Entrevista de carreira a Fábio Faria: «Na ambulância adormeci e vi uma imagem dos meus pais e da minha irmã ao fundo...»

3 semanas atrás 1483

Este é o ponto final. Aqui vamos dar espaço ao adeus, vamos pendurar as chuteiras e vasculhar no álbum das recordações de jogadores que marcaram gerações. Não há parágrafo, sem antes haver um ponto final.

O nosso convidado deixou de jogar há mais de dez anos, quando ainda tinha 24 e uma carreira em progressão. Filho de avançado, notabilizou-se no lado oposto e foi internacional jovem português. Teve uma experiência além fronteiras e tornou-se uma lição de vida para muita gente. O futebol deu-lhe muita coisa, mas também tirou. Fábio Faria.

zerozero: Obrigado por estar connosco no zerozero e no Ponto Final. Com estas dicas, descobria o nome do jogador?

Fábio Faria: Acho que ia ser difícil. Se fosse há dez anos chegariam com muita facilidade. Já passou algum tempo. Pode haver gente que chegue lá, mas vai ser mais difícil.

zz: Até por isso é importante tê-lo aqui, pois o que lhe aconteceu, pode acontecer a qualquer pessoa. O seu último jogo foi no dia 4 de fevereiro de 2012, um Moreirense x Rio Ave. Não se preparou para isso, naturalmente, mas depois do ocorrido, pensou que fosse o último jogo?

FF: Não, não pensava que era o último jogo. Vinha de fase complicada, tinha sido emprestado pelo Benfica ao Paços de Ferreira, já tinha estado na época anterior no Valladolid, onde fiz apenas três jogos, lesionei-me e parei dois meses e só fiz mais um jogo... Voltei ao Benfica para fazer a pré-época e até correu bem, mas porque os internacionais não estavam. Foi na altura em veio o Ezequiel Garay e eu preferi ser emprestado e ficar no plantel o Miguel Vítor , para ganhar minutos. Fui emprestado ao Paços de Ferreira e no início as coisas correram bem, porque era o Rui Vitória o treinador, e ele tinha feito muita força para ir para o Paços de Ferreira, mas depois ele saiu para o Vitória SC e veio o cunhado do Vítor Pereira, o Luís Miguel. Joguei regularmente, mas como os resultados não estavam a aparecer as coisas mudaram. Veio o mister Henrique Calisto e a partir de janeiro fez uma revolução muito grande. O Paços de Ferreira foi buscar dois centrais e eu deixei de ter minutos. Na altura liguei para o Rui Costa que precisava de jogar e precisava de voltar a casa. Eu sabia que o Rio Ave precisava de um central, o mister Carlos Brito já me conhecia, tinha sido ele a lançar-me na equipa principal do Rio Ave. Portanto, ao saber do interesse e a saber que podia voltar a casa foi bom. Ia voltar a jogar, a sentir-me feliz... as pessoas ali gostam de mim.

zz: Mas de regresso àquele jogo...

FF: Nesse dia, quando nada era esperado, a dois minutos do fim, comecei a sentir-me mal e foi aí que aconteceu tudo.

zz: O que sentiu?

FF: Foi muito estranho. Faltavam dois minutos para terminar a partida, o jogo já não interessava, tanto a nós, como ao Moreirense, pois já não passaríamos para a fase seguinte da Taça da Liga. Lembro-me que estava muito frio e a dois minutos do fim, recordo-me de fazer um carrinho sobre o Cícero que tinha sido meu colega no Paços Ferreira. Nesse lance ele, sem querer, calcou-me o joelho e comecei a sangrar. Para o árbitro não me tirar do campo, baixei-me para tirar o sangue e quando me levantei comecei a ter a visão turva. Pensei que era da pancada, de me ter levantado rápido... Comecei a sentir-me estranho. Mas o jogo seguiu... Daquele carrinho surgiu uma falta, eu fui para a área, mas durante aquele minuto a minha visão não voltou ao normal. Depois do lance, falei com o Vítor Gomes, expliquei-lhe o que estava a sentir e decidimos que seria melhor pedir ajuda à equipa médica.

zz: O que ele disse?

FF: Disse que deveria ser uma quebra de tensão, por estar muito frio e o jogo estar a terminar. Chamaram-me os bombeiros e a maca para me levar para o balneário e foi aí que vi que as coisas estavam a começar a ser graves.

zz: Então? O que aconteceu depois?

FF: Foram momentos aflitivos. Ainda tenho a imagem na cabeça. Eles deitaram-me na marquesa, o médico estava a auscultar-me e reparou que o meu batimento não estava normal. No primeiro diagnóstico pensavam que era uma quebra de tensão e por isso deram-me uma banana e um chocolate para repor os níveis de açúcar. Passado pouco tempo começou a dar-me a volta à barriga e, quando tentei ir à casa de banho, não sentia as pernas e caí no chão.

zz: Imagino a aflição...

FF: O médico nesse momento ficou preocupado, os meus colegas também. Ajudaram-me a ir à casa de banho e quando voltei para a marquesa já não sentia os braços. Olhei para a cara do médico e via-o em pânico: começou a afastar os meus companheiros e a ligar para a ambulância, para me levarem para o hospital. Foi aí que percebi que as coisas não estavam bem.

zz: Teve alguma ação rápida no hospital ou quando chegaram os bombeiros, ainda no estádio? O médico deve ter percebido logo qual o problema.

FF: Certo. Ele não quis transmitir isso para mim, mas sentia no olhar dele a preocupação. A ambulância demorou a chegar um pouco...

qLembro-me perfeitamente de entrar na ambulância e apagar. Acordei com o desfibrilhador, no hospital, com o casaco todo rasgado e a sensação inexplicável. Mas foi aquilo que me salvou a vida. Não desejo a ninguém a sensação de acordar com um desfibrilhador, mas foi o que me salvou a vida

Fábio Faria, antigo jogador de futebol

zz: Mas estavam lá os bombeiros.

FF: Sim, mas precisavam da ambulância para ser mais rápido a chegar ao hospital. Lembro-me perfeitamente do meu pai ter conseguido entrar numa área mais restrita do estádio, até por ser conhecido das pessoas, por ter sido jogador. No caminho entre o balneário e a ambulância ele perguntou-me como estava e as palavras que disse foram: 'Já fui...'

zz: Deve ter sido difícil para ele...

FF: No meu subconsciente eu sentia que algo não estava bem. Lembro-me perfeitamente de entrar na ambulância e apagar. Acordei com o desfibrilhador, no hospital, com o casaco todo rasgado e a sensação inexplicável. Mas foi aquilo que me salvou a vida. Não desejo a ninguém a sensação de acordar com um desfibrilhador, mas foi o que me salvou a vida.

zz: Mas quando disse o 'Já fui...' não estava a pensar que era um problema cardíaco.

FF: Não era, mas eu já estava a sentir algo estranho. Eu não sentia o corpo, só conseguia rodar a cabeça, tinha o corpo gelado, sabia que alguma coisa estava a acontecer. Eu olhava para o médico e sentia-o apavorado. Ele não queria mostrar isso, mas eu sentia que as coisas não estavam bem. Depois de entrar na ambulância senti-me confortável, abrigado. Senti um conforto tão grande que comecei a apagar. Eu sentia aquilo que via nos filmes, quando apareciam momentos em que algumas pessoas estavam quase a morrer e apareciam outras que diziam para elas não adormecerem, que seria pior... Eu não queria adormecer, mas estava tão confortável que houve um momento em que adormeci e lembro-me de ver uma imagem da minha mãe, do meu pai, da minha irmã, dos meus avós ao fundo...

zz: Mas eles estavam na ambulância?

FF: Só estava eu e as pessoas que me iam levar ao hospital.

zz: Eram visões...

FF: Sim, eram visões. Eu tive as visões que as pessoas dizem que têm. Não escondo, é verdade. Depois, foi a sensação de acordar com um desfibrilhador. Recordo-me de quando a médica me vai dar nova carga de desfibrilhador de eu dizer que já estava bom. Foi uma sensação muito forte. A partir do primeiro choque, senti o meu corpo a voltar ao normal, senti o sangue a circular pelo corpo todo e fiquei mais tranquilo.

zz: Acredito que quis saber tudo o que se tinha passado.

FF: Certo, mas não soube nada. Tiraram-me o telemóvel, fui logo para os cuidados intensivos, para descansar. Mas eram duas ou três da manhã e eu não dormia, a pensar no que me tinha acontecido. Sabia que era algo grave, mas não sabia o que era.

zz: E saiu do jogo sem que alguém soubesse o que tinha acontecido.

FF: Verdade, nem os meus pais sabiam. A minha mãe ficou a dormir no hospital e só no dia seguinte, quando me entregaram o telemóvel, depois de verem que os exames estavam todos bem é que vi na capa dos jornais: 'Fábio Faria teve um ataque cardíaco'. Foi aí que caiu ficha e vi que as coisas tinham sido muito difíceis. Eu já tinha noção, mas um ataque cardíaco nunca me tinha passado pela cabeça.

zz: Como se gere uma situação destas aos 24 anos?

FF: É muito difícil e foi muito difícil. Eu não aceitava. Foram dias difíceis, eu não saía de casa. Os meus pais iam a minha casa e eu não saía do quarto, não queria estar com ninguém, não aceitava. Mais à frente percebi que nada acontece por acaso e tinha de acontecer a mim.

Fábio Faria esteve no zerozero para gravar o programa Ponto Final @zerozero

zz: Mas quis perceber porque lhe aconteceu esta situação? Percebeu como não foi detetável esta falha?

FF: Porque não era detetável. Eu fiz sempre os exames, quando fui para o Benfica os exames eram ainda mais rigorosos, precisamente por causa do episódio que levou à morte do Miki Feher e nunca apareceu nada. O mais curioso, é que a partir deste momento passou a aparecer um problema. É estranho, é inexplicável. O meu médico disse-me que os jogadores de futebol e os atletas de alta performance estão sujeitos a esforço muito grande e por vezes o coração pode não aguentar. No meu caso pode ter sido isso, ou outras coisas.

zz: A máquina ficou com o registo.

FF: Sim, mas agora está bem oleada.

zz: Mas houve uma explicação científica para o coração começar a funcionar em défice, em determinado momento.

FF: O médico explicou-me que esta situação acontece a muitos jogadores e depois fazem uma pequena cirurgia e continuam a jogar normalmente. O problema, no meu caso, é que eu tinha vários focos e isso torna tudo mais perigoso. Por isso, o meu problema era mais difícil de resolver.

zz: Já vamos regressar a esta parte, pois agora queremos ir ao início: no zerozero temos a informação que começou a jogar futebol no FC Porto em 2001/2002, mas não foi aí que começou no desporto...

FF: Não. Pouca gente sabe...

zz: Agora no zerozero já está direito, mas antes de vir a esta entrevista o seu perfil não estava totalmente certo.

FF: Pois não... Curiosamente comecei no desporto no basquetebol, aos cinco anos. O meu pai tinha sido jogador de futebol, mas o fim de carreira dele não foi tão bom como ele esperava e não queria que eu jogasse futebol. O meu pai antes de jogar futebol também jogou basquetebol e como tal sugeriu-me que começasse no basquetebol e assim foi, dos cinco aos 12 anos. E tinha muito jeito.

zz: Pareceu-me que ia dizer que tinha mais jeito para o basquetebol?

FF: Sim, acho que sim. O meu pai tinha uma escolinha de futebol, mas eu era maluco por basquetebol, adorava NBA, os meus ídolos eram o Allen Iverson e o Michael Jordan, andava vestido à jogador de basquetebol: calções abaixo do joelho, sapatilhas grandes, fitinha na cabeça...

zz: Só faltava ter o penteado do Allen Iverson.

FF: O meu pai não me deixava fazer tranças, mas andava com fita na cabeça, camisolas largas, típico jogador de basquetebol. Lembro-me de quando fui ao primeiro treino no FC Porto ir assim vestido e eles no balneário começarem a olhar para mim. Era um estilo diferente.

zz: Pensaram que se tinha enganado no balneário.

FF: Ou isso, ou pensaram que eu era estrangeiro.

qQuando ligaram do FC Porto ao meu pai, ele pensava que era por causa do basquetebol, pois eu jogava basquetebol no GD José Régio

Fábio Faria, antigo jogador de futebol

zz: E como foi parar ao futebol?

FF: Tudo na minha vida é curioso. Só soube mais tarde como tudo aconteceu. Eu tenho uma tia em comum com o Hélder Postiga e na segunda-feira de Páscoa, em Vila do Conde, é típico fazer um piquenique familiar. Nesses momentos havia sempre uma bola e estávamos lá a jogar e o pai do Hélder Postiga achou que eu tinha jeito. Ele falou com os diretores do Porto, passou-lhes as minhas informações e disse para falarem com o meu pai, mas nunca nos disse nada. Em julho recordo-me de estarmos a caminho da praia e o meu pai recebeu uma chamada de um dirigente do Porto a dizer que queriam que eu fosse às captações.

zz: Ele não achou estranho?

FF: Foi engraçado, porque ele pensava que era captações para o basquetebol e começou a dizer que as captações iam começar mais cedo, pois em Vila do Conde o basquetebol só começava em setembro. Foi nessa altura que a pessoa disse que não era para o basquetebol, mas sim para o futebol. O meu pai disse que deveria ser engano e foi aí que a pessoa disse que tinha tido informação sobre as minhas qualidades e que gostaria que eu fosse às captações. O meu pai achou estranho, mas lá aceitou. Eu nem tinha chuteiras, tive de ligar a uns amigos a pedir umas emprestadas.

zz: E como foi tudo?

FF: Como já disse, apareci equipado à basquetebol e há uma situação que me recordo perfeitamente: o equipamento da escolinha de futebol do meu pai era amarelo e vermelho, por serem as cores da cidade de Vila do Conde. Eu apareci no FC Porto com uns calções vermelhos e quando entrei, tive um diretor que me mandou trocar de calções, ou então não poderia treinar. Disse que o vermelho era proibido e teria de os trocar. Falei com alguém, arranjaram-me uns calções e assim consegui treinar. Fiz uma semana de treinos, eles jogavam melhor do que eu, mas eu era esquerdino, era alto e tinha margem de progressão. No final da semana, o Rolando, que tinha jogado com o meu pai, achou que eu tinha jeito e disse que queriam ficar comigo, pelo menos um ano. E foi assim que recebi a primeira proposta para assinar pelo FC Porto.

zz: No mesmo dia em que no basquetebol o convidaram para um projeto único.

FF: É verdade, para o Centro de Alto Rendimento de Basquetebol. Na mesma noite em que o mister Rolando diz ao meu pai que contavam comigo para ficar no FC Porto, o meu pai recebeu um telefone da Federação Portuguesa de Basquetebol que tinha sido selecionado para um centro de alto rendimento em Lisboa. Queriam que eu fosse para lá viver, estudar lá e que seria importante para mim. Seria a primeira vez que um atleta do GD José Régio iria ser chamado. O meu pai pediu para ter uma reunião com as pessoas no dia seguinte e nessa reunião comunicou que eu iria optar pelo futebol.

zz: A esta distância consegue perceber porque tomaram esta decisão?

FF: A decisão foi minha. Os meus pais chamaram-me ao quarto e explicaram o que havia para decidir. Eu disse que gostava muito de basquetebol, mas ter uma oportunidade para jogar futebol, algo que eu nunca tinha feito, e logo no FC Porto, senti desejo de arriscar. Sabia que se no futebol não corresse bem, ainda teria oportunidade de continuar a jogar basquetebol.

Fábio Faria terminou a carreira aos 24 anos @Catarina Morais

zz: Não era nenhum medo de ir para Lisboa?

FF: Não, não era.. Se calhar até era (risos). Não. Foi o simples facto de poder representar o FC Porto. É um orgulho. 

zz: E esteve lá três anos.

FF: Três anos, exatamente. Apanhei o Vítor Pereira, ainda antes dele ir para o Santa Clara. Apanhei o mister Rolando, que era o treinador da equipa principal do meu escalão e eu estava na equipa B. Na equipa principal tinha o Ukra, Daniel Candeias, André Castro, Hugo Ventura... Era uma grande equipa.

zz: Verdade.

FF: Na época seguinte tenho uma história incrível com o Vítor Pereira. Ele sobe para treinador da equipa principal dos Sub-13 ou Sub-14, eu também subo, juntamente com o André Pinto, o central que jogou no Sporting e no SC Braga - ainda hoje é dos meus melhores amigos - e o Vítor Pereira mandou-nos para a equipa B. Achou que não tínhamos qualidade para aquele espaço. Meteu o André Pinto a jogar a ponta de lança, eu era médio e meteu-me a defesa central. Achava que tínhamos jeito para estar nessas posições e como não ficou contente mandou-nos para a equipa B. Passados dois meses arrependeu-se, voltou a chamar-nos e meteu-nos nas nossas posições. O André Pinto a central e eu no meio campo. Fiz uma época incrível e foi uma pessoa muito importante para mim.

zz: Começou como médio?

FF: Sim, médio esquerdo.

zz: E desce para central em que altura?

FF: Quando fui dispensado pelo FC Porto e fui para o Rio Ave.

zz: Curioso.

FF: É uma história muito engraçada.

zz: Foi dispensado em que altura?

FF: Nos Sub-15.

zz: É aí que a malha da qualidade começa a ficar mais curta. Foi dispensado porque era mais alto e os seus colegas cresceram?

FF: Foi muito doloroso. Eu fiz a época no Padroense, fui o jogador com mais minutos da equipa, fui o segundo melhor marcador da equipa, a jogar a lateral esquerdo.

zz: Lateral esquerdo?

FF: Sim, lateral esquerdo. Eu fazia golos de canto, de livre direto... Fui dispensado no ano a seguir e quem ficou foi o meu suplente. Na altura foi doloroso. Tinha 15 anos... Mais tarde vim a perceber o porquê, mas não interessa. Mas, se calhar, foi a melhor coisa que me aconteceu. Foi doloroso, porque fui com as chuteiras para iniciar a época, já no Olival e antes de começar o treino, o mister Ilídio Vale reúne com três ou quatro jogadores e diz que não vão contar comigo. Ele diz-me que eu vou voltar para o Rio Ave, pois tinha vindo de lá e eu disse que ele estava enganado, pois jogava basquetebol e nunca tinha jogado no Rio Ave. Ele pediu desculpa, pois não sabia dessa minha história. Foi doloroso, pois lembro-me do meu pai me ter ido buscar ao Estádio das Antas e eu a chorar, com as chuteiras na mão. Foi difícil e não sabia o que ia fazer da minha vida. 

zz: Já tinha ideia que queria ser profissional de futebol?

FF: Sim, completamente, já nem queria saber do basquetebol. Só queria ser jogador de futebol. Na altura surgiu a possibilidade de ir para o Varzim ou para o Rio Ave. Tinha amigos a jogar em dois lados, mas pesou o facto do Rio Ave ser o clube da minha terra e o Rio Ave tinha acabado de colocar sintético, enquanto o Varzim era pelado. Além disso, tinha uma ligação já ao Rio Ave: o meu pai jogou lá, os meus tios jogaram lá, o meu avô foi vice-presidente do clube e tudo isso pesou. 

Fábio Faria recordo os momentos da sua carreira no zerozero @zerozero

zz: Como foi o passo seguinte?

FF: Foi curioso. Eu vinha do FC Porto, tinha o ego alto e queria jogar a ponta de lança, como o meu pai. No primeiro jogo de treino, o mister François meteu-me a defesa central... Fiquei doente. Pensei em fazer de tudo para o treino me correr mal, mas correu super bem. Fazia cuecas, inventei tanta coisa... Mas no final do treino disse à minha mãe que não queria ficar no Rio Ave e queria ir embora, pois o mister François queria que eu jogasse a central. Mas ela disse-me: 'Tu com 15 anos não mandas nada. Se o treinador está a dizer para jogares a central, jogas a central...' Isso foi um choque para mim, fiquei uns dias em casa a dizer que não queria jogar futebol, que não queria voltar, mas a azia passou.

zz: E o que lhee disse o treinador, depois?

FF: Disse que me estava a colocar a central, por achar que eu tinha qualidade para jogar naquela posição. Disse logo: 'Eu não sou maluco para te colocar ali, sem achar que não tens qualidade...'

zz: Um treinador com olho...

FF: Sim. Ele dizia: 'És esquerdino, és alto, és rápido, és bom na antecipação... Tu podes ganhar muito dinheiro a jogar a central... Lembra-te desta conversa. Avançados há muitos e vais chegar mais rápido onde queres a jogar a central.'

zz: Tinha razão?

FF: Tinha razão.

zz: A parte do dinheiro não queremos saber (risos)...

FF: (risos)... Sim, não tive oportunidade de ganhar dinheiro, mas ele teve razão, pois passados seis meses assinei contrato com a equipa principal do Rio Ave. Faço uma época incrível, a meio da época comecei a jogar com os juniores, juntamente com o Fábio Coentrão, com o Vítor Gomes e no final da época o Rio Ave quis assinar contrato profissional comigo, com 16 anos.

zz: Nessa altura o Rio Ave estava no campeonato nacional?

FF: Sim.

zz: E jogava contra o FC Porto?

FF: Aquilo era por séries. Jogava contra o SC Braga e o Vitória SC. Mas o curioso é que depois de ter terminado a época o FC Porto quis contratar-me.

zz: Era aí que queríamos chegar. Se tinha havido essa aproximação.

FF: Sim, houve. Ligaram os dirigentes, nem sei se foi o Ilídio Vale, a dizer que se tinha arrependido, pois nunca me tinha visto como um central, que me viam como um lateral esquerdo banal, mas como central era muito bom, mas eu estava tão magoado que disse que não. E acho que até pagavam bem para ir para lá, mas preferi ficar no Rio Ave.

qFoi em Leiria, o primeiro jogo de 1ª Liga. Estava super nervoso... Bola vinha, bola ia. Recordo-me que o mister Carlos Brito falou comigo sobre isso, dizia para não facilitar até ganhar confiança.

Fábio Faria, antigo jogador de futebol

zz: Foi a melhor coisa que fez?

FF: Sim, foi a melhor opção da minha vida, não tenho dúvidas disso. Com 16 ou 17 anos comecei a fazer a pré-época com a equipa principal e nunca pensei que isso pudesse acontecer. O Rio Ave tinha descido de divisão.

zz: Mas havia bons exemplos de aposta na formação no Rio Ave. Desde logo com o Coentrão.

FF: Sim. É verdade. E a certa altura, quem assumiu a equipa principal foi o mister João Eusébio, que era o coordenador da formação. Para nós, jogadores da casa, foi uma tranquilidade, pois sabia como jogávamos, como treinávamos... Eu tinha o exemplo do Fábio Coentrão, do Vítor Gomes, também o André Serrão e todos os anos subiam jogadores. A juntar isso tinha a equipa técnica que me conhecia muito bem. Tudo ajudou para que tudo corresse bem.

zz: Ainda se lembra do dia em que o chamaram para integrar a equipa?

FF: Sim, lembro-me. Estava de férias, na praia, ligou-me o Paulo Fangueiro, que era o diretor-desportivo, a dizer que queriam que eu fosse fazer a pré-época com a equipa principal. Durante a época já tinha feito alguns treinos. Recordo-me da primeira vez que fui a um treino... Cheguei atrasado, porque vinha da escola, ficaram todos a olhar para mim, pedi desculpa e fui treinar. Fiz dupla com o Idalécio, ainda era maior que eu, era incrível. Eu estava super nervoso, mas ele tranquilizou-me muito e quando acabou o treino, o Idalécio, juntamente com os mais velhos todos, mandou-me limpar as botas de toda a gente. E lá fui fazer isso... Hoje já não se fazem dessas coisas.

zz: Levou aquilo na boa?

FF: Já sabia, cresci naquele meio, com o meu pai. Ainda assim, pensei que eles não se iam lembrar de nada, mas tive de limpar as botas deles todos.

zz: A melhor época no Rio Ave foi em 2009/2010, com mais de 30 jogos. Fez uma progressão brutal.

FF: Foi um boom.

zz: Como é que tudo aconteceu?

FF: Aconteceu de uma forma que eu não estava à espera. No ano anterior tinha feito 60 minutos, ou coisa parecida, para a Taça da Liga, num jogo em que já não contava para nada. Entrei para o lugar do Bruno Mendes, que se tinha lesionado. O jogo correu-me bem e a partir daí a confiança do mister Carlos Brito em mim cresceu. Ele conhecia-me dos treinos, mas nunca me tinha colocado à prova e eu passei naquele teste. Nos jogos a seguir passei a ser convocado e senti que ele começou a confiar em mim.

zz: Foi uma resposta positiva.

FF: Certo. No início da época seguinte fui convocado para a seleção, para os Jogos da Lusofonia, em Lisboa e perco metade da pré-temporada. Foram 15 dias e recordo-me de ter ficado contente com a chamada, mas apreensivo, por perder a pré-época e ter de apanhar o comboio a meio. Mas foi ao contrário, fiz os jogos todos da seleção, cheguei ao Rio Ave cheio de ritmo e no final do primeiro treino o mister Carlos Brito chamou-me e disse que estava a contar comigo para jogar. Foi importante, pois senti que estava a apostar em mim.

zz: Dá tranquilidade?

FF: Dá, claro que dá. Mas também mais responsabilidade. Senti uma pressão maior, pois sentia que dar o máximo e as coisas correram muito bem. Apanhei dois centrais, companheiros de equipa incríveis: o Gaspar e o Bruno Mendes. Eles sempre me ajudaram, foram muito meus amigos. O Gaspar jogava sempre, o Bruno Mendes jogava menos, mas quando terminavam os jogos vinha falar comigo, para analisar a partida. Isso foi importante, pois se apanhasse colegas com outro tipo de personalidade, talvez fosse difícil para mim.

zz: Como foi o primeiro jogo?

FF: Foi em Leiria, o primeiro jogo de 1ª Liga. Estava super nervoso, mas correu bem, empatámos e iniciámos uma série de sete jogos sem perder e foi aí que as pessoas começaram a reparar em mim.

Fábio Faria esteve no zerozero a gravar o Ponto Final @zerozero

zz: Aquele jogo ajudar a soltar para o resto do campeonato?

FF: Sem dúvida. Foi importante, pois foi o primeiro pelo Rio Ave na 1ª Liga. Os primeiros dez minutos foram difíceis... Bola vinha, bola ia. Recordo-me que o mister Carlos Brito falou comigo sobre isso, dizia para não facilitar até ganhar confiança.

zz: Disse que as pessoas começaram a reparar em si, até que chegou o Benfica. Estava à espera que um ano de afirmação no Rio Ave e na 1ª Liga originassem aquela mudança?

FF: Nunca pensei e tudo foi tratado logo à 3ª jornada.

zz: Assim tão cedo?

FF: Sim. Começámos fora com a U. Leiria, ganhámos em casa ao Setúbal e depois íamos a Braga. Recordo-me que jogávamos num sábado à noite e na sexta-feira, quando terminou o treino, tinha quatro chamadas do Jorge Mendes

zz: Já era o seu agente?

FF: Sempre foi o meu agente, desde os 16 anos. Mas, depois do treino, liguei para o Jorge Mendes, no caminho do almoço que ia fazer com alguns dos meus colegas de equipa, e ele diz-me que tinha estar em Lisboa às 18 horas. Ele estava a sair de Madrid e diz-me que tinha de se encontrar comigo às seis da tarde, em Lisboa. Eu digo-lhe que no dia seguinte tinha jogo com o Braga e que não queria facilitar, pois tinha começado a ser titular há pouco tempo.

zz: Qual foi a resposta dele?

FF: Disse para não me preocupar, mas que era muito importante eu estar em Lisboa naquela hora. Pediu-me para ir com o meu pai e não contar a ninguém. Liguei ao meu pai e fomos para Lisboa.

zz: E quando descobriu que era o Benfica?

FF: Só em Lisboa e só mesmo quando entrei no escritório. Foi tudo estranho, pois quando estava a chegar a Lisboa, um dos funcionários do Jorge Mendes disse-me para quando estivesse a chegar à zona do Parque das Nações, para me colocar no banco de trás do carro, para que ninguém me visse a entrar na garagem. Na altura ri-me, mas assim fiz. Já na garagem veio o Jorge Mendes receber-me e depois de subir no elevador é que vi que estava no escritório do Luís Filipe Vieira e aí percebi que era para assinar pelo Benfica.

zz: Ou seja, já estava tudo tratado.

FF: Sim, mas eu também estava preocupado, porque no dia seguinte jogava contra o SC Braga e não queria que o presidente do Rio Ave ficasse melindrado comigo pela situação, mas na mesma sala de reuniões também estava o presidente do Rio Ave. Aí fiquei sossegado.

qSaí de um treino e tinha quatro chamadas não atendidas do Jorge Mendes... Tive de ir a Lisboa e chegar às escondidas a um escritório... Só aí que percebi que ia assinar pelo Benfica

Fábio Faria, antigo jogador de futebol

zz: E correu bem o jogo do dia a seguir?

FF: Correu. Empatámos 1-1, fez parte da série de sete jogos sem perder. Julgo que na altura foi recorde do Rio Ave, na 1ª liga.

zz: Como foi o seu pensamento durante a época, pelo facto de ter a situação resolvida?

FF: Senti mais pressão. Queria provar que a aposta do Benfica em mim tinha sido correta.

zz: E foi contratado no período do super Benfica de Jorge Jesus.

FF: Sim, é o ano em que o Benfica é campeão. Depois, havia uma situação muito difícil. Eu tinha assinado pelo Benfica, mas ninguém podia saber. Só podia ser comunicado em janeiro. Gerir aquela situação foi muito difícil... Por vezes saíam os rumores nas capas dos jornais... Ter de dizer que não era verdade foi doloroso, mas era por uma boa causa.

zz: E eles também perceberam, de certeza.

FF: Sim, e foi importante para o Rio Ave, pois é um clube humilde e ajudei a que ganhasse algum dinheiro.

zz: Como foi chegar ao balneário no ano seguinte?

FF: Foi curioso... O último jogo do campeonato foi um Benfica x Rio Ave, com o Benfica a precisar de empatar para ser campeão e eu não joguei esse jogo.

zz: Então? Precaução?

FF: Sim, era um jogo com muita pressão. Foi opção das duas equipas, acima de tudo para me defender a mim. Acharam melhor eu não jogar. Na altura não percebi, a esta distância compreendo. Estava um estádio lotadíssimo, pois o Benfica já não era campeão há alguns anos. Sei que acabou o campeonato, houve o jantar de equipa do Rio Ave e no dia seguinte liga-me o Rui Costa a dizer que tinha de ir em digressão com o Benfica para os Estados Unidos da América. Na altura, vários jogadores tinham sido convocados para o Mundial de 2010 e eles precisavam dos jogadores todos.

zz: Nem houve tempo para férias.

FF: Mesmo. Eu disse que tinha sido convocado para os Sub-21, mas ele disse que isso estava tratado e que iria com o Benfica em digressão. Foi incrível. No primeiro treino antes de irmos para os Estados Unidos, em digressão, o Jorge Jesus matou-nos. Eu já sabia que ele era exigente, mas não sabia que era tanto. A equipa do Benfica tinha estado uma semana a festejar o título e ele quis colocar os jogadores em forma, antes da digressão. Eu quase a vomitar, porque já estava parado há uma semana e ele só dizia: 'Ó miúdo estás morto? Parece que estás de férias há dois meses!'

zz: À Jorge Jesus...

FF: Sim, até tive de pedir um pacote de açúcar, pois só me apetecia vomitar. Foi ali que percebi a exigência do mister Jorge Jesus. Ele não facilitava em nada. A exigência dele era brutal, o Benfica tinha estado a festejar o título e mal voltaram ao trabalho deu uma coça nos jogadores.

Fábio Faria recordou os vários episódios da sua carreira no zerozero @zerozero

zz: O que sentiu de diferente em Jorge Jesus?

FF: A nível de exigência percebi naquele treino, mas depois vi que era diferenciado. Para mim, foi o melhor treinador que eu tive. O êxito que ele tem é por ser um fora-de-série, um fora da caixa.

zz: Mas a pensar o jogo?

FF: A pensar o jogo, a nível de trabalho de campo é muito pormenorizado. Vê coisas que mais ninguém vê, é exigente. Eu pensava que sabia defender, até trabalhar com ele.

zz: A sério? O que lhe deu de diferente?

FF: Aprendi muito coisa no aspeto tático, de como defender em linha, de como tirar a profundidade... Foram coisas que nunca me tinham ensinado. Ele fez-me ver coisas que eu nunca me tinha apercebido.

zz: Esse aspeto da profundidade é muito importante, mais ainda para uma equipa como o Benfica...

FF: Sim, verdade. No Rio Ave estava 90% a defender, no Benfica estava 90% a atacar. Na pré-época trabalhávamos de manhã apenas os aspetos defensivos. Ele é obcecado por isso. À tarde tínhamos vídeo e ele provava o porquê de termos feito algumas coisas mal. Tínhamos aulas táticas fenomenais. Eu adorava aquilo... Era cansativo, porque acordávamos às sete da manhã para ir correr, depois treinavas de manhã, à tarde e à noite ainda tinhas o vídeo... Era cansativo, mas aprendias muitas coisa.

zz: Já tivemos vários convidados a dizerem que o bichinho do treino começou por culpa do Jorge Jesus. Consigo foi o mesmo?

FF: Sim, claro. Quando treinei no Rio Ave a formação, só pensava em passar para os meus jogadores o que tinha aprendido com ele. Eles diziam que eu percebia muito, mas eu dava sempre os louros ao Jorge Jesus. Aprendi com ele.

zz: E histórias curiosas com ele?

FF: Ele era uma peça inacreditável. Lembro-me perfeitamente num treino ele virar-se para mim, na altura de escolher as equipas, e dizer-me que ficava com os coletes efervescentes... Sim, ele disse efervescentes, em vez de dizer fluorescentes... Ele tinha cada uma...

zz: Mesmo engraçado...

FF: Quando chegou o Nemanja Matic, como o Jesus não falava inglês, pedia ao Rodrigo Moreno ou ao Nuno Coelho para falarem inglês com ele. Recordo-me de numa jogada o Matic ter feito uma dobra e se ter posicionado muito bem e ele dizer: 'Matic, muita very good...' Ele podia errar muitas vezes nas palavras, mas nós percebíamos tudo o que ele queria dizer e isso é muito importante. Era a linguagem do futebol.

qEstava nervoso na minha estreia pelo Benfica. Joguei a lateral esquerdo do lado do banco do Jorge Jesus. Vocês não têm noção... Qualquer coisa que eu fazia, ele gritava comigo... Eu ia fazer uma lançamento de linha lateral e ele batia-me nas costas...

Fábio Faria, antigo jogador de futebol

zz: E foi com ele que sentiu o barulhinho da Champions.

FF: Foi na segunda época. Fiz a pré-época quase toda a titular, pois faltava muita gente, e fomos jogar para a Champions e fui convocado. Fiquei todo contente. Foi na Turquia contra o Trabzonspor. Pensei que iria ficar de fora, pois estava o Jardel na equipa, mas fiquei espantado quando saiu a lista dos jogadores para o banco e o meu nome estava lá.

zz: E ele explicou?

FF: Eu percebi. O Jardel só fazia de defesa central, o Jesus teimava que eu pudesse jogar a lateral esquerdo, apesar de eu não ter qualidade para isso, mas era esquerdino, tinha alguma qualidade técnica...

zz: Mas isso só sabia quem estava no treino?

FF: Certo... Era eu que levava as duras todas no treino.

zz: Queria fazer de si um novo Fábio Coentrão?

FF: Talvez... Eu ainda apanhei o Fábio Coentrão, na primeira época, e treinava nessa posição com ele, mas quando o Fábio se lesionava quem jogava a lateral esquerdo era o César Peixoto... E ainda bem, pois não me identificava na posição. Numa equipa grande é difícil jogar a lateral esquerdo, então numa equipa do Jorge Jesus, onde o lateral tem de estar sempre a subir a descer, eu não tinha essa capacidade. Eu naquele jogo da Champions tinha ido para o banco, porque o Emerson estava meio tocado e eu poderia cumprir na posição de lateral esquerdo, mas também de central.

zz: Mas quando viu o seu nome deve ter sido uma sensação difícil de explicar.

FF: Claro. Fui poucas vezes convocado no Benfica e ser convocado para um jogo da Champions foi um sonho. Foi especial.

zz: Deixo-o triste o facto de ter sido poucas vezes convocado?

FF: Na altura toda a gente quer jogar e ter mais minutos, mas também olhava para a qualidade do plantel e sabia que havia pouco a fazer. No primeiro ano havia o Luisão e o David Luiz, depois havia o Sidnei, que era um fora-de-série... Acho que teve poucos minutos para a qualidade que tinha e depois havia eu e o Roderick Miranda. Eu treinava a lateral esquerdo e o Roderick fazia o papel de quarto central. Depois variava a convocatória, mediante os castigos ou lesões do Luisão e do David Luiz. Tive poucas vezes a oportunidade de ser convocado, mas depois tive uma conversa com o mister Jorge Jesus e percebi.

zz: Qual foi a justificação?

FF: Ele fez-me ver que ainda era novo e os jogadores que estavam a jogar na minha posição tinham experiência. Ele gostava de ter centrais com experiência. Recordo-me que acreditava muito em mim, por isso me foi buscar. Aliás, ele já me tinha tentado contratar quando era treinador do Belenenses. Ele queria que eu fosse emprestado, para ganhar experiência e mais tarde ser titular na defesa do Benfica.

zz: E foi por isso que seguiu para o Valladolid?

FF: Certo. O único jogo que fiz no Benfica foi para a Taça da Liga no início de janeiro. Estive muito tempo sem jogar. Joguei apenas 45 minutos e a lateral esquerdo: eu sabia que ia jogar aquele jogo, pois o Fábio Coentrão estava tocado.

zz: Só 45 minutos?

FF: Estava morto...

zz: Mas ele tirou-o por causa da parte física?

FF: Nunca percebi, mas deve ter sido por isso. Estava nervoso e joguei a lateral esquerdo do lado do banco dele. Vocês não têm noção... Qualquer coisa que eu fazia ele gritava comigo... Eu ia fazer um lançamento de linha lateral e ele batia-me nas costas... Estava sempre a dar instruções. É a forma dele de viver o jogo. Eu era novo, estava sem ritmo... Jogar a primeira parte do lado dele ainda me fez acusar mais a pressão. Mas ainda fiz 45 minutos pelo clube do meu coração e fico feliz.

Fábio Faria foi homenageado pelo Benfica, no Estádio da Luz, já depois de terminar a carreira @Carlos Alberto Costa

zz: Foi para o Valladolid com um empréstimo normal?

FF: Sim. O Jardel tinha vindo em janeiro e com mais um central, se eu já jogava pouco, ia jogar ainda menos. Lembro-me de falar com o mister Jorge Jesus e ele também me aconselhou a ser emprestado. Falei com o Jorge Mendes e ele disse-me que tinha uma proposta do FC Zurich, mas o futebol suíço não fazia parte dos meus planos. Depois falou-me do Valladolid, que apesar de ser 2ª Liga espanhola, era um nível alto.

zz: Tinha o Justo Villar, guarda-redes paraguaio na equipa...

FF: Sim, e o treinador era o Abel Resino. As coisas correram bem, ficava a pouco mais de três horas de minha casa, mas cheguei lá e o primeiro impacto foram as temperaturas: menos cinco graus... Saí de Lisboa com um tempo ameno, casa dos 20 graus no inverno e ali menos cinco... Era um frio... Cheguei, fiz três jogos e foi o melhor jogador em campo, apesar de termos perdido.

zz: E o ambiente é sempre muito bom.

FF: Sim, em casa eram 20 mil adeptos... Eles olhavam-me para mim com respeito, pois tinha vindo do Benfica. Continuei a ser convocado para a seleção de Sub-21, mas como estava com pouco ritmo, tive uma lesão muscular e foram dois meses para recuperar. Depois perdi o comboio, pois durante esse periódo a equipa ganhou, ficou confortável e acabei por fazer apenas mais um jogo. O treinador até me dizia que me queria colocar a jogar, mas o colega que tinha ido para o meu lugar estava a cumprir e a equipa estava a ganhar. Foi difícil voltar a jogar, mas foi uma experiência incrível... Eles até queriam que eu ficasse lá.

zz: E não ficou?

FF: Eles queriam que eu continuasse emprestado, mas não tínhamos subida à La Liga, pois na liguilha de subida o Elche venceu-nos. Dois dias depois desse o jogo o Shéu ligou-me a dizer para eu me juntar à equipa do Benfica na pré-época. Saí de Espanha, fui a Vila do Conde deixar as coisas e segui para Lisboa. A pré-época correu-me bem, pois eu vinha com ritmo, e a certa o Camacho da Gestifute liga-me a dizer que o José Mourinho queria que eu fosse para a equipa B do Real Madrid. Eu já tinha ido treinar ao Chelsea, com 18 anos, e ele conhecia-me. Mas como a equipa B jogava na 2ª Divisão B, torci o nariz, até porque tinha o Valladolid, que jogava na 2ª Liga espanhola. Ele tentou demover-me, a dizer que eu iria treinar com a equipa principal e só jogaria na equipa B, mas depois de falar com os meus pais entendemos que não seria a melhor opção. Depois o Valladolid insistiu, mas o valor que me pagavam era mais baixo que no ano anterior e em Portugal outras equipas da 1ª Liga pagavam isso. E em Portugal teria mais visibilidade. Foi aí que segui para o Paços de Ferreira, pois entretanto o Garay já tinha chegado ao Benfica. O Benfica tinha muitos centrais e o Rui Vitória ligou-me para ir me juntar aos castores. Foi no último dia de transferências. Eu treinei em Paços de Ferreira e no dia seguinte foi o jantar de despedida do mister Rui Vitória.

zz: Fez nove jogos no Paços Ferreira, por causa da troca de treinadores?

FF: O Luís Miguel entrou e fiz oito jogos seguidos, mas depois fui expulso... É a única expulsão que tenho na carreira. Foi num lance com o Hugo Vieira... Ele era um chatinho... Estávamos a ganhar 1-0, mas eles viraram o jogo e ele continuava a chatear. Depois fiz-lhe um carrinho, ficou armada uma discussão, eu meti-lhe a mão na cara e fui expulso. Teve consequências aquela situação...

qA minha única expulsão foi no Paços de Ferreira, antes de um jogo contra o Benfica. Os adeptos pensaram que eu tinha feito de propósito e a partir desse momento o ambiente ficou muito difícil para mim

Fábio Faria, antigo jogador de futebol

zz: Então?

FF: O jogo seguinte foi contra o Benfica e os adeptos pensaram que eu tinha feito de propósito para não jogar contra o Benfica. Os adeptos ficaram muito chateados... Não conseguia sair do estádio, queriam partir o meu carro, tive de sair pelas traseiras, escondido. Ele achavam que eu tinha feito de propósito para não jogar contra o Benfica e a partir desse momento o ambiente ficou muito difícil para mim, pois também me virei a eles... Fiquei de cabeça perdida.

zz: Estava a sentir-se injustiçado...

FF: Essa semana foi complicada, pois eles iam assistir aos treinos, insultavam-me, queriam agredir-me... Chegou ao ponto em que tive de levar amigos meus para me defenderem. O Paços Ferreira não conseguia controlar a situação e aqueles adeptos implicaram comigo e disse que tinha feito de propósito, para prejudicar o Paços Ferreira. Não estava bem psicologicamente e como fui expulso, fiquei dois jogos de fora e quem entrou para a minha posição cumpriu, ganhámos o segundo jogo, depois de perder na Luz, e continuou a jogar.

zz: E acontece a ida para o Rio Ave, até ter o problema cardíaco. Depois do episódio cardíaco, em algum momento pensou que poderia voltar a jogar futebol?

FF: O médico disse que ia ser difícil, mas não poderíamos perder a esperança. Eu na minha cabeça queria continuar a jogar futebol, não queria saber. Fui operado três vezes... No dia seguinte ao episódio fui operado em Lisboa... A minha mãe prometeu que ia a pé a Fátima e eu combinei em ir buscá-la. Em abril ela fez esse percurso e no dia da chegada eu estava no condomínio onde morava a jogar ténis, juntamente com o Vítor Gomes, porque ele era meu vizinho. Eu achava que estava bem e estava ali a bater as bolas, mas num dos movimentos em que baixo para ir apanhar um bola junto ao solo, senti o coração a disparar... Estava eu, o Vítor Gomes e o Anselmo e eu disse-lhes logo que estava a ter outro ataque cardíaco. A mulher do Vítor Gomes estava na varanda e mandou-me logo coisas doces para percebermos se era uma quebra de tensão, mas eu estava a sentir-me muito mal e a perceber que a sensação era a mesma. O Anselmo levou-me rapidamente para o hospital e foi um episódio muito sui generis...

zz: Então?

FF: Eles queriam que eu preenchesse a ficha para dar entrada, mas eu já sabia o que estava a sentir e mal vi a porta das urgências a abrir, entrei rapidamente e pedi auxílio médico e eles aí já sabiam quem eu era... Eu sentia o meu coração a bater muito rápido, estava a 300 batimentos por minuto... Eles tiveram de me adormecer, para depois me dar com o desfibrilhador... Só à sexta tentativa é que conseguiram acalmar o coração. Acordei todo queimado e recordo-me do médico ter dito que eu tinha arriscado e que eles não estavam a conseguir tranquilizar.

zz: Portanto, foi um susto ainda pior.

FF: Sim, completamente. Ele mandou-me ter mais calma, a partir daí. Esta foi a segunda vez que me deu... Nunca tornei isto público. O Anselmo a ir a toda a velocidade para o hospital da Póvoa de Varzim... Passei a noite bem e no dia seguinte fui buscar a minha mãe a Fátima.

zz: Só lhe contou em Fátima?

FF: Sim. Quando ela soube queria matar-me... Deu aquela dura de mãe. Em junho fui operado para resolver o problema. A operação iria durar quatro horas e foram oito horas. Quando estavam a desligar as máquinas apareceu outra arritmia... O médico disse-me que tinha sido doloroso, mas tinham descoberto o foco e no dia seguinte em poucas horas resolveriam o problema.

Fábio Faria foi homenageado por Benfica e Rio Ave antes da final da Taça de Portugal de 2013/2014 @Catarina Morais

zz: Mas não foi...

FF: Foram mais oito horas... Queimaram uma, apareceu outra... Em dois dias foram 16 horas em operação.

zz: Uma coça...

FF: Mesmo. Ele disse-me que tinha ficado tudo corrigido, mandou-me ficar dois meses sem fazer nada e passados seis meses iria começar com as corridas, para ver como o coração reagia. Ele dizia que como tinha conseguido queimar os focos, que poderia vir a ter uma surpresa. Fiquei nessa noite a dormir com o cateter, para alguma eventualidade e quando foram a tirar o cateter no dia seguinte ganhei uma infeção no coração... Foi a pior sensação que tive no mundo. Eu queria respirar e não conseguia, eles a darem-me oxigénio, medicamente para respirar e eu não conseguia. Foi a pior sensação do mundo. Pensei que ia morrer... Mas eles conseguiram, com analgésicos e aos poucos passou. Fiquei internado mais 15 dias... Perdi dez quilos em 15 dias, mas na altura fiquei contente, pois sabia que as coisas tinham corrido bem.

zz: E tinha a esperança de voltar ao futebol.

FF: Sim, tinha essa esperança.

zz: Quando é que a perdeu?

FF: Passados seis meses... Fui perdendo um bocadinho a esperança quando quis treinar no Seixal, pois as condições eram outras, mas disseram-me que dificilmente poderia voltar a jogar no Benfica.

zz: Quem lhe disse?

FF: Foi o presidente Luís Filipe Vieira. Eu percebo, mas é doloroso. Desde que eu tive este problema o Benfica nunca me faltou com nada, o presidente foi incrível. Quando estive internado aquele tempo tudo, a minha mãe ficou hospedada num hotel e o Benfica pagou tudo... Ele disse-me que gostava muito de mim, que se eu quisesse poderia trabalhar no Benfica noutras funções, mas jogar futebol não. Ele disse-me: 'Já perdemos o Fehér, já perdemos o Baião e não queremos perder mais ninguém no Benfica. Eu não quero ter outra tragédia no Benfica.' Na altura foi doloroso, fiquei um bocadinho em baixo, pois era o clube do meu coração a não querer que eu voltasse a jogar lá, mas eles é que estavam corretos.

zz: Mas eles não queriam que voltasse a jogar, não era não jogar lá...

FF: Sim, também era isso. No lugar deles tomaria a mesma decisão. Mas com 23 anos pensas que estás bom e queres continuar a jogar e se não fosse no Benfica, seria noutros clubes. Olhem, por exemplo, o Christian Eriksen teve um problema e continua a jogar, não sei como, mas está lá dentro. Eu não conseguia estar tranquilo. 

qO Vieira disse-me que gostava muito de mim, que se eu quisesse poderia trabalhar no Benfica noutras funções, mas jogar futebol não. Ele foi claro: 'Fábio, já perdemos o Fehér, já perdemos o Baião e não queremos perder mais ninguém no Benfica. Eu não quero ter outra tragédia no Benfica.' Na altura foi doloroso, mas eles é que estavam corretos.

Fábio Faria, antigo jogador do Benfica

zz: Teve o alerta do Benfica, mas quando percebeu mesmo por si que não poderia continuar?

FF: Eu treinava em casa, em Vila do Conde, corria todos os dias com o meu pai e numa dessas corridas, já a chegar a casa, lembro-me de dizer ao meu pai que estava a sentir-me mal e que iria ter outro ataque cardíaco. Ele tranquilizou-me e disse para me agarrar a ele e depois apaguei. Quando acordei tinha o sobrolho aberto, estava com muita gente à minha volta, e perguntei ao meu pai o que se tinha passado e ele contou: disse que no meio da rua começou a dar-me socos no coração e que foi assim que conseguiu que eu acordasse. Mal me contou, eu disse que o futebol era para acabar. Eu estava cansado de sair de casa e não saber se poderia voltar. Eu sei que o futebol é a minha vida e era aquilo que mais queria, mas prefiro ver o sorriso da minha família e dos meus amigos.

zz: Como é que arrumou o fim de carreira?

FF: Eu tomei essa decisão, mas precisava da confirmação da medicina desportiva para saber que estava inapto a jogar. Eu tinha tomado a decisão, mas queria ter essa certeza.

zz: No fundo, haver um aval médico a proibi-lo de jogar.

FF: Exato. Fui para Lisboa para fazer uma prova de esforço, estou ali 20 minutos sempre a dar e o médico a dizer que estava tudo bem. Eu disse ao médico para não arrumar as coisas, pois sabia que me ia acontecer o mesmo. E quando estou a recuperar, o coração dispara. Ele entrou em pânico, nem tinha o desfibrilhador perto e começou a fazer-me manobras diferentes para voltar ao normal. Aí é que tive a certeza que não poderia voltar a jogar futebol.

zz: E hoje como faz a sua vida?

FF: Tomo um comprimido para baixar o ritmo cardíaco. Nessa altura não tomava, tinha feito uma paragem para ver como o coração reagia. Desde que tomo o comprimido, desde esse dia até hoje, faço exercício e nunca mais tive um problema.

zz: Neste período de 12 anos como preparou o seu pós-carreira? Sabemos, porque foi público, que teve o apoio do sindicato, mas aos 24 anos ainda não ganhou dinheiro suficiente para poder estar tranquilo debaixo de uma palmeira...

FF: Foi muito difícil... Na altura não aceitava, o que é normal, pois tinha 23 anos, caí numa depressão muito grande... Não saía de casa, não queria ver ninguém... A minha família passou muito comigo. Era insuportável... Não via rumo na minha vida, porque eu não tinha um plano B e só tinha o 11º ano. A ajuda do sindicato foi importante, a ajuda do Benfica foi muito mais importante, porque tinha acabado de comprar a minha casa em Vila do Conde, e estava com uma prestação alta, pois queria pagar a casa rápido. Eu tinha deixado de jogar e o Benfica não tinha obrigação de me continuar a pagar... Eu tinha estado dois anos no Benfica. Além de não ter um salário por aí além, não tinha tido tempo de poupar dinheiro. Fiz um investimento de comprar a minha primeira casa e ficava preocupado de não conseguir pagar... Passados uns meses roubaram-me o carro à porta de casa... Esse ano foi horrível, para mim. Eu não aceitava o que me estava a acontecer e foi quando o sindicato me pagou a licenciatura no ISMAI. Entrei com mais de 23 anos, em gestão de desporto, pagaram-me as propinas. O Luís Filipe Vieira foi incrível comigo, cumpriu o meu contrato até 2015. Quando acabou o contrato perguntou-me se queria ir trabalhar no Seixal, com a formação, mas como eu estava a tirar o curso no norte não fui, mas ele deixou a porta do Benfica sempre aberta. 

zz: Aos poucos foi-se adaptando à realidade.

FF: Sim, essas pessoas iam ajudando e fui criando outros objetivos na minha cabeça. Mais tarde, com a ajuda do psicólogo e do psiquiatra tudo foi mudando. E tornei-me numa pessoa mais fria, não me abria com toda a gente e com esses especialistas eu falava. Ajudaram-me imenso e comecei a ver a vida de maneira diferente, a traçar novos objetivos e estou a cumpri-los quase todos.

Fábio Faria no programa Ponto Final do zerozero @zerozero

zz: E vai ultrapassá-los, com toda a certeza. Quem merece o seu maior agradecimento?

FF: Toda a gente que passou pela minha vida até hoje, mas sobretudo os meus pais, que foram as pessoas mais importantes para mim, desde início. A minha, que quando estive numa cama do hospital ia lá de manhã e só saía à noite, e muitas vezes não me podia ver. Nunca me vou esquecer disso. A minha mulher, que foi muito importante naqueles momentos em que estive de depressão: estava chato, rabugento... Era difícil para ela, porque tira de arranjar forças para tratar de mim e eu, muitas vezes, não queria que ela estivesse ao meu lado, mas ela nunca saiu de lá. Nos dias de hoje sou casado e estou muito feliz. Além dos meus amigos, desde sempre, não aqueles que eu pensei que fossem meus amigos, mas desapareceram.

zz: Só falta mesmo o seu 11.

FF: Vamos a isso... O guarda-redes vou colocar o Mora. Passou no Rio Ave, foi muito importante para mim, era meu vizinho, não conduzia, mas eu levava-o muitas vezes para o treino e tínhamos uma relação muito boa. Ele agora vive em Barcelona e não estamos tantas vezes juntos, mas foi uma pessoa muito importante. Fazia grandes paellas em casa e foi com ele que comecei a gostar de paella. A lateral direito vou colocar o Miguel Lopes: jogou comigo no Rio Ave e foi um jogador que na altura em que veio para o Rio Ave passamos muito tempo juntos. Também podia colocar o Sílvio, porque também foi muito importante na minha vida. A central vou colocar o Luisão... Um capitão exemplar. Apesar de sermos da mesma posição, tínhamos uma ligação muito boa. O outro vai ser o Gaspar, que foi fundamental no meu ano de afirmação no Rio Ave. Ele jogou os jogos todos, porque me obrigava a ir atrás dos adversários e a fazer falta. A oito jogos do final, recordo-me dele estar com quatro amarelos e me dizer: Miúdo... Vou fazer os jogos todos. Era incrível, deixava passar, para eu ir atrás e era eu quem levava o amarelo. A lateral esquerdo coloco o Fábio Coentrão Coentrão. Ainda hoje é dos meus melhores amigos, é meu parceiro a jogar Padel, uma pessoa muito importante para mim e com uma carreira que fala por si. No meio campo vou colocar Javi García... Um 6 com uma qualidade brutal, meu companheiro de cacifo ao lado, no Benfica. Pablo Aimar... Foi o melhor jogador com quem joguei. Não há palavras para descrever a qualidade que ele tinha. No início ele é uma pessoa muito fechada... Devo ter falado com ele a primeira vez passados três meses. Mas ele gostava de mim, pois eu era brincalhão e tinha um bom passe. Ele gostava de passes tensos e sabia fazer bem isso. A meio da época elogiava esses passes. A jogar ao meiinho eu ficava no meio deles e se ele foi uma vez foi muito. Tinha uma qualidade fora do normal. No meio campo acrescento o Axel Witsel. Apanhei-o na pré-época, da minha idade...

zz: Agora é central.

FF: Mesmo, como o mundo é pequeno. Foi um dos melhores jogadores com que joguei. A extremo direito vou colocar o Bruno Gama. Foi meu colega no Rio Ave, grande qualidade e podia ter feito uma carreira ainda melhor com a qualidade que ele tem. Ele veio para o Rio Ave com um estatuto muito grande. Tinha 22 anos, mas já ganhava mais que nós todos. Fazia a diferença. Na frente vou colocar o Óscar Cardozo. Nunca vi um jogador com uma capacidade de finalização de pé esquerdo como ele. Tanto de cabeça, como de pé esquerdo, ele era impressionante. Ficava chateado comigo nos treinos, porque eu não o deixava fazer golos. Foi um prazer ter jogado com ele. Na esquerda vou colocar o Nico Gaitán Chegámos no mesmo ano, tivemos boa relação, fazíamos parceria nos treinos, porque nos jogos eu não jogava, mas uma qualidade acima da média.

Fábio Faria esteve no zerozero a gravar o programa Ponto Final @zerozero


Disponível em: zerozero

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