sentia isso no Porto?

D: Não sentia tanto, porque temos de acrescentar o aspeto cultural. No PAOK tive uma criança de 14 anos a questionar-me se eu estava de férias e a exigir que ganhasse, porque estava no PAOK. É impensável aqui. Por digo que é algo cultural...

Djalma jogou duas temporadas no PAOK e venceu duas taças da Grécia @Getty /

zz: E o Djalma também queria ganhar.

D: Exato, e não preciso que seja um menino de 14 anos a dizer-me isso. Na Turquia e em Portugal não acontecia isso.

zz: Na Turquia viveu tudo isso de forma respeitosa.

D: Completamente, os adeptos sabiam que a nossa entrega era máxima.

zz: Na Grécia chegou a ter escoltas policiais para o estádio?

D: Sim. Era uma coisa normal, porque eles têm a tradição de ir para o estádio de mota, pois no percurso entre o hotel e o estádio, que é um percurso curto, há adeptos nas ruas. Na Grécia é pouco habitual haver adeptos da equipa rival, porque eles não se entendem.

zz: Daí um Aris x PAOK ser a ferro-e-fogo...

D: É difícil, para a parte da segurança é extremamente difícil.

zz: Acredito que tenha sido a loucura quando vocês ganharam a taça da Grécia.

D: Foi mesmo, já não ganhavam um troféu há 13 anos, nesse ano podíamos ter ganho o campeonato, mas foi a transformação o investimento do presidente em títulos.

zz: Nesse dia lembrou-se da criança de 14 anos e teve vontade de ir ter com ele e perguntar se podia ir de férias?

D: Não, eu lembro-me disso, por causa da abordagem. Foi algo que me marcou, porque eu estava com a minha família, não estava sozinho. Não me lembrei dele nas celebrações, só ficou marcado nas celebrações, nem me lembro da cara dele.

zz: Saiu do PAOK e regressou à Turquia: Alanyaspor. Novamente um bom destino de férias (risos), mas não foi de férias...

D: Verdade, um localidade no sul do país, bom tempo, um clube estável, tinha bons jogadores. Foi uma boa opção.

Djalma classificou a época em que foi campeão pelo FC Porto como dourada @Catarina Morais

zz: Teve lá temporadas: foi o Covid-19 e a pandemia que o obrigou a regressar a Portugal?

D: Sim, o Covid-19 fez-me pensar bastante. Muitas incertezas, a família, as crianças, estava longe do país, não sabia o que ia acontecer no dia a seguir e acabei por decidir regressar a Portugal e continuar a carreira por cá, até perceber o que poderia desenrolar.

zz: Como foram esses tempos?

D: Foi difícil, como para todas as famílias. As limitações de horários, eu por estar próximo da praia, consegui ter um pouco mais de liberdade, mas foram momentos muito difíceis.

zz: Regressou a Portugal e para o Farense que estava na 1ª Liga.

D: Tinha propostas para continuar na Turquia, mas deixei o mercado avançar e optei pela 1ª Liga portuguesa.

zz: Como se lembram de ti?

D: Na altura o meu empresário, o António Teixeira da Promosport fez o seu trabalho, apresentou as opções e eu tomei a minha decisão.

zz: Mas foi uma temporada difícil...

D: Sim, o projeto era bom, mas foi um regresso a Portugal, depois de oito anos fora, onde vi coisas que pensei que já estaríamos mais à frente...

qNo regresso a Portugal, depois de oito anos fora, vi coisas que pensei que já estaríamos mais à frente... Treinei num sintético e não me lembro de quando foi a última vez que isso tinha acontecido

Djalma, antigo futebolista

zz: Quer detalhar alguma?

D: O primeiro dia que cheguei para treinar, treinei numa relva sintética. Não me lembro de quando foi a última vez que isso tinha acontecido. Um profissional de futebol gosta de ter outras condições...

zz: Esperava que as condições para os jogadores fossem iguais aquelas que colocam...

D: Para um jogador ter longevidade na carreira, tem de ter algumas condições de base.

zz: E não basta o jogador cuidar-se...

D: Pois não. Há condições de trabalho que tem de ser de base. Eu invisto em mim á muitos anos, desde PT, reforço de treino, nutrição...

zz: Quando sentiu necessidade disso?

D: Na Turquia isso já se faz há muito tempo, mesmo a recuperação com fisioterapia em casa, já se faz há muito tempo, com máquinas em casa para acelerar a recuperação em casa, já se faz há algum tempo e quando chegamos a um clube, que ao nível de recuperação não está preparado, mas pede isso ao jogador, é porque algo não está bem. Os jogadores com a idade tem que se cuidar mais e se o clube não tem essa base, acaba por encurtar a nossa carreira...

zz: Djalma foi uma carreira bonita?

D: Foi, bastante. Foi espetacular.

zz: Como era a sensação de vestir a camisola dos Palancas Negras?

D: Isto aqui era outro nível...

Djalma foi 48 vezes internacional angolano @Getty /

zz: Falou de chegar a Konya e ter milhares de pessoas, acredito que subir ao estádio 11 de novembro também arrepiava...

D: Quando fui para a seleção de Sub-20, não tinha a noção do que era chegar à seleção principal de Angola. Quando tive essa oportunidade, na CAN, no nosso estádio, de viver aqueles momentos com milhares de pessoas...

zz: Foi uma CAN emblemática...

D: Sim, não correu como queríamos, mas foi espetacular a sensação e passei momentos muito bons com esta camisola.

zz: Tem a primeira chamada em 2008, ainda apanha alguns jogadores vindos do Mundial de 2006 e acredito que a exigência tem sido grande, até porque em 2010 houve o primeiro mundial em África...

D: Eu não senti tanto, mas quando entrei na seleção, a equipa vinha a crescer continuamente, mas teve a quebra, depois de não conseguir a qualificação para o Mundial. Encontrei uma seleção muito competitiva, jogadores que atuavam em África, mas que jogariam aqui em qualquer clube, pois tinham uma grande capacidade de competir. Senti-me feliz por poder ingressar naquele grupo e mais tarde por ser uma peça influente.

zz: Sente que ainda é um filão por explorar?

D: Sem dúvida que sim. Tem uma matéria-prima muito grande. Um dos meus projetos pós-carreira está relacionado com isso, ajudar a que essa matéria-prima seja cada vez mais visível, para que existam mais angolanos no alto nível, que não seja só o Zito Luvumbo que está num grande nível na Itália. Tivemos o Gelson Dala que já está no futebol árabe. O objetivo é ter mais jogadores angolanos num nível alto.

zz: Trouxe-nos a camisola do FC Porto da Supertaça. Foi um dos primeiros jogos.

D: Acabei por não entrar, mas foi emocionante. No Mónaco...

Djalma enalteceu a sua passagem pelo FC Porto @Catarina Morais

zz: É uma das últimas finais da Supertaça Europeia no Mónaco, no emblemático estádio Louis II, diante de um super Barcelona. O Barcelona ganha 2-0, não sai do banco, mas esta temporada acaba por ser a temporada do sonho de menino?

D: Este jogo deu-me uma escala de tudo o que iria passar. Todos os momentos: primeiro jogo com a equipa, viajar para o Mónaco, depois ser contra o Barcelona, que estava recheado de estrelas... Apesar de ter o Hulk do nosso lado, o Falcao, o Helton, foi um momento em que percebi que já não era só na Playstation (risos)...

zz: E aquela noite em maio, em sua casa, vai ficar para sempre emoldurada na sua cabeça?

D: Fez completar o processo... Não há nada melhor do que idealizarmos algo e conseguirmos concretizar o que projetamos.

zz: Como celebrou esse momento?

D: Foi celebrar, era muito jovem e queria celebrar. Hoje fazia de forma diferente... Há momentos no futebol que passam muito rápido e se tiver que dar algum conselho aos jovens, sugiro que aproveitem os momentos, pois os momentos no futebol passam muito rápido, mas eles são marcantes...

zz: E nunca se sabe quando vai ser o próximo.

D: Mesmo. Não é fácil, é muito inconstante, porque por vezes parece que a carreira vai ser de uma forma, mas depois é de outra. Há muitos fatores que não estão relacionados com a performance, nem com a vontade. Mas, como em tudo na vida, temos de ser resilientes.

zz: Quem merece o seu maior agradecimento, nestes 30 anos de carreira.

D: Sebastião Lazaroni, sem dúvida. Foi quem acreditou no meu potencial. Como treinador, foi a figura que permitiu que eu tivesse a carreira que tive. Pessoalmente, a minha esposa, a Marília Campos. É a pessoa que me apoia em todos os momentos, quando chegamos a casa tristes, com um lesão, criticamos o arroz, a massa... Ela aguenta tudo e todos estes anos. Quem é jogador sabe que nós temos muitas limitações, as nossas companheiras e as nossas famílias têm de abdicar de muita coisa para nos acompanharem no nosso sonho.

qSebastião Lazaroni foi quem acreditou no meu potencial. Como treinador, foi a figura que permitiu que eu tivesse a carreira que tive

Djalma, antigo futebolista

zz: Só falta o 11 de eleição, no meio de todos os jogadores com que partilhou balneário.

D: Na baliza, o Helton...

zz: Esse era fácil...

D: São os melhores em vários aspetos... Na direita, Ricardo Esteves. Jogou comigo no Marítimo, grande amigo e muito competente. Metia sempre a bola na cabeça do Makukula, deu-me muitos prémios.

zz: Ele era um dos que te servia sempre na profundidade.

D: Muito bem. A central escolho o Varela, que está no Casa Pia, jogámos juntos no PAOK. Para mim, é um grande defesa central e um grande líder. Ao lado dele coloco o Rolando. Quando cheguei ao FC Porto não falava muito, agora já fala mais um bocadinho. Um grande central e um grande homem, foi muito importante para o meu processo de integração no FC Porto. Além das qualidades dele como jogador. Na esquerda escolho o Gilberto, lateral angolano. Foi meu colega na seleção, ganhou no Al Ahly grandes troféus, gostava muito do seu estilo de jogo.

zz: Excelente, até agora.

D: Vou jogar em 4-3-3. No meio vou colocar o Fernando.

zz: O polvo.

D: Exatamente. Como pessoa, cinco estrelas, como jogador, entende o jogo como ninguém. Posso dizer que foi o melhor trinco que vi jogar, percebe o jogo de forma estrondosa, já nos últimos anos deixou de ser trinco e passou a ser oito, faz mais golos e tudo. 

zz: Acho muito curioso ele celebrar sempre com a bandeira portuguesa, cada vez que ganha um título.

D: Tem a ver com a sua identificação com Portugal. Ele também é meu vizinho aqui em Portugal e quando visita o nosso país, estamos algumas vezes juntos. Na direita vou colocar o baixinho que ainda joga...

zz: Vou tentar adivinhar: João Moutinho...

D: Esse mesmo (risos)... Costumo usar a expressão Todo-Terreno, para falar sobre o João Moutinho. Eu conheci o João Moutinho e ele não me conhecia. Foi na Academia do Sporting, quando eu estive lá a treinar. Ele é um ano mais velho que eu e chegamos a fazer alguns treinos juntos e acabamos por nos conhecer mais à frente. É um grande jogador e está numa grande forma.

zz: Já lhe perguntaram se ainda tem espaço na seleção...

D: É preciso jogar. Olhamos muito para a idade e esquecemo-nos de que é preciso jogar. Não é ser novo que dá passaporte. Um bocadinho mais à frente vou escolher o Alexsandr Hleb. Incrível... Dá passes incríveis e tem um entendimento do jogo enorme e joga de forma brutal com qualquer um dos pés. No ataque, à direita, vou escolher o Hulk. Ele gosta de chutar e tenho de o escolher já.

zz: Vocês media a velocidade dos remates?

D: Acho que foi mais no Zenit, aqui no Porto não, mas era um pontapé com muita força. Incrível. Gostei muito de o conhecer, de competir com ele, de sentir que ele estava uns níveis acima, tem um dom físico incrível... Um grande jogador. A ponta de lança, Papiss Cissé. Estivemos juntos no Alanyaspor. Tinha um faro de golo muito bom, finalizava muito bem, com um jogo área elevado, entendia o jogo de forma espetacular. Gostei muito. Na esquerda vou colocar o James Rodríguez. Apesar de ter sido meu concorrente, a nível técnico era incrível. Dentro do treino, num curto espaço, fazia coisas magníficas. Passou pelos clubes que passou, continua a dar cartas. Foi um grande jogador e um grande companheiro...

Djalma durante a gravação do Ponto Final @Gonçalo Pinto - zerozero

Angola

Djalma Campos

NomeDjalma Braume Manuel Abel Campos

Nascimento/Idade1987-05-30(36 anos)

Nacionalidade

Angola

Angola

Dupla Nacionalidade

Portugal

Portugal

PosiçãoAvançado (Extremo Direito) / Avançado (Extremo Esquerdo)

 Feirense x Trofense

 Trofense x Leixões

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