Com 101 anos de história, o centenário Amarante FC, do distrito do Porto, estava «preso» no Campeonato de Portugal há já 10 anos, desde 2013/14. Tudo mudou com a contratação de Renato Coimbra, um «filho da Terra», que devolveu a esperança e, em duas épocas, conseguiu a histórica e tão desejada subida de divisão, neste caso para a Liga 3.
Na sua época de estreia no Campeonato de Portugal, o técnico natural precisamente de Amarante já tinha ficado às portas do sucesso, conduzindo a equipa ao 3º lugar na fase de apuramento de campeão da prova, mas a estrutura manteve a confiança e, um ano depois, veio a história, com a subida e o título de campeão em pleno Jamor, contra o eterno Vitória FC (0-3).
Por isso mesmo, Renato Coimbra mereceu o prémio de Treinador do Ano do Campeonato de Portugal, atribuído pela página Campeonato das Oportunidades, em parceria com o zerozero, e esteve à conversa com o nosso portal, onde abordou a sua carreira, as últimas duas épocas e a mudança que fez para a próxima época.
@Amarante FC
«O Amarante é o clube da minha cidade, o meu clube»
Zerozero (ZZ): O Renato iniciou a sua carreira de treinador com apenas 29 anos, como adjunto. O que leva alguém a começar tão cedo?
Renato Coimbra (RC): Na altura fui convidado pelo meu atual adjunto para ser adjunto dele. Ele assumiu o Mondim, eu era o capitão de equipa do Mondim e ele achou que eu tinha alguma capacidade para isto. Ele estava nos cursos de treinador da Associação de Vila Real e inscreveu-me. Insistiu e entrei no nível 1. Praticamente ele foi quem me inscreveu e eu só paguei. Queria que pertence à equipa dele e tinha que ter, pelo menos, o nível 1. Foi ele que me meteu o bichinho. Estivemos em Mondim dois anos e meio, ele foi para Vila Real e eu achei que não o devia acompanhar. Senti que não tinha a devida motivação. Vim para a minha freguesia jogar com os meus amigos e comecei a treinar lá. Fomos campeões no futebol popular. Entretanto, o Vila Caiz convidou-me, os jogadores praticamente não ganhavam, era só os prémios. Subimos no primeiro ano e, a partir daí, o bichinho começou a aparecer. Nunca defini que queria ser treinador.
ZZ: Foi quase um acaso?
Começou a treinar em 2009 @Amarante FC
ZZ: Foram largos anos a treinar nas divisões nacionais inferiores. Passou pelo Modinense, Padronelo, Vila Caiz, Baião, Alpendorada e finalmente o Amarante. É difícil manter a motivação para treinar nestes escalões? As dificuldades costumam ser muitas
RC: Estamos naquele ambiente por gostarmos e nos identificarmos, pela paixão pelo futebol e não pela ambição. Sem nos apercebermos, conseguimos ser mais felizes nesse contexto. Há menos maldade. Treinamos às 22h sem luz suficiente, com défice de material e estamos ali pelo convívio. É a paixão pelo futebol.
ZZ: Chega ao Amarante na época passada. Que clube encontrou?
70 Jogos 103 GolosRenato Coimbra
Amarante FC
Total
40 Vitórias
21 Empates
9 Derrotas
52 Golos sofridos
ZZ: A época passada já tinha comandado o Amarante ao 3º lugar na fase de subida. Este ano não morreram na praia e conseguiram esta subida histórica, além de terem chegado aos «oitavos» da Taça. Como foi a época, para si, a nível pessoal e coletivo?
RC: Já na época passada tínhamos feito uma excelente época, com um treinador novo, que nunca tinha treinado no Campeonato de Portugal e uma equipa que não conhecia bem. A 15 minutos do fim estávamos na Liga 3, mas não conseguimos segurar o resultado e não subimos de divisão. Mas acho que foram criados os alicerces para, no ano a seguir, as coisas acontecerem. Havia um conhecimento maior, conseguimos assinar com jogadores que se identificavam mais com as nossas ideias, tentámos ser mais criteriosos e os jogadores já olhavam para nós de forma diferente, por termos quase subido. O presidente mudou, mas as pessoas mais importantes da direção mantiveram-se, nomeadamente as que estavam à frente do futebol. A continuidade do trabalho ajudou. Os resultados do 1º ano fizeram-nos acreditar que estávamos no caminho certo. Os jogadores ligaram-se muito ao clube, equipa técnica e adeptos. Houve uma simbiose, uma ligação muito forte entre todos. Construímos uma família muito forte e as coisas aconteceram.
@Amarante FC
«Foi o momento mais alto da história do Amarante, um clube com 101 anos»
ZZ: Que tal foi jogar no mítico Estádio nacional, do Jamor, com uma moldura humana de fazer inveja a muitos clubes?
RC: Foi um dia especial, diferente. Muito cedo apontámos como um dos objetivos chegar ao Jamor, não sendo o principal. É um sentimento indiscritível. Subir aquelas escadas, estar naquele estádio, com mais de 10 mil pessoas – o jogo do Campeonato de Portugal com mais assistência da história – é uma envolvência diferente. A cidade mobilizou-se. Estávamos a cerca de 400 kms, mas a cidade mobilizou-se e acompanhou-nos. Foi um dia memorável. Também com o adversário que foi, porque o Vitória FC, de Setúbal, é uma equipa com muita história, sabíamos que haveria muita gente deles. É uma equipa com três Taças de Portugal. Deu à final um simbolismo diferente. Só quem lá está e passa por isso, sabe o que sentiu. Senti a nossa direção muito emocionada, por ver lá o nosso Amarante, assim como eu, que sou o único da equipa técnica da cidade. Foi o momento mais alto da história do Amarante, um clube com 101 anos. Vai ficar na memória de todos.
ZZ: Acaba por sair para o Lourosa. A que se deveu a saída? Estava em cima da mesa continuar em 24/25?
qTive possibilidades de ir para a Segunda Liga, mas achei que não devia ir Renato Coimbra
RC: Tive possibilidades de ir para a Segunda Liga, mas achei que não devia ir. Senti que para mim era melhor o Lourosa. O Amarante queria que eu continuasse e era uma hipótese em cima da mesa, mas após analisar as minhas opções, senti que estava a dar mais um passo em frente na minha carreira.
ZZ: Por fim, sendo um treinador ainda com muitos anos pela frente, que objetivos tem para o futuro?
RC: Não tenho nada definido para o futuro. Quero continuar a evoluir, como Homem, primeiro, e depois como treinador. Tentar fazer a melhor carreira, com uma grande ambição de alcançar os objetivos que me são propostos. Nunca fiz muitos cenários de futuro. Tento focar-me no presente. Sei que se fizer as coisas e a sorte e os resultados me acompanharem, terei um melhor futuro no futebol. Não me iludo, nem meto metas para o futuro.