ENTREVISTA | Renato Coimbra, treinador do ano do CP: «Foi o momento mais alto da história do Amarante»

3 meses atrás 65

Com 101 anos de história, o centenário Amarante FC, do distrito do Porto, estava «preso» no Campeonato de Portugal há já 10 anos, desde 2013/14. Tudo mudou com a contratação de Renato Coimbra, um «filho da Terra», que devolveu a esperança e, em duas épocas, conseguiu a histórica e tão desejada subida de divisão, neste caso para a Liga 3.

Na sua época de estreia no Campeonato de Portugal, o técnico natural precisamente de Amarante já tinha ficado às portas do sucesso, conduzindo a equipa ao 3º lugar na fase de apuramento de campeão da prova, mas a estrutura manteve a confiança e, um ano depois, veio a história, com a subida e o título de campeão em pleno Jamor, contra o eterno Vitória FC (0-3).

Por isso mesmo, Renato Coimbra mereceu o prémio de Treinador do Ano do Campeonato de Portugal, atribuído pela página Campeonato das Oportunidades, em parceria com o zerozero, e esteve à conversa com o nosso portal, onde abordou a sua carreira, as últimas duas épocas e a mudança que fez para a próxima época.

@Amarante FC

«O Amarante é o clube da minha cidade, o meu clube»

Zerozero (ZZ): O Renato iniciou a sua carreira de treinador com apenas 29 anos, como adjunto. O que leva alguém a começar tão cedo?

Renato Coimbra (RC): Na altura fui convidado pelo meu atual adjunto para ser adjunto dele. Ele assumiu o Mondim, eu era o capitão de equipa do Mondim e ele achou que eu tinha alguma capacidade para isto. Ele estava nos cursos de treinador da Associação de Vila Real e inscreveu-me. Insistiu e entrei no nível 1. Praticamente ele foi quem me inscreveu e eu só paguei. Queria que pertence à equipa dele e tinha que ter, pelo menos, o nível 1. Foi ele que me meteu o bichinho. Estivemos em Mondim dois anos e meio, ele foi para Vila Real e eu achei que não o devia acompanhar. Senti que não tinha a devida motivação. Vim para a minha freguesia jogar com os meus amigos e comecei a treinar lá. Fomos campeões no futebol popular. Entretanto, o Vila Caiz convidou-me, os jogadores praticamente não ganhavam, era só os prémios. Subimos no primeiro ano e, a partir daí, o bichinho começou a aparecer. Nunca defini que queria ser treinador.

ZZ: Foi quase um acaso?

Começou a treinar em 2009 @Amarante FC

RC: Foi um acaso e foi melhor assim, porque nunca sofri muito com a motivação de querer ser treinador. Nos últimos anos tem sido diferente, mas nos primeiros anos foi apenas por gosto, para me entreter, até porque quase não era remunerado. Era por paixão. Nos últimos 4/5 anos começou a ser com mais ambição. Cresceu à medida que a exigência subiu.

ZZ: Foram largos anos a treinar nas divisões nacionais inferiores. Passou pelo Modinense, Padronelo, Vila Caiz, Baião, Alpendorada e finalmente o Amarante. É difícil manter a motivação para treinar nestes escalões? As dificuldades costumam ser muitas

RC: Estamos naquele ambiente por gostarmos e nos identificarmos, pela paixão pelo futebol e não pela ambição. Sem nos apercebermos, conseguimos ser mais felizes nesse contexto. Há menos maldade. Treinamos às 22h sem luz suficiente, com défice de material e estamos ali pelo convívio. É a paixão pelo futebol.

ZZ: Chega ao Amarante na época passada. Que clube encontrou?

Renato Coimbra
Amarante FC
Total

70 Jogos
40 Vitórias
21 Empates
9 Derrotas

103 Golos
52 Golos sofridos

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RC: O Amarante é o clube da minha cidade, o meu clube, onde fiz formação. Tinha a vantagem de eu o conhecer bem, conhecer bem a estrutura física e diretiva, os adeptos, alguns jogadores de ver jogar. Conhecia a cidade e sabia do potencial que o clube tinha, por viver lá. Sabia o que ia encontrar. Tive a felicidade de entrar com pessoas que confiavam em mim e me deram todas as condições. O Amarante tem todas as condições para estar na Liga 3 ou Segunda Liga. Acreditando em mim, achava que podia fazer um bom trabalho. Achava que a relação entre clube e cidade estava um pouco adormecidas e considero que a minha vitória enquanto lá estive foi voltar a juntar as duas partes. Sentia que o Amarante era um gigante adormecido. Criámos uma ambição, dinâmica e amor ao clube fortes e muito grandes, porque todos os que ali trabalhavam tinham essa paixão pelo clube. Isso fez com que tudo fosse possível.

ZZ: A época passada já tinha comandado o Amarante ao 3º lugar na fase de subida. Este ano não morreram na praia e conseguiram esta subida histórica, além de terem chegado aos «oitavos» da Taça. Como foi a época, para si, a nível pessoal e coletivo?

RC: Já na época passada tínhamos feito uma excelente época, com um treinador novo, que nunca tinha treinado no Campeonato de Portugal e uma equipa que não conhecia bem. A 15 minutos do fim estávamos na Liga 3, mas não conseguimos segurar o resultado e não subimos de divisão. Mas acho que foram criados os alicerces para, no ano a seguir, as coisas acontecerem. Havia um conhecimento maior, conseguimos assinar com jogadores que se identificavam mais com as nossas ideias, tentámos ser mais criteriosos e os jogadores já olhavam para nós de forma diferente, por termos quase subido. O presidente mudou, mas as pessoas mais importantes da direção mantiveram-se, nomeadamente as que estavam à frente do futebol. A continuidade do trabalho ajudou. Os resultados do 1º ano fizeram-nos acreditar que estávamos no caminho certo. Os jogadores ligaram-se muito ao clube, equipa técnica e adeptos. Houve uma simbiose, uma ligação muito forte entre todos. Construímos uma família muito forte e as coisas aconteceram.

@Amarante FC

«Foi o momento mais alto da história do Amarante, um clube com 101 anos»

ZZ: Que tal foi jogar no mítico Estádio nacional, do Jamor, com uma moldura humana de fazer inveja a muitos clubes?

RC: Foi um dia especial, diferente. Muito cedo apontámos como um dos objetivos chegar ao Jamor, não sendo o principal. É um sentimento indiscritível. Subir aquelas escadas, estar naquele estádio, com mais de 10 mil pessoas – o jogo do Campeonato de Portugal com mais assistência da história – é uma envolvência diferente. A cidade mobilizou-se. Estávamos a cerca de 400 kms, mas a cidade mobilizou-se e acompanhou-nos. Foi um dia memorável. Também com o adversário que foi, porque o Vitória FC, de Setúbal, é uma equipa com muita história, sabíamos que haveria muita gente deles. É uma equipa com três Taças de Portugal. Deu à final um simbolismo diferente. Só quem lá está e passa por isso, sabe o que sentiu. Senti a nossa direção muito emocionada, por ver lá o nosso Amarante, assim como eu, que sou o único da equipa técnica da cidade. Foi o momento mais alto da história do Amarante, um clube com 101 anos. Vai ficar na memória de todos.

ZZ: Acaba por sair para o Lourosa. A que se deveu a saída? Estava em cima da mesa continuar em 24/25?

qTive possibilidades de ir para a Segunda Liga, mas achei que não devia ir

Renato Coimbra

RC: Tive possibilidades de ir para a Segunda Liga, mas achei que não devia ir. Senti que para mim era melhor o Lourosa. O Amarante queria que eu continuasse e era uma hipótese em cima da mesa, mas após analisar as minhas opções, senti que estava a dar mais um passo em frente na minha carreira.

ZZ: Por fim, sendo um treinador ainda com muitos anos pela frente, que objetivos tem para o futuro?

RC: Não tenho nada definido para o futuro. Quero continuar a evoluir, como Homem, primeiro, e depois como treinador. Tentar fazer a melhor carreira, com uma grande ambição de alcançar os objetivos que me são propostos. Nunca fiz muitos cenários de futuro. Tento focar-me no presente. Sei que se fizer as coisas e a sorte e os resultados me acompanharem, terei um melhor futuro no futebol. Não me iludo, nem meto metas para o futuro.

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